De Bar em Bar: Pelos balcões que andei… e hei de andar

Novidade desenvolvida pelo Herr Pfeffer com o Alemão da Serra: cinco camadas de sabores, cores e texturas – Foto de Bruno Agostini

O bar é um lugar onde gosto de estar. O bar é um pouco lar.

Diferente do restaurante, aonde vamos para comer, o bar é o local do encontro, da aglomeração. Todo mundo tem um bar preferido, onde nos sentimos em casa, onde somos amigos dos garçons, onde já zeramos o menu, onde sempre encontramos conhecidos – ou fazemos novos amigos.

O excelente mignon à milanesa do Nando, do meu amigo Alexandre Luz – Foto de Bruno Agostini

Fiquei quase seis meses sem ir a um. De meados de março até agosto. Foi das poucas vezes em que saí de casa no confinado período. Compras eu pedia em casa, em grandes lotes, para interagir pouco. Este dia foi de um alívio e uma felicidade raras. Fui até o bar de um amigo, Nando Comida Descolada, a uns dez minutos de casa, no Alto, em Teresópolis, onde tenho vivido a cuidar da casa e das plantas, a cozinhar e pensar na vida, fazer planos para o durante e pós-pandemia. Cheguei umas 11h30 e me acomodei no balcão, de pé. Adoro ficar no balcão, e muitas vezes gosto mais ainda se for de pé, como geralmente faço em bares e botequins. Mas nunca havia passado dez horas debruçado no bar, papeando com antigos e novos amigos, com os devidos cuidados, é claro: álcool, distanciamento etc. Foi uma catarse ao sabor de IPAs e de um milanesa com salada de batatas que eu adoro, e que foi tema deste vídeo aqui: link.

Ficar seis meses longe de um bar…

Frigideira de frutos do mar do Boteco Rainha vistosa – Foto de Bruno Agostini

Foi tempo de rememorar alguns que já fui: do preferido e amado alemão Herr Pfeffer ao novato Boteco Rainha, ambos no Leblon e sensacionais (sobre os quais já escrevi aqui, aqui e aqui). E também do Brewteco, que abriu nova filial no finzinho de 2020, uma das grandes novidades do ano a meu ver (para ver um post sobre o assunto, clique aqui).

Pisco sour na chifa Cantón, inaugurada em janeiro em Copacabana: bienvenidos, muchachos! – Foto de Bruno Agostini

Lembrei hoje do Cantón, aberto em janeiro, em Copacabana, dedicado à cozinha chifa, vertente chinesa na gastronomia peruana, escola culinária que eu adoro (em breve falo aqui do meu ótimo almoço por lá). Bebi uns piscos no balcão, excelentes, e este foi o último lugar que visitei antes de me trancar em casa de novo. (O lugar, aliás, está lindo, bem kitsch, totalmente Chinatown, com luzes fortes, paredes descascadas, luminárias pendentes, tudo rústico e chamativo, como a comida).

I Fratellini: o bar foi inaugurado em 1875 e vive lotado (mas com essa capacidade….) – Foto de Bruno Agostini

Fui lembrando de tantos, das viagens, desde o miúdo Il Fratellini, em Veneza, ao escondido Angel’s Share, em Nova York, ou o Dead Rabbit, também em Manhattan, que acabava de ganhar mais uma vez o prêmio de melhor bar do mundo (era março de 2017). Os drinques no elegante bar do hotel Negresco, em Nice, também não saem da memória. E tantos botecos e botequins, armazéns e empórios sem fama, mas acolhedores e saborosos como deve ser um bom bar, mesmo os ruins, os mais ordinários. Se tiver uma cerveja gelada, um balcão e gente local para conversar já basta para ser um bom bar, mesmo com comida ruim e banheiro sujo.

O bar da Chimay: ainda hei de beber por lá, e comer os queijos famosos da cervejaria trapista belga – Foto de divulgação

Entre as lembranças também nascem planos: um roteiro cervejeiro pela Bélgica, um circuito pelos pubs de Dublin, com pints, folk music e fish ‘n’ chips. E outro pelos bares e restaurantes do País Basco. Uns dias em São Paulo, para me atualizar, e outros em Belo Horizonte, para mergulhar na cultura botequeira local. Sonhar não custa: quem sabe não dá para fazer em breve uma volta ao mundo para compensar esse período tão triste e isolado? Seis meses na Ásia? 90 dias certamente que eu topo, aliás, sonho com isso há uns dois anos. E, depois, transformar isso tudo em reportagens, em posts com dicas legais, em vídeos e muitas fotos. Quem sabe fazer um livro, ou mais?

Carpaccio e Bellini no histórico Harry’s Bar, onde foram criados – Reprodução do site

Fora a cada vez maior lista de bares ao redor do mundo. Lembro do Mad Dwarf, em Joinville, com suas sours fantásticas on tap; do bar do Harry’s Bar, em Veneza, fetiche antigo deste jornalista (sei que vai me custar um fígado provar o Carpaccio e o Bellini); o Connaught, em Londres, mera desculpa para voltar a esta cidade que adoro; a Florería Atlántico, em Buenos Aires, outra mera desculpa para voltar a esta cidade que adoro… São tantos… Estudar fora entre eles.

Foto de Bruno Agostini

Aí vem à memória de um texto que escrevi não faz muito tempo, mas acho que não publiquei (acontece muito). Dizia mais ou menos assim: “Antes eu viajava para visitar uma país, uma região e mesmo uma cidade. Ultimamente eu preferido me dedicar a um bairro, uma rua, ou a roteiros bem específicos, envolvendo comidas e bebidas, claro. Vai chegar o dia em que pretendo viajar para visitar um bar ou restaurante, apenas um. O resto que volta na bagagem é consequência.”

Vamos “garfar” o mundo!

 

 

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