A caminho do Ilha da Gigoia eu encontro o Canto Alegre, uma casa portuguesa que me faz feliz

O polvo é uma das especialidades dessa casa portuguesa, com certeza – Foto de Bruno Agostini©

O restaurante Canto Alegre nasceu na Barrinha quando só tinha mato ali.

Foi em 1968, quando a família Antunes se instalou numa barraca, como fizeram outros comerciantes locais, assim que chagaram aqui.

Era o casal natural de Viseu, Maria Preciosa (mais conhecida como Tia Maria) e Ernesto Antunes. Trouxeram seus filhos ainda bebês: José Antônio e Maria de Fátima.

Serviam petiscos brasileiros.

Depois, a prefeitura organizou um pouco o local, e eles ficaram com um pequeno box, tipo esses que existem em feiras e mercados Brasil afora. Era um espaço miudinho mesmo.  Moravam nos fundos. (No endereço oficial ainda consta: Boxes 8 e 9).

Desconfio que eu já estive lá. Até tenho vaga lembrança do lugar. E, de família portuguesa que sou, estou quase certo que meu avô Mario me levou lá. Adorava restaurantes portugueses, e íamos muito neles. Inclusive porque meu avô foi morar na Barra ainda no fim dos anos 1970, em Nova Ipanema (e ainda não havia quase nada por lá, era tudo mato). Imagine em 1968…

Assim nasceu o Canto Alegre, cujo nome é bem apropriado, porque faz a gente feliz. Comida boa é pura alegria. E este é um recanto onde podemos petiscar à brasileira ou à moda portuguesa mais legítima.

A piementa da casa, o Guigas branco, o azeite, o Afonso e seus bolinhos de bacalhau – Foto de Bruno Agostini©

Hoje trabalham três gerações da família: Tia Maria ainda vai aos fins de semana, mas a operação do dia-a-dia fica com seu filho, Toninho, e neto, Afonso Antunes, chef com formação profissional, que passou por lugares como o Cipriani (só isso) antes de assumir o restaurante da família.

– Aprendi muito mesmo com o Nello Cassese e sua equipe. Muita técnica, muito cuidado com tudo. O mise-en-place lá é uma loucura! – lembra Afonso.

Bolinhos de bacalhau e casquinha de siri dividem as preferências para as entradas. Foi o que provei. E aprovei.

Rememorando o início de tudo, tem espetinhos de salsichão e de carne ou frango. Ovas de peixe na brasa… Frango à passarinho. Pastel de camarão com catupiry, casquinha de caranguejo.

Sopa Leão Veloso, caldo verde, sopa de siri…

Bacalhau reina entre os principais. Voltarei para provar o lagareiro muito em breve.

Mas também tem leitão de vez em quando.

Tem feijoada e braseiro, para melhorar alguns preparos, como as carnes (churrasqueiraé um luxo para um restaurante). Tem pizzas etc, um restaurante que podemos classificar como variado. Mas é, com certeza, uma casa portuguesa. Uma casa portuguesa, com certeza.

Famosos são os pratos com peixes e frutos do mar dali. A anchova na brasa é muito elogiada. O linguado, idem. As caldeiradas e moquecas também. Bobó de camarão não poderia faltar. Muito menos arroz de polvo com brócolis. E as sardinhas, Jesus? Na brasa, e servidas com batatas cozidas, cebolas cruas e azeitonas portuguesas…

Quero tudo!

Eu comi um polvo ao alho, que é na verdade uma farta entrada. Tem pimenta da casa da boa, que arde mesmo. E azeites de qualidade sobre a mesa. Vem muito alho tostadinho na medida certa. Joguei pimenta e azeite, passei a colher na travessa para ter ainda mais alho no prato. Felicidade para mim é isso.

É um lugar tão português, mas ao mesmo tempo tão carioca e brasileiro. Faz sentido…

O lugar cresceu bastante ao longo do tempo. Para os lados, para a frente e para trás.

O que importa é o caminho, e chegar na Gigoia é uma delícia – Foto de Bruno Agostini©

A Barra, então, nem se fala. Abraçou o restaurante. Hoje eu também abraço. É meu também. Virei vizinho ao menos até dezembro. Vou ficar na Ilha da Gigoia, porque acho que vai ser bom escrever um livro num lugar como aquele, que ao mesmo tempo fica ao lado do metrô, com direito a passeio de barquinho na ida e na volta. Garças e capivaras pelo caminho. Mergulhadores praticando caça submarina. A Pedra da Gávea monumental com sua rocha exposta e seu verde vasto.

Há muitas garças e outras aves aquáticas por lá – Foto de Bruno Agostini©

Tudo isso a poucos passos do Canto Alegre.

Do Cícero. Do Laguna. Do Um Gastronomia. Do Bar do Oswaldo. Do Concha Doce. Do Quebra-Mar, e da peixaria dali, que faz sushi.

Eu, a trilha frita, o figuraça do Cícero e o Guigas, numa linda tarde de outono – Foto Guilherme Meireles / Arquivo pessoal©

E também do Mocellin Steak. E até do querido Brewteco. E dos tantos bairros ali do Jardim Oceânico.

Oriente-se na simpática Ilha da Gigoia – Foto de Bruno Agostini©

Nunca morei na Barra em 45 anos de praia. Estou gostando da ideia.

Sexta eu começo.

SERVIÇO
Canto Alegre: Praça Desembargador Araújo Jorge, Boces 8 e 9, Largo da Barrinha. Barra da Tijuca. www.restaurantecantoalegre.com Informações e entregas no 2494-0825 ou 99063-8403 (também Rappi e iFood). Instagram: @restaurantecantoalegre

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