A Retrospectiva 2024 do Instituto Bazzar

A retrospectiva do Instituto Bazzar
Foto de Bruno Agostini®

Nas muitas mesas que dividimos ao longo de tantos anos que a conheço, era comum a Cristiana Beltrão sacar um caderninho e fazer algumas anotações. Algumas vezes também a vi se referir a esse hábito em suas ótimas crônicas, atualmente em cartaz no site da Veja Rio (para ler, clique neste link).

Desde a infância ela presta atenção nas coisas que come. Foi natural ter a ideia de criar um restaurante, que marcou época no Rio de Janeiro. Inaugurado em 1998 na lagoa, migrou para Ipanema em 2004, trocando de endereço no mesmo bairro até encerrar as operações em 2022.

Houve tristeza entre os que apreciam a boa mesa. O Bazzar sempre foi um lugar de vanguarda. Uma dessas características foi desde sempre investir em produtos locais, quando quase nada se falava disso no Brasil.

O que parecia triste, naquele ano de 2022, se tornou um projeto que foi lançado recentemente, mas que já vem há tempos chamando a atenção com postagens que relevam histórias muito interessantes da gastronomia carioca, fatos desconhecidos, jamais pesquisados, dos séculos 18 e 19, sobretudo.

PESQUISADORES DEDICADOS À GASTRONOMIA

Além dela própria, o time de pesquisadores do Instituto Bazzar, como contei ontem neste post (clique aqui para ler), é formado por um dos mais dedicados investigadores gastronômicos que conheço, meu amigo Pedro Mello e Souza, que está há anos apurando uma enciclopédia sobre o assunto maior que qualquer outra no mundo – mas isso é assunto para um post inteiro, ou quem sabe uma semana inteira de textos a respeito.

Estava esperando há algumas semanas um gancho para começar a falar do Instituto Bazzar, e ele chegou ontem, em forma de PDF, com o seguinte título: “Retrospectiva 2024”.

APRESENTAÇÃO DO PROJETO

Abri na hora para ler o documento, que começa assim: “Passeamos por bares e restaurantes mundo afora, sem pensar que a gastronomia representa, hoje, 40% da economia mundial do turismo e que o ‘viajar para comer’ é uma indústria de mais de 800 bilhões de dólares. Muito além do prazer e da experiência que vivemos, há um profundo impacto econômico nas cidades que visitamos e nos restaurantes que escolhemos, com reflexos em toda uma cadeia produtiva. Mas como tornar uma cidade atraente para o turista gastronômico? Pesquisas mostram que é preciso criar uma identidade territorial clara, ou seja, uma ‘personalidade gastronômica’ bem definida, além de desenvolver cadeias de suprimentos sustentáveis. Apesar do imenso potencial de nosso País, não trabalhamos nessas frentes de forma estratégica. Foi então que decidimos arregaçar as mangas e começar pelo Rio de Janeiro, o maior destino turístico do País. Qual é a nossa identidade gastronômica? Quais são os produtos de excelência do nosso Estado? Como tornar a nossa cadeia mais sustentável? Restaurantes foram a minha casa por 24 anos. Nessa cadeia complexa, só uma abordagem transversal e multisetorial é capaz de colocar o Brasil no mapa. Nasce, em junho deste ano, o Instituto Bazzar; um projeto que crescia em mim há mais de duas décadas. Fazendo pontes entre acadêmicos, pequenos produtores, pescadores artesanais, pesquisadores, associações de classe, chefs, governo e empresários, pretendemos alcançar esse objetivo. Com muito mais planejamento do que sorte, queremos ajudar o Brasil a se consolidar como um destino, também do estômago. Com muito orgulho, apresento alguns resultados dos nossos primeiros 6 meses.”

PESQUISAS, RESTAURANTES E EXPEDIÇÕES

Então, vem listando uma série de ações, de dar gosto de ver.

Um dos textos destaca: “Fizemos Pesquisa”, destacando o trabalho de examinar periódicos antigos, livros, dicionários, gravuras, mapas e outros documentos históricos.

Em seguida, vem outra vertente: “Construímos um roteiro de restaurantes”, apresentando a seleção de lugar que – não é coincidência – estão entre os que mais admiro, como o Lilia, de Lúcio Vieira; o Trégua, do casal Ana Paula Bouza e Victor Lima; o .ORG Bistrô, de Tati Lund; o Sud, o Pássaro Verde, de Roberta Sudbrack; e o Umai, de Menandro Rodrigues. Isso tem a ver com localismo, aproveitamento máximo dos ingredientes e sustentabilidade, princípios que essas casas seguem

Logo abaixo, mais uma missão: “Fizemos expedições”, lembrando viagens que foram feitas para pesquisa de campo com destino a lugares como Araruama, para observar o trabalho dos pescadores artesanais; Guapimirim, no intuito de conhecer plantações de cacau (por essa você não esperava); Nova Friburgo, para acompanhar a produção de excelência da charcutaria Porco Alado; Valença, atrás de seus premiados laticínios; e até mesmo dentro da cidade do Rio, interessados na extração sustentável de mel de abelhas nativas, uma das mais especiais iguarias que o Brasil dispõe.

Cada um desses tópicos dá para fazer uma reportagem grande, de peso, porque não faltam histórias que merecem ser conhecidas.

PARCERIA COM A PREFEITURA DO RIO

Em cinco páginas encontramos ainda a publicação de um estudo chamado “Rio: A Capital da Gastronomia Sustentável da América Latina”, em parceria com duas secretarias municipais: de Desenvolvimento Urbano e Econômico e de Turismo.

A retrospectiva do Instituto Bazzar
Breno, do Porco Alado, com os produtos do Cochon Rpuge: charcutaria de excelência em dose dupla – Foto de Bruno Agostini®

“Geramos impacto”, mostrando o incremento nas vendas de alguns desses produtos, dando como exemplo o Porco Alado; e Realizamos eventos, tratando das primeiras ações do Instituto.

No dia da apresentação, Cristiana Beltrão abriu assim a sua fala: “Vai demorar um tempo até entenderem o que estamos fazendo, porque é um campo vasto de atuação, e vamos pouco a pouco”.

Visitem o site: institutobazzar.org
Sigam o perfil no Instagram: @instituto_bazzar

E sejam, assim, brindados com belas histórias e ações.

Fico feliz em compartilhar um pouco desse universo com vocês. Acompanhem para mais, porque estou de olho desde antes do início deste trabalho, que tem como sede uma casa linda no Jardim Botânico, na Rua Visconde de Carandaí.

 

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