No fim de semana fiz uma postagem criticando a Veja Rio por conta de um texto colocado embaixo do editorial de sua revista, com o prêmio de melhores do ano.
O texto dizia o seguinte:
“PAGAMOS AS NOSSAS CONTAS.
A redação paga todas as suas despesas na produção das revistas e na avaliação dos estabelcimentos, não aceita nenhum tipo de cortesaia e não cobra taxa alguma dos endereços indicados na edição impressa ou no site – apenas critérios editoriais são usados na seleção dos lugares. Pessoas ou empresas que comercializam placas ou qualquer outro tipo de prêmio utilizando o nome VEJA COMER & BEBER podem ser denunciadas pelo e-mail vejabrasil@abril.com.br”
Eu postei no meu Instagram o seguinte comentário: “Veja Rip. Que vergonha, que mentira descarada”.
Recebi mensagens de apoio de muitos cozinheiros, empresários do ramo, sommeliers e clientes.
Alguns, poucos, escreveram questionando a respeito, com frases do tipo: “Bruno, conta mais. Como assim, a Veja cobra dos restaurantes?”
Não, nunca soube de nenhum história nessa linha. Meu post foi em relação à parte de abertura, dizendo que eles pagam as contas. Isso é uma grande mentira. Há 15 anos frequento mesas com jornalistas da Veja, que não pagam essas contas – podem pagar outras, assim como eu pago, quando não sou convidado (e pago muito).
Eu me senti ofendido com o comentário, uma vez que fui jurado (pela última vez). Fico me perguntando: por que mentir assim? Basta não escrever nada. Mas dizer que pagam as contas… Francamente, que vergonha, que desnecessário.
Isso me fez lembrar de uma frase do atribuída ao alemão Otto von Bismarck: “Leis, como salsichas, deixarão de inspirar respeito na proporção em que sabemos como elas são feitas”. E também me remeteu a um episódio bizarro. Certa vez fui chamado para um almoço. Lá chegando percebi que a grande mesa era formada exatamente pelo júri da Veja. Uma pessoa que trabalhava na revista levou não só cônjuge, mas até a mãe para o encontro. Ao final, o sócio do restaurante pediu votos para a sua casa. Advinha quem venceu?
Escrevo isso porque acompanho o trabalho dos restaurantes ao longo do ano. E posso afirmar que o resultado desse ano foi bem justo e correto. Concordo com muitos vencedores, mas não com outros, o que é extremamente normal. Qualquer prêmio do tipo vai dar margem para discussões. Porque – em primeiro lugar – não existe “o melhor restaurante do Rio”, mas sim “o melhor restaurante do Rio segundo o júri da Veja Rio”. Simples assim, e o mesmo vale para o ranking dos “50 Best”.
Fiquei feliz com vários resultados, e escrevi aos amigos os felicitando pela conquista.
Mas por quais razões a Veja Rio escreve uma frase daquelas, justo abaixo do editorial, onde a redação passa o seu recado ao leitor? Por que mentir asssim? Ou será que a direção da redação acha mesmo que as contas são pagas? Por que dizer que ” A redação paga todas as suas despesas na produção das revistas e na avaliação dos estabelcimentos, não aceita nenhum tipo de cortesaia e não cobra taxa alguma dos endereços indicados na edição impressa ou no site – apenas critérios editoriais são usados na seleção dos lugares.”
Qualquer dono de restaurante sabe que isso não é verdade, e não há problema nisso, a prática é mundial, jornalistas comem, viajam e bebem de graça – é parte do trabalho. E vou até além. Comida é algo sincero. Ninguém faz uma comida boa para um jornalista. Posso dizer sem medo de errar que o padrão da cozinha e do serviço dos restaurantes, na maioria das vezes, é mesmo quando vou pagando as contas ou quando vou pagando. Pode ter uma variação aqui ou ali, mas é assim mesmo. Já comi mal com o chef na mesa, e muito bem sem ninguém me reconhecer – no mesmo resraurante (e tenho um caso bem recente que foi assim).
Resolvi escrever esse texto para deixar isso bem claro. A Veja não paga muitas contas em bares e restaurantes, e nunca soube de um caso de venda de prêmio, ou qualquer coisa próxima disso.
Jornalismo é, entre outras coisas, se posicionar ao lado da verdade e da ética. O que a Veja Rio escreveu é uma mentira deslavada. Simples assim.
E aproveito ainda para parabenizar os vencedores.
1 comentário
Matéria amplamente esclarecedora e isenta.
Bruno, parabenizo você pelo trabalho extremamente profissional.
Sempre terá meu apoio.
Grande abraço!