Apesar do nome, a maior parte da Oktoberfest, em Munique, acontece mesmo no mês de setembro. A folia cervejeira começou no último sábado, e este é dos mais imperdíveis eventos do mundo para os que gostam deste delicioso universo de comidas e bebidas. Uma loucura.
São 16 dias de celebração da cerveja, e de outras tradições e costumes bávaros, incluindo a música e a dança, as roupas e a comida, terminando sempre no primeiro domingo de outubro, que este ano acontece no próximo dia 6. Mesmo para quem está acostumado à ofegante epidemia do carnaval carioca, a festa é uma loucura.
São 14 pavilhões, com capacidade média para 10 mil pessoas cada um, sempre totalmente lotados, do início da tarde até 22h, quando a festa acaba, pontualmente. Bandas animam o público, com um repertório eclético que combina o cancioneiro tradicional germânico com músicas internacionais, de “New York, New York” a “Volare”, YMCA e até Michel Teló (no domingo passado, “Ai se eu te pego” foi um dos maiores sucessos na tenda da Paulaner, tocada duas vezes pela banda). No total, cerca de 400 mil pessoas circulam ali a cada dia, incluindo a área externa, que se transforma em um grande parque de diversão, com roda-gigante e outros brinquedos do gênero.
Nesse começo de outono, em Munique é tempo de provar as cervejas sazonais, geralmente mais encorpadas e alcoólicas, e também as receitas clássicas da bebida, como a pilsener, pu pils, como eles chamam, leve e fresca, a mais popular na Alemanha, e a weizenbier, de trigo, todas geralmente servidas em grandes canecões de um litro. É hora de comer salsichas com chucrute e mostarda escura e de tentar acertar o passo das danças típicas do sul da Alemanha. E, quem sabe, participar de um campeonato de chope a metro. Este é o período mais animado da cidade, com hotéis totalmente lotados, assim como as ruas e as praças do centro antigo, como linda Marienplatz, coração da Munique medieval, cercada por construções antigas, muitas, claro, ocupadas por bares que vendem chope como nunca.
A festa começa com animados cortejos, algo entre uma procissão e um desfile de carnaval, que tomam as ruas da cidade, quando também é aberta a tampa de um barril de cerveja, produzido especialmente para a festa, um símbolo desta animada celebração. Existe um respeito quase religioso pela bebida, ao mesmo tempo em que o clima de alegria e descontração se impõe. O frio vem chegando, o clima muda, as pessoas também, em função disso. É hora de festejar, aproveitar os últimos dias em que se pode ir às ruas de tênis, bermuda e camiseta, ainda que os termômetros já estejam marcando os 10 graus Celsius à noite, chegando a 5 graus na madrugada.
As multidões se reúnem na área do Theresienwiese, lotando grandes galpões patrocinados pelas várias cervejarias locais, como Paulaner, Hofbräu e Löwenbräu. Parece um parque de diversões para adultos, uma espécie de Walt Disney World cervejeira, playground etílico com direito a roda-gigante e outros brinquedos, porque a festança não vive apenas de cevada (e de trigo, e de aveia, e de outros maltes de cereais que dão origem à bebida).
Muitos aproveitam para tirar do armários vestimentos tradicionais, o chamado trachten, que fazem sucesso também com turistas, que chegam a desembolsar entre 500 e 1.000 euros pala indumentária.
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Antes, durante e depois da Oktoberfest, o que não falta em Munique são cervejarias a serem visitadas. Quem quiser fazer um passeio ainda mais profundo neste universo pode visitar as fábricas, como a da Paulaner (8 euros por pessoa), que realiza dois tours a cada dia, apresentando as etapas de produção da bebida, com destaque para a área onde estão os imensos tonéis de cobre, onde o malte começa a fermentar. No complexo funciona um restaurante, com cardápio típico e todas as cervejas da casa vendidas diretamente das torneiras. Todas as cervejarias de Munique têm os seus próprios restaurantes, e frequentá-los é programa obrigatório na agenda dos turistas.
