Carta ao amigo James Martini Carl*
“Meu amigo, bom dia!
Desculpe a demora, provei os vinhos tem uns 15 dias. Andei enrolado aqui com uns trabalhos.
Como gosto daquilo. Em primeiro lugar pelo aspecto da fruta, da acidez latejante e por apresentarem uma coisa selvagem sem ser agressiva, mas elegante como certos felinos.
A Trincheira da Solidão tem o que eu penso todo vinho deveria ter: o caráter da própria casta, a identidade local de onde foi feito e não do enólogo. Ao contrário do que se pensa a Gamay nem sempre é uma uva bobinha para vinhos feitos com maceração carbônica. E os grandes crus de Beaujolais – como Saint Amour – estão aí para expressar isso. Apesar de ser leve e pouco alcoólico tem boa expressão de fruta, concentração de cor e é marcante no aroma e sobretudo na boca. Tem cor e estrutura. Taninos na medida. Da serra traz umas notas características, algo que me remete a calcário e ervas. De tu, apresenta a vinificação marcada pela pureza que permite justamente mostrar do que se trata, a variedade da uva e a região de origem do vinho. Granítico como o solo onde crescem as vinhas.
Gostei muito.
Mais ainda gostei do Flamingo Fibonacci, que corte agradável, equilibrado e inusitado, que passeia por França (Pinot 50% e Gamay, 30%) e Itália (Negroamaro, 20%). Novamente destaco o frescor, as notas selvagens, com terra molhada de chuva, aqueles aromas envolventes de frutas negras, como amoras.