No mês passado estava fazendo uma reportagem sobre sardinha para a Revista Rio Já. (Para ler, clique aqui).
Existem muitas reportagens que podem ser feitas remotamente, através de pesquisas e telefonemas. As de comida, não. É preciso ir, provar, sentir, observar.
Tirei o dia para isso. Foi um dia de confirmar quais eram as melhores sardinhas do Rio.
Comecei pelo Centro, onde desaguei naquele final de manhã. Triste andar pela região esvaziada ainda pela durante a pandemia. Mas há os brabos!
O Lúcio Vieira é um desses, e ancorar no balcão do Labuta Bar é sempre bom. Ainda mais na temporada de sardinha, que está perto do fim – e também no seu auge, com a carne mais gorda e saborosa, mais rica e vermelha, mais fresca e barata.
Aproveite enquanto não chega o defeso: ele começa no dia primeiro de outubro, e a pesca da sardinha fica proibida, até o dia 28 de fevereiro de 2024.
Não custa reforçar que nesta época ela está no seu auge de sabor.
E de textura, porque não?
No Labuta é assim, o que explica essa ser – para mim – a melhor sardinha frita da cidade. A sardinha gorda vem espalmada. Empanada na farinha panko, ela é frita à perfeição, de modo que cria uma camada crocante, se desprende da carne, que está no ponto mais do que exato. Fica – acreditem! – suculenta, o que é raro em se tratando de sardinha frita.
Joga pimenta da casa e um pouco de limão, que a farra melhora. Aplacada pela cerveja de garrafão de 600 ml. Mas, que petisco.
De lá, zarpei em direção ao Venga, com suas especialidades espanholas.
Meu arpão estava direcionado ao balcão. Lá encontramos os boquerones en vinagre, tapa clássica encontrado em todo o país. Ops… Não, é a nossa sardinha, preparada no molho ácido, que faz um efeito incrível, curando ligeiramente a carne, e lhe dando profundo sabor, e mudando a sua estrutura, a textura, que fica incrível. Mas, incrível mesmo é o cuidado da Maria Eduarda, que prepara o peixe, tirando-lhe todas as espinhas, com paciência e pinça. O resultado é a melhor sardinha curada do Rio – não tem pra ninguém, nem rollmops – este clássico de nossas vitrines refrigeradas. Ela é finalizada com azeite, gominhos de limão taiti e lâminas de alho cru. Peça um Fino ou Manzanilla para acompanhar, e se tiver o delicioso Sánchez Romate Viva La Pepa, tanto melhor (tenho dado esta sorte!).
Por fim, apontei as minhas velas ao sabor do vento, navegando em direção ao Leblon pelo mar da Visconde de Pirajá.
Meu leme tinha rumo certo: o remanso que é o balcão do Mitsubá, onde facilmente fisgamos alguns dos melhores bocados com pescados não desta cidade, mas deste senhor país.
Ainda mais quando o mestre Nakahara está por lá, com sua arte talhada nas facas afiadas há décadas, e as suas mãos habilidosas, que montam nigiris, sashimis e outras delicadezas comestíveis.
Ele, depois de fazer movimentos de samurai para tirar as espinhas do peixe, ali, rapidamente, com um ninja, ele serve uma pequena porção de sashimi de sardinha. Debruça-a sobre uma folha de shisô, que recomendo comer de vez em quando. Salpica cebolinha e gengibre. Quem quiser, usa shoyu e/ou wasabi. Porque nem precisa.
“Mas, e a sardinha do Oteque, com brioche e foie gras?”
Elementar, meu caro leitor: é hors-concours…