Vinho da Semana: Achaval-Ferrer Finca Bella Vista 2014

 

Detalhe da bodega, em Mendoza – Foto de Bruno Agostini

Nos tempos de hoje, uma vinícola moderna não só pode como deve olhar para o passado. Para fazer vinhos autênticos e expressivos. Uma das primeiras a fazer isso na América do Sul, senão a primeira, foi a argentina Achaval-Ferrer, criada em 1998 (e que recebe 500 brasileiros por mês, em média).

Há diversos modos de se olhar para o passado na hora de fazer vinhos. No caso da Achaval-Ferrer o foco inicial do projeto foi explorar três vinhedos bem antigos de Mendoza: Finca Bella Vista, plantado em 1910, a 980 metros de altitude, em Perdriel, Luján de Cuyo; Finca Mirador, de 1921, a 700 metros, em Medrano;  e Finca Altamira, de 1925, a 1.050 metros acima do nível do mar, na localidade de La Consulta, no Valle de Uco (nesta última, tudo em pé franco (ou seja, sem enxertia). Tudo Malbec. O melhor que essa uva pode dar, sempre entre os melhores vinhos feitos com essa casta.

– Até lançarmos nossos vinhos e fazermos sucesso na Europa, ninguém escrevia “Finca” nos rótulos. Fomos os primeiros a fazer isso na Argentina – diz Gustavo Rearte, enólogo da casa (que passou a ser importada pela Clarets, especializada em vinhos europeus, que abriu exceção para a Achaval-Ferrer).

Degustação na sala de barricas da bodega – Foto de Bruno Agostini

Tendo DNA italiano, com a consultoria técnica de Roberto Cipresso (foi quem descobriu as vinhas velhas, liderando o projeto desde o início), e explorando apenas as castas francesas, eles fazem questão de mostrar que são exatamente o encontro de dois continentes. No site eles tratam do Velho e do Novo Mundo, dizendo que  do primeiro buscam  o terroir, a tradição, a elegância e o equilíbrio; enquanto do segundo querem fruta, frescor, opulência e expressão.

Neste bem formatado projeto saem vinhos realmente muito expressivos e finos, alguns mais opulentos outros mais elegantes, de fato sempre com frescor, equilíbrio e com boa fruta. Mas o que eu mais admiro neles mesmo é o trabalho que fazem em cima do terroir das três fincas, e provar o trio junto, em sequência, é sempre uma aula de enologia e de como o terreno tem importância, mesmo estando próximos, serem feitos com as mesmas uvas e pelas mesmas pessoas: são parecidos, mas bem diferentes os vinhos que saem desses três vinhedos de Malbec, e que encantaram o enólogo italiano Roberto Cipresso, que se deslumbrou com o tipo e a idade das vinhas.

Eu aprecio a linha toda desta bodega, desde o mais básico Malbec 2018, passando pelo Cabernet Franc 2016, que é a melhor casta da América do Sul, a uva mais interessante na Argentina e que vem se destacando nos últimos anos, até o suculento Quimera 2015, de fato um sonho.

Achaval-Ferrer em linha: sempre uma prova didática – Foto de Bruno Agostini

Mas o vinho da semana, dessa vez, é o mais profundo e elegante de todos, o mais charmoso, fino e saboroso, complexo e intenso: o premiado Finca Bella Vista 2014, meu preferido. Isso só reforça o meu apreço por vinhedos antigos (é o mais velho dos três, de 1910), que entregam frutas fantásticas aos enólogos, e bons profissionais como é o caso de Rearte as transformam em vinhos grandiosos.

São 109 anos de idade. Mas o vinho tem frescor juvenil. Expressivo. Se eu provasse às cegas talvez acreditasse se tratar de um lindo Borgonha: sim, senti ali a delicada potência da Pinot Noir, com notas de fruta iniciando uma paleta de aromas complexa, onde vamos ter amoras e cassis, rosas e cogumelos, uma coisa terrosa, algo até amendoado, com algo mineral e condimentado. Falar dos taninos é, aí, sim, tratar de delicadeza, um tinto sedoso na boca, e que pede comida. Tem acidez e frescor. Excelente para a boa mesa, escolta desde paneladas potentes, porque sua acidez segura do cassoulet ao cozido, até pratos asiáticos apimentados (ou não). Carnes como pato e cordeiro aguentam sua delicadeza: mais uma vez, a acidez equilibra a gordura. Eu também beberia sozinho uma garrafa, com muito prazer. Porque os grandes vinhos se bastam.

SERVIÇO
Informações e encomendas com Marcos Lima: (21) 2070-7055; marcos.lima@clarets.com.br clarets.com.br

 

 

 

 

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