Fundada em 1328 por monges agostinianos, a Augustinerbräu é a mais antiga da capital da Baviera, cidade famosa pela sua tradição cervejeira, berço de muitas marcas conhecidas mundialmente. Instalada em uma linda construção do século XIX na Neuhauser Strasse, rua charmosa que leva à Marienplatz, a Augustinerbräu é a marca preferida dos mais jovens.
No final da Marienplatz, dobrando à direita, chega-se à Viktualienmarkt, uma grande praça que há mais de 200 anos é o principal mercado de rua da cidade, e onde encontramos um belo biergarten, um dos mais agradáveis “jardins de cerveja” da Alemanha, que funcionam nos meses mais quentes do ano, sempre cheio de moradores e visitantes brindando com os rótulos locais, em bares como o löwe Am Markt, da marca Löwenbräu.
Perto dali, a uma curta caminhada, chegamos à Hofbräuhaus, na Platzl, a cervejaria que é um dos ícones da cidade, fundada em 1589 por Gulherme V para abastecer a corte (daí vem o símbolo da marca, uma coroa dourada estampada no brasão azul: o adorno original, em ouro, está na Residenz, antigo lar dos reis da Baviera, hoje convertido em importante ponto turístico, uma espécie de museu, de inestimável valor arquitetônico, com teatros, capelas e várias exposições). A Hofbräuhaus tem espaço para acomodar, acredite, quase 2.500 pessoas, e quase sempre está cheio, quando não inteiramente lotado, com fila de espera. A cervejaria instalou-se ali em 1654, e não mais saiu. Mas só em 1830 passou a funcionar como bar, quando conseguiu uma licença para, além de produzir, vender cerveja diretamente aos clientes.
Caminhando um pouco mais se chega à Weisses Bräuhaus, da Schneider Weisse, que serve nada menos que nove chopes diferentes, todos eles feitos de trigo, incluindo o raro Tap 5, amarga, bem lupulada, criado em parceria com Garrett Oliver, mestre cervejeiro da americana Brooklyn.
Um pouco mais distante, o Englischer Garten, ou Jardim dos Ingleses, tem várias biergartens espalhados em sua área. Um dos mais interessantes encontra-se junto à famosa Torre Chinesa, que for erguida em 1790 tendo como modelo a que existe no Kew Gardens, em Londres.
Porém, quando o assunto são os biergartens, e o gigantismo deles, nada se compara ao Hirschgarten, com capacidade para nada menos que 8 mil clientes por vez.
Por toda a cidade encontramos os chamados bierstube, ou bierkeller, os bares de cerveja, que servem comida regional a bons preços, e são frequentados pelos moradores no dia a dia. Como foco mais na bebida do que na comida, os kneipes são bares, que ficam cheios de jovens, à noite.
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Quem está realmente interessado na cultura cervejeira precisa dar uma esticada até a cidade de Freising, no arredores de Munique, próxima ao aeroporto internacional que serve a capital da Baviera. Isso por nos limites da bela cidade medieval está a Weihenstephan, que seria a cervejaria mais antiga do mundo, fundada há quase um milênio, no ano de 1040. Já dá para ir se ambientando à tradição cervejeira da Baviera.
SERVIÇO
Bayerischer Hof: Diárias a partir de € 499. Promenadeplatz 2-6. Tel. (49) 89-21200.
Hotel Bavaria: Diárias a partir de € 105. Gollierstrsse 9. Tel. (49) 89-508-0790. hotel-bavaria.com
Kempinski: Diárias a partir de € 345. Maximilianstrasse 17. Tel. (49) 89-2125-2799. kempinski.com
Mandarin Oriental: Diárias a partir de € 575. Neuturmstrasse 1. Tel. (49) 89290-980. mandarinoriental.com
Novotel Muenchen Messe: Willy-Brandt-Platz 1. Tel. (49) 89-994000. novotel.com
*Texto adaptado de reportagem escrita para a revista Boa Viagem.