Sobre o prêmio da Restaurant: gente, não existe “o melhor restaurante do mundo”

O chef argentino, radicado na França – na fronteira com a Itália – e que é casado com a niteroiense Julia: vários amigos cariocas, como Thomas Troisgros e Thiago Flores, que trabalhou com ele, bem como o italiano Michele Petenzi – Só tem fera. Foto de Bruno Agostini

Sobre o prêmio da Restaurant.

Primeiro erro da mídia é transformar o que deveria ser “O restaurante do ano” no “melhor restaurante do mundo”.

Mais que o restaurante do ano, o prêmio festeja os chefs. Quem ganha o prêmio no fundo não é o restaurante, mas o chef. Ser bem relacionado é fundamental.

Outro ponto, que destaquei mais cedo. Escrevi assim: “O Mirazur talvez seja mesmo o melhor restaurante do mundo. Maior admiração pelo Colagreco, das melhores refeições da vida.

Mas acho que… jornalistas não devem dizer ‘o melhor do mundo’, e sim ‘o melhor do mundo segundo o questionável critério da revista inglesa Restaurant’.

Do mesmo modo, que alguém eleito pelo Globo como ‘Melhor do Rio’ é ‘O Melhor do Rio segundo o júri de O Globo’.”

Fazer de outro modo, é sensacionalista, dá moral para uma marca de água mineral e uma revista, e confunde os leitores/ouvintes/telespectadores.

O que quero dizer com isso? Em primeiro lugar. Não existe o melhor restaurante do mundo, existe o melhor segundo alguém, alguns ou seja lá o que, se revista, água mineral, jornal, entidade de fomento à cultura gastronômica etc etc etc. Não existe o melhor do mundo em nada.

Mas vamos lá, ok. Temos o que foi eleito o melhor do mundo, o segundo e o terceiro. Até aí, vamos bem.

Mas dizer que existe um restaurante que é o 54º melhor do mundo é um delírio. Melhor: o 54º melhor restaurante no ranking da revista Restaurant, por exemplo (já viu jornalista esportivo dizer que o jogador X é o 54º melhor do mundo? Não, ele é o 54º no ranking da ATP). Ou, então, melhor ainda, e por incrível mais preciso, ainda que mais genérico: um dos 100 melhores restaurantes do mundo segundo a revista inglesa Restaurant.

Sim, já me chamaram para ser jurado. Declinei.

De todo o modo, achei muito merecido o prêmio ao Colagreco, talvez o único que eu tenha concordado desde o início do troféu.

– Mauro Guerreiro. A trajetória profissional mais bonita que conheço. 13 anos de luta, parabéns, chef – escreveu Thiago Flores, que trabalhou com ele.

Outro cozinheiro que dá expediente em restaurantes cariocas, o italiano Michele Petenzi, hoje no grupo de seu conterrâneo, Silvio Podda, da Casa do sardo, também trabalhou no Mirazur – que a propósito está exatamente na fronteira da França com a Itália.

– Fiquei emocionado com o Mirazur. Parte da equipe é italiana. Conheci os dois italianos, um é sous-chef, o Antonio, que estava lá, recebendo o prêmio junto com ele. O outro é o Nino, siciliano, que aliás foi quem abriu um restaurante com o Colagreco em Paris, deve ser uma pérola, se chama Grand Cour. Foi muito bom a conquista. falei com eles, com a Julia, que é carioca. na Olimpíada eles estiveram aqui, cozinharam no Lasai e no Gastromotiva. Foi merecido.Foi um a experiência foda trabalhar lá. fantástico. Não tem nada parecido. Não à toa ganhou o prêmio – disse.

Mas outra coisa: essa é só a minha opinião, como aquela é só uma opinião de um júri fragmentado, cujo comportamento é previsível, midiático e até um pouco arrogante.

Mas agora chega: só falo disso no ano que vem. No mais, vamos festejar A Casa do Porco, que restaurante extraordinário, em forma de conteúdo, filosofia, proposta, preços e tudo o mais. Até irreverente ele, só presta reverência ao porco – irreverentemente. E também os cariocas Lasai e Oteque, duas casas de onde sempre saio impressionado, feliz e emocionado pelas histórias que escuto, pelas coisas que como e bebo.

Parabéns a todos.

Esse post é só uma reflexão. Deveríamos, nós, jornalistas, dar menos destaque a isso. Porque o leitor acredita que existe o melhor restaurante do mundo, e acredita até que haja o centésimo. Alguns, pensam até que depois desses são todos ruins.

Gente: NÃO EXISTE O MELHOR RESTAURANTE DO MUNDO.
E, no mais, confio mais no Michelin (Colagreco ganhou a terceira estrela ano passado, com muito merecimento).

P.S. – Para ler um post sobre um almoço no Mirazur, clique aqui.

 

 

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