Em setembro do ano passado, a Sálua Bueno me contou a ainda distante novidade.
– Eu me juntei à Gabi Teixeira e à Monique Gabiatti para abrirmos um bar de vinhos. Vai ser descontraído, com comida e ambiente despojados. Vai ser na Arnaldo Quintela – contou a empresária, à frente da Amélie Creperie e do Juliette Bistrô, dupla francófila que abre as portas lado a lado, em breve, em Niterói.
Só podia mesmo ser em Botafogo o endereço deste trio, que reúne admiradas cozinheira, sommelière e restauratrice.
– Queríamos trabalhar também só com mulheres, mas ainda não é possível, na cozinha precisamos colocar homens – diz Gabi, com quem dividia a mesinha baixa e o sofá nos fundos do restaurante, junto à parede que apresenta alguns vinhos de destaque na carta e com vista para Monique Gabiatti finaliza seus “beliscos”.
De frente para a boqueta da cozinha, dali podemos até conversar com a chef, mas ela está mesmo focada em sua comida, que vem ganhando cada vez mais destaque, preparando pratos bonitos, retrabalhando receitas clássicas e tradicionais com sua assinatura.
No típico prato de servir escargots, onde planeja montar suas lambretas “Com muita manteiga, alho e salsinha, como fazem com os escargots” – revela Monique, que no momento serve cogumelos com queijo derretido e provoleta, nos buraquinhos desta bonita louça, que mantém a temperatura.
– Você acredita que estamos abertas sem gás e sem previsão exata de quando vai ter? Só nas fritadeiras, fornos elétricos, essas coisas. Nem podemos sobrecarregar nossa rede, porque não suporta – reclama Sálua.
Fiel ao que se propõe desde a fase de concepção, o Belisco não parece viver essas dificuldades, porque nem reparamos nisso.
Julgando a comida, o gás não faz a menor falta. A energia está com o trio de amigas e sócias.
Fiel ao que se propõe, como dizia, significa ser um lugar despojado, que até parece não ter grandes pretensões. Mas, não se engane. A carta de vinhos é dessas que fazem a gente voltar. Seja para provar aquele tinto romeno que aguça a curiosidade, seja para brindar com alguma garrafa bem escolhida pela Gabi, que sabe garimpar belos vinhos de seu portfólio.
Assim como uma garrafa de bom vinho, a comida da Monique é para se compartilhar. O que significa dizer que ir em grupos de três ou quatro é ideal para percorrer com calma o menu, provando um pouco de tudo, entre petiscos e vinhos – a seleção é excelente, com focos em pequenas vinícolas e naturais (muito bem escolhidos: em breve eu falo mais do assunto ali, que merece post à parte).
Poderia ter ficado triste, porque ontem não tinha o já aclamado pastel de polvo. Mas a massa artesanal de uma feirante acabou.
– Isso não pode acontecer, vamos comprar mais quantidade – chegam as três à conclusão.
Não fiquei triste porque ganhei um motivo para voltar em breve.
Já tinha outros, desses que tornam inevitável o retorno o quanto antes: atende pelo nome de steak tartare, é servido sobre brioche da Fabro, e tem aquele tempero preciso, com acidez e pimenta bem dosados, coroado por gema levemente curada, ovas e grana padano, ralado em em forma de fonduta – lisinha, cremosa e irresistível, de lamber o prato, ou limpar com o pão, e quem sabe passar o dedo.
Ainda pedimos uma berinjela no missô, com straciatella feita na casa. Itália e Ásia em comunhão. Realmente incrível.
A sobremesa é covardia: rabanada de brioche da Fabro, ela mesma, com doce de leite, flor de sal e crème anglaise. Sublime, é pouco.
Um sonho.
Me belisca?
SERVIÇO
Belisco: Rua Arnaldo Quintella 93, Botafogo. Instagram: @belisco.rj
Belisco: Rua Arnaldo Quintella 93, Botafogo. Instagram: @belisco.rj