Cerveja de bandeja: três estilos que lembram vinhos

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O mundo da cerveja pode ser basicamente dividido em dois universos: existe a família das Lagers, de baixa fermentação, e a das Ales, de alta fermentação. E formando um microcosmo à parte e muito peculiar, existem as Lambics, uma categoria muito particular de cervejas de fermentação natural, espontânea, usando as leveduras indígenas, sem inoculação dos fermentos cervejeiros. Estilo tradicionalmente produzido apenas na Bélgica, nas proximidades de Bruxelas, esta entre as cervejas que mais se parecem com vinho, com acidez marcante, com sabor frutado (muitas vezes reforçado pela adição de framboesas, cerejas ou uvas), cítrico, penetrante, com final de boca amplo e longo. Já existem experimentos nesta linha em outras partes do mundo, incluindo o Brasil: em 2011 foi lançada a Falke Vivre Pour Vivre, a primeira “Lambic” produzida no Brasil, com tiragem bem limitada, edição sazonal feita no período da colheita da fruta.

Rosé de Gambrinus, produzido com framboesas – Reprodução

A Cantillon é um ícone entre as Lambics, com uma linha ampla e consistente, em vários estilos, como a Vigneronne, que leva uvas Moscatel na sua composição, bem ácida, que chega a lembrar vinhos brancos, com sabores cítricos. Uma cerveja para adoradores de vinho, deliciosa, diferente, frutada (limão, maçã verde, uvas verdes), com pouca carbonatação. Uma coisa linda, que deixa na boca um sabor avinagrado, deliciosamente ácido. Outra beleza de cerveja é a Cantillon Saint Lamvinus, que leva uvas Merlot e Cabernet Sauvignon em sua composição, reforçando o seu caráter vínico, que também fica marcado pela passagem em barricas francesas, da região da Borgonha. Cheia de fruta, lembra cerejas e framboesas frescas, igualmente ácida, é uma cerveja ainda mais marcante, com sabor amplo e profundo, e um final de boca longo, frutado e agradável. Eu gostaria de provar esta cerveja com um belo foie gras, tanto em forma de terrine quanto selado na chapa muito quente. Deve ficar incrível.

São cervejas caras e que podem envelhecer por até mais de 20 anos em garrafa, como grandes vinhos. Gastronômicas por natureza, que pode se ajustar a vários pratos, como ostras frescas, e também receitas asiáticas mais picantes, com certos tipos de queijos e também para pratos que contenham geleias de frutas, além de queijos e até foie gras, como já sugeri.

Existem outras cervejas, entre os mais de 100 estilos existentes, que chegam a lembrar vinhos, e um estilo clássico são os chamados Barley Wines (que significa, literalmente, vinho de cevada), uma Ale de origem antiga, que já seria produzida desde a Grécia Antiga, categoria aprimorada pelos ingleses, e hoje encontrada em outros países, como os Estados Unidos, que seguindo a tradição de sua escola faz exemplares mais marcados pelo lúpulo. E, a exemplo do acontece com as Lambics, encontramos pelo menos um belo representante nacional deste estilo, a Pagan Dragon’s Blood Wine, uma das melhores cervejas brasileiras que eu já provei, cheia de personalidade e estilo, uma loucura, com 12% de álcool, encorpada, concentrada, com muito sabor. Escolhemos ela, e mais dois rótulos de cerveja capazes de fazer um enófilo ficar desnorteado, e até imaginar que se trata de vinho.

Quem sabe não são o primeiro passa para se apaixonar por este universo tão vasto e atraente quando o mundo do vinho?

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Rosé de Gambrinus, produzido com framboesas – Reprodução

Cantillon Rosé de Gambrinus – Um dos rótulos mais importantes desta mítica cervejaria belga, deve ser apreciada em copos de vinho. Feita com adição de framboesas frescas, é vívida e cheia de fruta, com sabor marcante da mesma framboesa, além de outras desta família, como morangos e amoras, cheia de frescor, mineralidade e perfumes cítricos, com algo que lembra marzipã, e um vigor selvagem, com linda coloração avermelhada. Deve ficar deliciosa com uma sobremesa como cheesecake, além de receitas asiáticas tendendo para o mais picante, como camarões ao curry vermelho. Pena que hoje é raridade por aqui, pois a Cantillon no momento está sem importação para o Brasil…

Foto de divulgação

Leopoldina Italian Grape Ale – Recentemente escrevi sobre ela aqui nesta coluna Cerveja de Bandeja. Para ler, clique neste link: https://menuagostini.com.br/cerveja-de-bandeja-leopoldina-italian-grape-ale-o-feliz-lancamento-da-valduga-que-leva-uvas-na-receita/

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Pagan Dragon’s Blood Wine – No contra-rótulo desta cerveja produzida pela paranaense Gauden Bier, um aviso: “Esta cerveja se torna cada vez melhor com o tempo e pode ser armazenada durante anos sem perder sua jovialidade.” Custa R$ 26,90 no site Clube do Malte, cada garrafa de 355 ml (o estoque já está acabando, já que provavelmente a cervejaria vai trocar de distribuidor no Rio de Janeiro). Uma cerveja potente e saborosa, com 12% de álcool e muita personalidade. Tem sabores maltados, com bela complexidade, com notas cítricas e o esperado amargor derivado de cargas extras de lúpulo, com algo terroso, e boa fruta, com notas lembrando madeira. A cada gole eu fico com vontade de ter um belo prato de queijos à frente. Uma desses cervejas que nos dão orgulho da produção nacional.

 

 

 

 

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