O Izär abriu as portas e já lotou. Porque nasceu com altas expectativas. Quem já provou a comida do chef Pepe Lopez certamente está ansioso para voltar a apreciar suas paellas perfeitas, feitas com caldos de base rica, ponto exato de cozimento do arroz e dos pescados envolvidos na receita. Eu também estava, tanto que sabendo que a casa seria inaugurada ontem, às 17h, eu cheguei pontualmente 16h55, e me tornei assim o primeiro cliente da História do Izar. Que promete ser deliciosa.
O imóvel abrigou o Bazzar até o final do ano, e a estrutura mudou pouco, mas os detalhes, bastante. Há um clima de catedral na entrada, com pórtico de vidro. Paredes de pedra, pisos e mesas de madeira dão um clima rústico e chique. Lá atrás, ainda existe o salão reservado e a adega de vidro, que forma uma divisória. Lindo, mas beleza não me atrai a um lugar pra comer.
De modo que vou voltar muitas vezes, porque o que se come ali é algo muito sério. Mas descontraído. As croquetas de lagostins com chorizo, cremosas como é impossível imaginar, são um cartão de visitas e tanto, mostra técnica apurada e esmero no preparo: como eles encapsulam aquilo?
Delirante é o pulpo alla gallega, cuja batata vem em forma de purê escuro e saboroso, preparado com caldo saboroso.
A coquetelaria é bem tratada ali, seguindo a onda dos drinques com vermute, dos gins perfumados com tônicas, frutas e botânicos aromáticos e sangrias ou clericots. Por trás do balcão está Raí Mendes, que é o bartender chefs das três casas do grupos, incluindo ainda o Maska, também em Ipanema, e a Brasserie Mimolette, no Shoping Leblon.
Para começar, pedi ainda um prato típico do Norte da Espanha, inspiração do menu: trata-se lambretas com chorizo e feijão branco, cozido no caldo do embutido ibérico. Mas queria provar tudo (menu nos Stories do @brunoagostinifoto no QR code).
Para os pratos, cogitei o ravióli de pé de porco e cachaça, com bechamel e manchego, que se anuncia como um lindo caso de amor entre a Espanha e o Brasil, casamento abençoado por Pepe Lopez, figuraça.
– Bruno, o ravióli é incrível, pode pedir. Se quiser, volta pra paella, você tem que provar a campera, com ovo caipira finalizando, jamón e cogumelos. E a socarrat de lulas e lagostins, está incrível – disse o amigo, pra minha decisão.
Socarrat foi a escolha inevitável.
O preparo é um balé, o fundo da frigideira vai caramelizando ao sabor das conchas de caldo que vão sendo adicionadas aos poucos, para não perder o ponto. No final, como artista dando os últimos retoques em sua obra, ele coloca com a pinça os pescados, em pontos ideais de cozimento: lagostins na casca, lulinhas fragmentadas em duas, com texturas diferentes: o corpo, macio, e os tentáculos quase crocantes. O aioli de leite dá uma equilibrada no conjunto, e profundidade a ele.
Já havia provado essa espécie de maionese de origem mediterrânea, quando fui almoçar no Otaviano, que vinha ganhando grandes elogios de amigos por conta de sua paella negra de polvo, que foi o meu pedido. Foram as duas melhores paellas de minha vida, a do Otaviano e a do Izär, com muita técnica e excelentes ingredientes. Para ler o post, clique no link: Retrato de um prato: a impecável paella negra do chef Pepe Lopez
Poderia ter pedido a torta de queso, que provei e tanto gostei no Otaviano, no hotel Arena, quando o conheci. Mas… fiz uma referência ao contexto da casa, que se inspirou no Caminho de Santiago de Compostela para orientar o cardápio, que passeia pelo norte da Espanha, mas explora outras regiões, chegando ao Mediterrâneo: pedi a torta de Santiago, de amêndoas e toque de limão siciliano. Pensei: poderíamos dar um pulo do outro lado da fronteira, e buscar um Tawny 20 anos em Portugal.
Izar significa estrela, e são eles que me fazem olhar para os céus em busca do caminho. Não de Santiago, mas do Izar, que também tem um quê de divino.
Olé! Viva a Espanha!!!
SERVIÇO: Izar, rua Barão da Torre 538, Ipanema. Instagram: @izarrestaurante