Retrato de um Prato: a deliciosa Maria Bonita do restaurante Chapéu de Couro, reduto nordestino em Bonsucesso

A carne de sol à Maria Bonita é coberta com cebolas salteadas, e servida com queijo coalho, purê de aipim, feijão de corda verde, arroz e até carne seca desfiada – Foto de Bruno Agostini₢

Para além de São Cristóvão da cinquentenária e famosa “Feira dos Paraíbas”, o bairro de Bonsucesso abriga outra referência da cultura e da gastronomia nordestina, mas essa ainda é quase um segredo entre os moradores da Zona Sul e turistas. O Chapéu de Couro não chega a ser um restaurante conhecido, mas merecia. Inaugurado em 1993, sob o comando do cearense Raymundo Pereira, um desses bravos que vieram pro Sudeste em busca de emprego, serve a melhor carne-de-sol da cidade, em distintas versões. A mais famosa delas atende pelo nome de Maria Bonita, e é mesmo linda e arretada. Uma peça de alcatra é servida coberta com cebola desmaiada, como se diz, levemente salteada e amolecida, ao lado de queijo coalho grelhado na chapa e um purê de aipim de admirável cremosidade. Além de aipim e feijão de corda verde (este feito como manda a regra do Nordeste, com os grãos “al dente” e caldo ralo, com tempero de cebolinha), o prato é abrilhantado ainda com carne-seca desfiada. É mole? Peça pimenta, e seja feliz. A carne de sol aparece ainda em outras receitas, como Genival Lacerda, que nada mais é que um (muito bom) baião de dois. Quem aprecia encontra ali alguns pratos mais fortes, digamos, tipo sarapatel, buchada de bode e galinha cabidela. Quem nunca provou, é um lugar perfeito para se fazer isso. Quem não curte essas ousadias sertanejas pode escolher algo mais familiar, tipo escondidinho de carne seca e o chamado porretinha, combinação de carne-seca desfiada, abóbora (jerimum) e requeijão. O cardápio também veleja pelo litoral, ao sabor de bobó de camarão, peixe na telha, moqueca de camarão e outras baianidades, e pernambuquices, como a casquinha de siri, boa pedida para a entrada, bem como o caldinho de sururu. Para beber, temos cerveja gelada e boas caipirinhas, mas os sucos são a estrela do menu líquido, bem batidos, cremosos. Para fechar, cartola, das melhores, ambrosia, mel de engenho com queijo e doces caseiros (prove o de jaca). Na saída, ainda vale dar uma espiada na estante que exibe alguns produtos nordestinos à venda, como castanhas, pimentas, manteiga de garrafa, os tais doces caseiros e até Guaraná Jesus. Hoje tem filiais no Méier e em Jacarepaguá.

CHAPÉU DE COURO – Rua Guilherme Maxwell 437, Bonsucesso. Tel. 2290-3474. Entregas também pelo iFood (neste link).

2 commentários
  1. Olá Bruno. Eu amo carne de sol, mas nunca pediria esta. É um festival de carboidratos, e além disso não é assim que os sertanejo a come. Eu de minha parte gosto mesmo é de carne de sol com pirão de leite, este sim prato do sertão. Aprendi a fazer em 1978, na casa de minha namorada baiana. Um dia comíamos em restaurante e no outro dia na casa dela, sempre a mesma delícia da carne de sol com pirão de leite, com bastante cebola e coentro. Mas fiquei interessado em ir no Chapéu de Couro, não para comer uma falsa comida nordestina, mas um sarapatel ou cabidela. Ótimo comentário Bruno. Como sempre

    1. Te entendo, mas eu não sou apegado à tradição, meu negócio é comida boa, o que acontece é que quase sempre a tradição impera. De todo modo, há outras versões lá, do modo que você prefere, se me lembro bem. Nesta versão o que eu achei diferente foi a carne seca. porque carne de sol com purê de aipim e feijão de corda é bem comum, sim, além do queijo coalho. Não acho verdadeira sua afirmação, inclusive porque há várois sertões, e não só da Bahia, certo?. A comida lá no Chapéu é ótima, pode ir sem medo. Um abraço e obrigado pela leitura sempre atenta e os comentários, sempre bem-vindos.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *