Se me perguntarem a marca de cerveja que eu mais admiro ficarei perdido pensando no assunto.
Vou viajar da Dinamarca do Mikkeller até a Escócia, da BrewDog, passando por quase toda a Bélgica e suas trapistas, e a mítica Cantillon, de Bruxelas. Vou circular pela Itália de Baladin, passear pela Alsácia de tantas brasseries incríveis, e também pela Alemanha inteira, pátria cervejeira por completo, onde está a mais antiga das marcas do ramo ainda em atividade: a Weltenburger. Vou ancorar na Costa Leste dos EUA, chegando por Nova York da Brooklyn, pousando em Delaware, da Dogfish Head, até chegar à Califórnia da Sierra Nevada e fechando o tour no Colorado da Fat Tire. Isso entre o que lembro, e tratando só de empresas grandes e icônicas, nem falei das pequenas e me esqueci de fazer escala, por exemplo, em Chicago da Goose Island, berço da Bourbon County, das melhores cervejas que provei na vida. Nem tampouco falei do Brasil da Tupiniquim, da Mad Dwarf, da Bodebrown (Paraná tem ainda a Way, a Morada…), da Wäls, da Invicta, da Therezópolis… São tantas, a memória falha.
Mas, voltando à mais admirada marca, a primeira que me vem à cabeça. Sem dúvidas que a Paulaner, e o fato de tê-la visitado durante a Oktoberfest contribui para isso, certamente. Porque se o tema da conversa é cerveja, e me perguntam o que mais gosto nesta bebida, pensaria, em termos de estilos, em IPAs, o que bebo no dia-a-dia; em Munique, enquanto cidade e quase que em consequência disso, na Paulaner, como marca cervejeira que primeiro me vem à mente.
Foi uma viagem curta, mas marcante, quando estive por três dias com um grande amigo, Eder Heck, ex-Mr Lam e agora no Kitchen Asian Food, na Marina da Glória. Começamos em grande estilo, visitando a histórica fábrica da Paulaner, no coração de Munique, com seus equipamentos antigos, linda memorabilia da marca e um poço que fornece água pura há séculos para a empresa, criada por monges da Ordem dos Mínimos em 1634, quando lançaram a Salvator, logo um estrondoso sucesso em Munique – terra da Augustiner, da Hacker-Pschorr, da Hofbräu, da Löwenbräu e da Spaten, para citar apenas as seis marcas oficias da Oktoberfest (junto com a Paulaner, a principal delas, é claro).
A Salvator é para mim um colosso de cerveja, uma das minhas Lagers preferidas, junto com a Celebrator, da Ayinger, outra admirada cervejaria da Baviera, igualmente uma doppelbock, um estilo de cerveja muito gastronômico, para mim, que vai muito bem com carnes de sabor marcante, e caças, como pato, marreco, ganso, cordeiro, javali, veado e – no caso brasileiro – de capivara, por exemplo. Isso, é claro, sem falar no porco. Aliás… são as duas Lagers preferidas, certamente. A Salvator é um monumento etílico e histórico. Foi criada como “pão líquido”, para o jejum dos monges, e inaugurou assim o estilo: é encorpada e calórica, com 7,9% de álcool e notas elegantes e bem marcadas de malte, remetendo a caramelo, especiarias e chocolate, e uma linda coloração avermelhada. Linda.
Em todos os casos, é fundamental um molho para dar liga ao conjunto, seja o resultado do cozimento, com os sucos da carne e dos temperos – de preferência marinados e/ou glaceados com a própria cerveja – seja um preparo agridoce, usando frutas, vinho ou vinagre e especiarias. Outra possibilidade é fazer um molho de cogumelos flambados no conhaque, finalizado com creme de leite fresco e cebolinha francesa. Estupendo, simplesmente!
Fica uma coisa de maluco. Provem, apenas provem. Como guarnição, sugiro um elemento cremoso e untuoso, como um purê de batata (inglesa – pode ser dauphinoise – ou doce), de abóbora, inhame ou baroa. Repito: provem, apenas provem essa harmonização. Enquanto escrevo, salivo só de lembrar das vezes em que, empunhando um copo de Salvator ou Celebrator, eu provei algumas das carnes citadas (com pato, marreco, veado – esse nas frias montanhas da Baviera, num almoço inesquecível – javali e porco foram experiências que eu trago na memória com nítida lembrança do prazer que foi aquela momento).
Também pensei em outros pratos, típicos do Brasil, como uma boa rabada, que igualmente deve ficar muito bom, ou um costelão no bafo (neste caso eu ia marinar e/ou finalizar com a doppelbock). Feijoada, incluindo o bolinho da Katita do Aconchego? Cassoulet? Acho que cabe uma Salvator, sim. Burger? Também: eu usaria uma carne gorda, com cebola caramelizada e um queijo azul tipo gorgonzola. Deu vontade de provar. Farei isso em breve, com a feijoada que planejo para algum dos próximos sábados, como se minha casa fosse um restaurante de menu tradicional.
Por fim, sobremesas de caramelo e/ou chocolate – de preferência juntos – e também a brasileiríssima torta alemã, além da germânica floresta negra.
Fora isso, eu aprecio toda a linha da Paulaner, que chama a Salvator de “Pai de Todas as Cervejas Fortes”, e com razão. Começando pela cerveja que fazem para a Oktoberfest, do estilo sazonal Märzen, que tem esse nome porque é produzida em março, para ser bebida em setembro e outubro, durante a festa. Um luxo. A cada ano eles lançam um copo comemorativo diferente, objeto de coleção.
Outras cervejas da marca que para mim também são ícones universais em suas categorias são a Weissbier (para mim é a melhor do mundo, assim como a Salvator), a Weissbier Dunkel e a Münchener Helles – todas de qualidade exemplar. Vale notar no pureza dos aromas, nos maltes perfeitamente dosados com o lúpulo de qualidade superior e que faz mesmo a diferença nessas cervejas, de uma elegância fabulosa. Esse equilíbrio entre malte, álcool e lúpulo é para mim o traço mais marcante das cervejas da Paulaner. Sou muito fã da marca.
Coisa fantástica é fazer como o alemão tradicional: ir pela manhã a um café, pedir um prato de salsichas e um copão clássico de 500 ml de Weissbier, da Paulaner, de preferência. Só ficou faltando o jornal, porque não leio em alemão. Isso, sim, é uma linda forma de se começar o dia.
Por tudo isso, com o já disse, eu sou muito fã da marca. Obrigado, e uma benção para vocês, monges.
E MAIS:
– Cerveja de Bandeja: a ofegante epidemia da Oktoberfest, em Munique
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