Cama e Mesa: a Casa Baladin, em Piozzo: onde o Piemonte troca o vinho pela cerveja

Uma das suítes do hotel da cervejaria BrewDog – Reprodução do site https://www.brewdog.com/locations/hotels/doghouse

A cervejaria escocesa BrewDog lançou há algum tempo um projeto que atiçou e deixou em euforia este universo feito de maltes e lúpulos, e outras coisinhas mais, tema de nossa coluna Cerveja de Bandeja dessa semana. Um hotel temático, com muitas torneiras, tratamentos estéticos, comidas e até sabonetes e xampus feitos a partir da bebida. Incrível, bateu aquela vontade de ir.

O salão da Casa Baladin – Foto de Bruno Agostini

Mas este não foi o primeiro hotel cervejeiro. Tem um bem antigo, em pleno Piemonte, e pouca gente saiba, embora o cervejeiro Teo Musso seja muito conhecido. É a Casa Baladin, em Piozzo. Estive lá, e já se vão já quase cinco anos. Foi em 2012, em outubro, justo na temporada de trufas. Baseado em Alba, a 30 quilômetros dali, há dias imerso em Barolos, Barbarescos, trufas, cogumelos e outras maravilhas do outono piemontês, dei uma escapada para passar uma noite cervejeira. A diária custa na faixa dos 100 euros.

A sala anexa ao bar Le Baladin – Foto de Bruno Agostini

Aliás, eles ganharam o prêmio de Cervejaria do Ano de 2017, na Itália. Merecido.

As torneiras no bar le Baladin – Foto de Bruno Agostini

Teo Musso é um louco visionário, no melhor sentido da palavra. Fui apresentado a ele nas mesas do Bazzar, pela amiga sempre vanguardista Cristiana Beltrão, do Bazzar, primeiro restaurante do primeiro time do Rio de Janeiro a apostar numa carta caprichada de cervejas, criando um menu degustação inteiramente harmonizado com elas, refeição que despertou meu interesse por essa bebida.

Tem até cachaça Nega Fulô no bar Le Baladin – Foto de Bruno Agostini

Muito antes da cerveja entrar na moda, em 1986 – em pleno Piemonte dos icônicos Barolo e Barbaresco – ele inaugurou a sua cervejaria, na cidade que fica a cerca de meia hora de Alba (aliás, numa região onde ainda existem trufas em abundância, já que nas comunas de Barolo e Barbaresco as florestas todas viraram vinhedos). Fui até lá, já com reserva no hotel Casa Baladin, do outro lado da rua onde está o seu primeiro e imperdível bar.

A fachada da Casa Baladin, em Piozzo – Foto de Bruno Agostini

O hotel, do outro lado da rua, é pequeno e acolhedor, cheio de charme. Ótimo, que podemos beber no bar, e voltar andando pro hotel, que também tem um restaurante, num patamar ligeiramente superior ao do bar. Acho ótima a maneira como eles mesmos se definem: Casa Baladin è un ristorante “birrario” con camere assolutamente “atipico”.

O bar Le Baladin, na Piazza 5 Luglio 1944, em Piozzo – Foto de Bruno Agostini

No pequeno restaurante de sete mesas e apenas 30 lugares, o menu degustação, em seis etapas, custa 55 euros. Já o menu menor, com três pratos, custa 25 euros.  Ambos harmonizados com cervejas. A chamada Gran Degustazione e interessantíssima, veja só:  Como aperitivo, polpo scottato, ceci e cime di rapa; pane al burro, lingua di vitello scottata con bagnetto verde e l’uovo cotto a bassa temperatura, fonduta di toma Piemontese, spinacini e tartufo nero. O primeiro prato é o riso carnaroli “Cascina Belvedere” cacio e pepe, pere caramellate. E o principal, pancia di maialino alla birra Super. Para fechar, crema profumata agli agrumi, sorbetto all’arancia e frutta fresca.

Brune, uma stout que só é vendida on tap – Foto de Bruno Agostini

Das suas torneiras jorram líquidos que deram fama a Teo Musso como um dos grandes cervejeiros do mundo. Estar ali é beber na fonte de uma das cervejarias mais legais que existem, sem sombra de dúvidas. Em primeiro lugar, pelas ótimas cervejas que faz. Sem isso não teria graça. Em segundo lugar, por ser pequena, original, transgressora, vanguardista, pioneira, irreverente. Em terceiro lugar, porque a comida que servem ali, como no Piemonte, de uma maneira geral, é excelente.

Provei várias. A Brune, cuja sonoridade me atrai, uma stout cheia de nuances delicadas.

Lune: barley wine com 11,5% e estágio em barricas de vinho branco – Foto de Bruno Agostini

E a maginífica Lune, cerveja safrada, com estágio em barricas de vinhos brancos do Piemonte (aliás, de grandes vinhos, ele matura também em barricas que abrigaram um dia Barolos e Barbarescos, e outros grandes vinhos italianos, e também em barris de rum e bourbon).

Mesmo no enófilo contexto piemontês, uma escapada da região de Alba até os domínios de Teo Musso eu diria que é algo fundamental no roteiro de qualquer pessoa interessada nos sabores locais.

SERVIÇO
Casa Baladin: Piazza 5 Luglio 1944, 34- 12060 Piozzo. Tel. 39 0173.795239. www.baladin.it

…Mas a história não termina aqui, e a ida até Piozzo é altamente recomendável, em especial na temporada de trufas, porque…

Fonduta de queijos e cardo com ovo e chuva de trufas, no La Speranza, em Farigliano – Foto de Bruno Agostini

Mesmo no enófilo contexto piemontês, uma escapada da região de Alba até os domínios de Teo Musso eu diria que é algo fundamental no roteiro de qualquer pessoa interessada nos sabores locais. Aliás, estando por lá, saiba que é justo nesta região que são encontradas as trufas vendidas em Alba, já que as florestas nativas dos arredores, nas comunas dos vinhos Barolo e Barbaresco, foram derrubadas para a plantação dos vinhedos. Foi ali que comi as melhores, história que já narrei aqui (para ler, clique aqui). Minha dica de restaurante ali? O La Speranza, em Farigliano, que está a menos de 5 quilômetros de Piozzo. Essa aí da foto acima, onde comi magnificamente bem.

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