Vinho da Semana: Sette Cascine Langhe Nebbiolo 2018, uma alternativa para os “barolistas”

Agnolotti de javale do Grado, com o Sette Cascine: perfeita combinação – Foto de Bruno Agostini

Eu poderia dizer que minhas uvas tintas preferidas são a Pinot Noir e a Nebbiolo, mas não seria correto exatamente. Porque o que é favorito mesmo é a região: no caso, o Piemonte e a Borgonha, respectivamente (a título de curiosidade, minha uva mais querida é a Cabernet Franc).Infelizmente são vinhos caros, e que não se pode comprar sempre, especialmente aqui no Brasil: na Europa e nos EUA, mesmo com dólar e euro nas alturas, dá para a gente pedir umas taças e umas garrafinhas desses vinhos.Os preços variam imensamente quando falamos de Barolo e Barbaresco, as duas grandes denominações do Piemonte, um dos meus lugares preferidos no mundo. Tipo Nova York, a Sardenha (e a Itália inteira), Lisboa e Portugal, como um todo, Barcelona, Londres, Paris…Por razões familiares (Agostini vem de lá, como contei neste post recente), gastronômicas e vínicas, entre outros laços afetivos, o Piemonte é o Piemonte. Suas comidas e suas bebidas, suas paisagens, pessoas, cidadelas medievais…

Finanziera do restaurante La Libera em Alba – Foto de Bruno Agostini

Se me perguntarem onde gostaria de estar, de agora até o Natal, eu responderia sem pensar: em Alba, bebendo vinhos locais e comendo trufas brancas em distintos preparos, carne cruda di Fassona, agnolotti dal plin, vitello tonnato, bagna cauda, risoto, bollito misto, salada russa, codorna assada, la finanziera, tajarin alla chitarra, salsiccia di Bra, brasato al Barolo, bochecha de cavalo, zabaione, giuanduia…

Trattoria della Posta, em Alba, no Piemonte: Tajarin al tartufo bianco – Foto de Bruno Agostini

Só de pensar e relembrar escorre uma lágrima aqui. Nem falei dos queijos, dos embutidos e carnes curadas, os salames de asno, o cremoso, profundo e picante gorgonzola dolce… Jesus amado.Por esses dias pude revisitar essa que é a minha mais amada das regiões vinícolas através de pratos e vinhos.

Carne cruda á piemontese do Sult: com branco e com tinto – Foto de Bruno Agostini

Primeiro, no Sult, voltei a comer um dos destaques do menu da casa: a carne cruda, com pedaços de mignon picados na ponta da faca e temperados com avelãs tostadinhas e crocantes, azeite, pimenta-do-reino, limão siciliano e grana padano, que se entrosou magnificamente com um branco toscano (Castello Pomino) e um Chianti Rufino (Nipozzano Riserva 2016), ambos da Frescobadi (importados pela Winebrands).  (Aliás, o prato está no menu que o Sult preparou para a V Settimana della Cucina Italiana nel Mondo 2020, tema de post aqui, na semana passada, e que vai até o próximo domingo, dia 29/12).

Sette Cascine Langhe Nebbiolo 2018, no Grado – Foto de Bruno Agostini

No sábado passado, na abertura do evento dedicado às gastronomia italiana, estive no Grado, a convite do consulado no Rio, para um jantar que – como sempre na casa de Nello Garaventa – foi memorável. Adoro o lugar, acho lindo e acolhedor, e o serviço, a cozinha, cheia de brasa e lenha, mas sobretudo, gosto da comida que servem ali (além disso, fazem o melhor Instagram de restaurantes do Rio, siga o @gradorestaurante e confira só, trabaho excelente da mulher de Nello, a publicitária Lara Atanian, que faz posts inteligentes e bem-humorados, e que deixam a gente com vontade de largar tudo e correr para lá). Pois neste menu especial, além de uma excelente burrata com salada de tomatinhos, um cordeiro prensado delicioso, como prato principal, e uma tortinha de chocolate e caramelo, para encerrar, foi servido um dos meus pratos preferidos no mundo: agnolotti dal plin, especialidade como disse do Piemonte, e que igualmente já foi tema de post aqui. A versão do Nello é um dos pratos de que mais gosto, não no Rio, no Brasil, mas no mundo. Um acerto, com a massa delicada com recheio imensamente saboroso, de javali, com molho cacio e pepe. Sublime é pouco. Tudo isso, para falar da enologia do Piemonte, e do “Vinho da Semana” (para ler os posts desta coluna, publicada sempre às segundas, clique aqui)

