No Rio, sábado é tradicional dia de feijoada e, para os fortes, de angu à baiana, como no caso do excelente Bar da Amendoeira e o brilhante Adonis.
Já o domingo é dedicado ao cozido, popular em toda a cidade.
No Amir, porém, os fins de semana reservam um prato mais que especial: canela de cordeiro, cozida lentamente em pomposo molho vermelho de tomates e muitas especiarias perfumadas.
O gigot de cordeiro, como chamam na França e que faz sentido em se tratando do Líbano de histórica influência gaulesa e cristã, é um dos melhores pratos da cidade com este corte ovino não tão fácil de se encontrar. No Amir eles usam a denominação italiana e chamam de stinco de cordeiro.
A carne se desmancha, o sabor é rico, bem pronunciado nos temperos árabes como a canela, a pimenta síria e outros elementos marcantes da cultura árabe.
Sou louco pela cozinha do Oriente Médio, como nunca me canso de repetir.
Para acompanhar, temos um cuscuz marroquino que muito bem acomoda o molho, que tem personalidade, com densidade na textura e no sabor. Além disso, uma espécie de ratattouille reforça bem o caráter mediterrâneo da receita, combinação popular do Oriente Médio até a porção ocidental do Norte da África, muito apreciado pelos povos muçulmanos.
Eu acho bom comer com a coalhada seca da casa, que traz frescor e acidez ao prato, e carrego na potente pimenta da casa, item fundamental nos banquetes que o Amir proporciona.
E o Amir é um porto seguro pra mim há muito tempo, uma certeza de satisfação, um templo dos prazeres carnais, e também saladeiros.
Esse é um legítimo cordeiro de Deus, desses pratos que marcam nossas vidas pra sempre, um marco. Existe o Amir a.C. e o Amir d.C.: antes e depois do divino Cordeiro, agnus dei, e a mesa do restaurante da praça do Lido é um altar onde reverenciamos o paladar.
Peça um tinto parrudo nas tardes frescas do outono, ou mesmo um branquinho com boa acidez (adoro cordeiro bem condimentado com Riesling e Alvarinho, por exemplo) pra melhorar ainda mais o momento.
No mais, peço sempre as pastas, esfirras e outras delícias que fazem deste um dos meus lugares preferidos no Rio. Desde nosso primeiro encontro ali no começo deste século…
Perguntei para a querida Yasmin Boushi, sócia da casa, que me respondeu.
“Por enquanto estamos com nosso arroz de cordeiro. O stinco volta em breve, no final de abril, início de maio”, ela disse.
Bem, o arroz de cordeiro é igualmente dos Deuses. Para católicos, muçulmanos, judeus, xintoístas, budistas e adeptos de todas as religiões.