Não são muitos, mas existem alguns vinhos que conseguem ser diferentes de todos os outros. Uma das denominações mais interessantes da Itália não é muito conhecida: Vernaccia di Oristano, um vinho potente, cujo álcool pode chegar a até 20%, mas que não é fortificado. Cheio de personalidade, até pode lembrar um Jerez – o processo de produção guarda alguma semelhança (há sistema de solera e também a “flor”, que dão características muito particulares em termos de oxidação, e os exemplares mais antigos concentram o seu teor alcoólico não através de fortificação, mas por evaporação da água, que ocorre lentamente).
O Contini Componidori Vernaccia di Oristano 2013, vendido por R$ 165 a garrafa no site do seu importador, Enoeventos, é um vinho delicioso e versátil, que pode se combinar com pratos típicos da Sardenha, como os culurgiones, cordeiro assado e várias receitas com pescados, em especial com os crustáceos, mas que também pode ser servido com alguma sobremesa. Ótimo aperitivo, com queijos intensos e outros sabores fortes, como alici. Experimente com a bottarga di Mugine, produzida ali mesmo, na região, e veja como se chega ao Paraíso com certa facilidade quando se está na Itália, ou se come o que se produz por lá.
Com 15% de álcool, o mínimo determinado por lei, o Componidori está na categoria dos mais simples dessa denominação. É um vinho lindamente dourado, com aromas complexos, amendoados, que chegam a lembrar notas salgadas ao mesmo tempo que apresentam insinuações adocicadas, com casca de laranja cristalizada, damasco seco e algo floral, de jasmim.
Esse já era um vinho querido, com o qual sempre gostei de encerrar as minhas refeições no restaurante A Casa do Sardo, em São Cristóvão. Mas depois de visitar essa vinícola, em março, como geralmente acontece, eu já não posso olhar para as garrafas desse produtor, e dessa denominação, da mesma maneira que antes.
A visita à Sardenha foi uma das viagens mais espetaculares de toda a vida. Uma ilha que recebeu tantas influências, de povos europeus e do Norte da África, de árabes e de piemonteses, que acabou se tornando um lugar único, onde encontramos comidas e bebidas que não existem iguais em outra parte. O Vernaccia di Oristano é uma dessas coisas.
No subsolo da vinícola está um verdadeiro tesouro, com as safras antigas armazenadas em barricas de madeira, com diversos tamanhos e idades. Um dos grandes momentos da viagem foi a degustação desse vinho, da safra 1976 (a minha): Imagine toda a descrição que fiz do Componidori 2013, só que ainda mais profundo e complexo, mais encorpado e impressionante. Era isso. Mas poucos vinhos se comparam ao Flor 1922,uma bebida com quase 100 anos, com um vigor impressionante, que também pudemos provar ali, para conferir que alguns dos grandes exemplares de Vernaccia di Oristano são imortais, como certos Madeiras e Portos.
SERVIÇO
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