Prestes a completar 70 anos, o Adonis chegou a ter a sua morte decretada, mas o grande João Paulo Campos destampou o caixão do moribundo boteco de raízes lusitanas, que estava coberto com a bandeira do Vasco. Abraçou-o, levantou-o, sacodiu-lhe a poeira. Assim, de mãos dadas, deram a volta por cima.
De modo que, querido leitor, posso lhe dizer com absoluta convicção: este não é só um dos melhores bares do Brasil, mas também um dos grandes restaurantes portugueses deste país. Assim, este é um típico boteco do Rio, com cardápio predominantemente português, como quase todos os estabelecimentos do tipo na cidade. Foi fundado em 1952. Justo em Benfica, reduto dos cruz-maltinos, das famílias de origem minhota, dos bebedores de chope e de Vinho Verde.
Cearense de Reriutaba, João fez carreira no Antiquarius e chegou ao Fasano al Mare. Ter ressuscitado o Adonis, porém, é seu feito maior. O lugar já vinha sofrendo há anos, em franca decadência. Até o chope, saído de uma histórica serpentina de cobre, andava caído. O salão vivia vazio, e ninguém mais cruzava a cidade atrás de seus altos lombos de bacalhau, em vários preparos. Sem falar na rabada e no angu à baiana, que também ajudaram a dar fama ao lugar.
Com as portas arriadas para sempre, acreditávamos, até a chopeira que estava gelando o chope desde a abertura chegou a ser roubada, mas João conseguiu recuperá-la, para felicidade geral da nação. Desce uma empada de camarão, para comemorar! Duas, é melhor!!! Pro favor.
Fora isso, quando assumiu a birosca em Benfica, pertinho do Cadeg, em 24/6/2019, manteve o menu original, mas foi dando seus pitacos.
Assim, podemos traçar sem culpa um polvo com bacon digno de louvor, um camarão à Matosinhos (refogado no azeite ao alho e pimentão), um bacalhau com jiló e natas, um pastel de ovo (isso mesmo), uma costelinha de porco à passarinho, uma açorda de frutos do mar, umas alheiras com fritas e ovos, umas moelas na bagaceira com chouriço, um torresmo crocante ou meras porções de tremoços, azeitonas, salames e provolones – como qualquer boteco que se preze. O caldinho de feijão é puro conforto e a pimenta da casa, que reluz numa imensa garrafa, é coisa séria e combina com quase tudo no menu.
Terça tem galinha ao molho pardo. Quinta tem dobradinha com feijão branco que merece aplausos. E no domingo é o dia de cozido, dos melhores do Hemisfério.
Doces portugueses e pudim encerram.
Mais que uma Fênix renascida das cinzas, o Velho Adonis, assim rebatizado, alça voos ainda mais altos e chega ao seu ápice. Este boteco coroa vive a sua melhor forma aos 70 anos. Duvida? Toca para rua São Luis Gonzaga 2156, Benfica!
O menu.