Pois a garrafa servida naquela memorável noite foi o Sette Cascine Langhe Nebbiolo 2018, importado pelo Zona Sul – que patrocina o evento (está em promoção, até o domingo de encerramento, por R$ 97,29, quando o preço normal é R$ 114,30 – dá para comprar pelo site do supermercado, que tem DNA italiano: a famiglia Leta). Um belo vinho, que cumpre o nobre dever de substituir um Barolo ou Barbaresco, apresentando algumas das virtudes desses vinhos. Elegância e equilíbrio, profundidade, aromas complexos que passeiam por frutas, frescas, como amoras e mirtillos, e secas, como ameixa e figo, além de notas terrosas, alcaçuz, flores, como violetas… Também notei algo defumado, e um toque também amadeirado (passa seis meses em barricas) que remete a cedro. Isso tudo com leveza e frescor, acidez marcante, mas balanceada, o que tornou possível, por exemplo, ele se combinar com um prato que – em tese – funciona mais com um branco: a citada burrata. Mas comi e bebi com prazer, mostrando que, como bom vinho que é, este Langhe Nebbiolo vai bem com a comida, de modo geral.

E é disso o que quero falar. Esta denominação genérica do Piemonte, que pode ter vinhos produzidos em toda a região chamada Langhe, onde estão as comundas de Barolo e Barbaresco, é sempre uma boa opção para quem gosta desses vinhos emblemáticos da Itália, mas que não são acessíveis a todos (fique de olho no rótulo “langhe Nebbiolo”, tem quase sempre boa relação custo-benefício – assim como alguns “Bourgogne”, que seguem a mesma lógica: um Pinor Noir com identidade local, mas preços um pouco mais camaradas que os Village e, sobretudo, os Crus).Como dizia, o Sette Cascine Langhe Nebbilo me agradou em cheio. Repare em sua cor clara e linda, iluminada pela vela. O Zona Sul faz uma belo trabalho de seleção de vinhos, sob a curadoria de Dionísio Chaves, um dos caras que eu mais respeito no mundo do vinho (antes dele, foram ninguém menos que Celio Alzer e Danio Braga os responsáveis pela seleção de rótulos do supermercado), e que com sua carreira focada sobretudo em casas italianas, como o grupo Fasano, é um especialista em Barolo, Barbaresco e Piemonte. Soube escolher um Langhe Nebbiolo bem interessante e com bom preço, que entrega o que promete.

Produzido por uma gigante do Piemonte (raridade por lá), a Batasiolo, que cultiva vinhedos em Barolo, La Morra, Monforte d’Alba e Serralungad’Alba, o vinho tem justos 13,5% de álcool, bem integrados, e uma acidez bem marcada, com taninos finos, mas bem presentes, conjunto equilibrado que o torna gastronômico. Com o agnolotti dal plin do Grado, ficou perfeito, assim como com o cordeiro, mostrando suas virtudes: pode acompanhar massas de caças e outras carnes com sabor intenso, especialmente com o molho “arrosto”, do cozimento (a pimenta do cacio e pepe funcionou muito bem aqui, em termos de harmonização, assim como o javali) e melhor ainda com o “agnello”.

Pato, laranja e queijo azul: pode pedir o vinho e o prato em casa – Foto de divulgação / Rodrigo Azevedo

Gostaria de tê-lo à mão num churrasco ou na companhia de um arroz de pato, por exemplo, e em pratos com esta ave, ou com cordeiro e ovelha, de um modo geral. E vai bem ainda com queijos fortes: mignon ao gorgonzola, garanto que fica bem, assim como massas e risotos preparados com este queijo (pensei agora no pato do Bazzar – que está sendo servido em casa: a coxa, de carne macia e pele crocante, assada por 12 horas, com miniarroz do Vale do Paraíba, um toque de laranja e queijo azul, um clássico do restaurante de Cristiana Beltrão (leia seu excelente blog), em Ipanema (para ver o menu, clique aqui). Fato é que vai bem a mesa, ainda mais para um fã do Piemonte, como eu. Pratos com cogumelos e trufas também se enquadram.

Vinhedo de Nebbiolo na região da Langhe – Foto de Bruno Agostini

No mercado brasileiro encontramos, ainda, algumas outras boas opções de Langhe Nebbiolo, como o Casali del Barone Langhe Nebbiolo 2017 (R$ 120 no site do Enoeventos, ou R$ 102 para membros do Enoclube, neste link)  e o Batasiolo Langhe Nebbiolo Tinto 750ml (R$139,99) no site da Mega Adega.

Reprodução

Oddero Langhe Nebbiolo 2017, no Eniwine (preço a partir de R$ 231). Mas nem todos os Langhe Nebbiolo são “baratos”: um dos produtores de que mais gosto, La Spinetta, tem um à venda por R$ 509 (safra 2015), na Ravin. O mesmo vale para o Poderi Luigi Einaudi Langhe Nebbiolo, a R$ 358,60 no site Bebidas do Sul e para o Mio Vino Langhe Nebbiolo, da Vinci, vendido a R$ 318,58. Esses três aí batem muito, mas muito Barolo e Barbaresco. Pode acreditar, mas custam como tal.  Fora isso, todas as grandes importadoras e sites de vinhos têm seus rótulos de Langhe Nebbiolo. Fique de olho.

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