OMK 2022.04, o Omakasê do Irajá: minha noite de rei no Leblon

O caviar e o porco: digno de xá – Foto de Bruno Agostini®

É difícil ser humilde ou pensar em simplicidade quando você se sente um rei.
No caso, da Pérsia.
Só os antigos monarcas do atual Irã podiam se dar ao luxo de apreciá-las.
Mas, ontem foi meu dia de botar a coroa.
Era uma generosa colher de caviar Beluga Persian Majestic, sua alteza escura, salgada e cremosa. As ovas de esturjão.
Sem sorte, ninguém se senta no trono.

Meu nobre assento foi numa mesa próxima da cozinha do Irajá. E a riqueza da noite de ontem se deu, quem sabe, porque tive um jantar adiado, da semana passada para esta.
Na terça o Irajá foi o restaurante escolhido no Rio para o lançamento desta marca de caviar iraniano, criação de cativeiro, e agora liberada para exportação, me informaram. Sobrou para mim. Que bom.
Blinis de baroa, tartare de wagyu, gema e trufas: torre dos prazeres carnais – Foto de Bruno Agostini®
O percurso estava sendo generoso. Chamado de OMK 2022.04, é o Omakasê do Irajá, o menu que o chef vai fazendo no dia-a-dia, apurando as receitas, aproveitando os ingredientes que chegam, fazendo testes, irreverências e brincadeiras. Deu muito certo ontem. Um luxo digno de reis.
Houve trufas negras da Úmbria coroando o tartare de wagyu, que estava acomodado no blinis de baroa.
Um dos destaques da noite: purê de couve-flor, mariscos em rico caldo – Foto de Bruno Agostini®
Um purê de couve-flor cremoso e amanteigado, no melhor estilo Robuchon, dividiu um prato em comunhão com um caldo com mexilhões desses de não esquecer, assim como o límpido, e muito intenso em sabor, caldo de “escabeche coado” (com pedaço de rosado atum).
Julieta brilhava como sempre no serviço de vinhos, deixando os pratos e as bebidas se conectando como se estivessem dançando ciranda de mãos dadas.
Atum, escabeche, Jerez: trio maravilha! – Foto de Bruno Agostini®
Teve Jerez Sanchez Romate, um Fino primoroso, e um saquê Hakushita.
Foie gras, caqui tostado – Foto de Bruno Agostini®
Foie gras com caqui. Com notável Cabernet Franc natural, do Loire, é claro.
Foto de Bruno Agostini®
Aí, foi aberta a latinha da iguaria do Mar Cáspio: a foto não condiz com o fato.
O sabor puro das ovas não-fertilizadas do esturjão literalmente explode na boca, quando mordemos libertando toda aquela intensa salinidade, os iodos marinhos, o sabor concentrado.
Formou um dueto com o tartare de porco. A  gordura e o sabor da carne entrou na jogada.
Em frente, numa colher de madrepérola, havia um pequeno nugget de rabo de porco, fresco.
Foi majestosamente bom.
Lembrei do Reza Pahlavi, e seus banquetes regados a khāvyār e champanhe. E rezei agradecendo em silêncio (mentira, eu falo muito).
 Eu, que estava sendo tratado melhor que o xá em seus palácios… Porque, entre outras coisas, também bebi um espumante, mas o meu, de Nebbiolo, do Enzo Boglieti, gênio do Piemonte, garimpado pela Julieta Carrizo e a importadora Mondo Rosso. Uma joia rara.
Como todo o jantar.
Parabéns e obrigado,  Artagão, Berton e equipe.
Então, nos despedimos e eu abdiquei do trono. Voltei à realidade. Saí andando pela Dias Ferreira e peguei o metrô e o rumo de casa.
Ser rei por uma noite deve ser melhor que permanentemente. Além de tudo, ninguém vai poder te derrubar.
SERVIÇO
Irajá Gastrô: Rua Dias Ferreira 233, Leblon. Tel.: 3128-6551. Instagram: @grupoiraja @irajagastro
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