O Centro do Rio respira. Durante a pandemia, muitos dos melhores restaurantes e dos bares e armazéns mais tradicionais que já sofriam com o esvaziamento das empresas na região e cercanias fecharam as portas, como o Cosmopolita, na Lapa, berço do filé à Oswaldo Aranha, e o Eskimó, na Travessa do Ouvidor, famoso pelos PFs servidos no balcão (eles vão voltar em breve, desta vez no Beco das Sardinhas, que anda mais movimentado do que nunca, com a inauguração do Capiau, mais nova empreitada de Raphael Vidal – da Casa Porto, do Bafo da Prainha e do 2 de Feveiro, e em breve da Cervejaria Cotovelo).
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Os que resistiram colhem hoje os frutos da resiliência. É o caso de duas casas vizinhas e irmãs, que frequento com recorrência: o Fim de Tarde e o Málaga, na Rua Miguel Couto.
Cada vez que vou ali além do prazer de reviver o meu passado recente, fico feliz de ver cheio os salões.
Fim de Tarde, clássico ibérico do Centro
Desde 2022 tenho ido ao Fim de Tarde com boa regularidade, explorando as especialidades espanholas e os pratos do dia, que variam regularmente. Foi assim que provei notáveis lulas “en su tinta”, com molho muito saboroso, enriquecido com caldo de frango, e feito com o corante preto natural retirado dos moluscos pescados no litoral do Rio, que chegam frescos ao restaurante.
O mesmo aconteceu quando fui provar um guisado de coelho, e dei a sorte de ter no menu daquela semana medalhões de cavaquinha grelhados na chapa. Foi um almoço sublime.
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Málaga continua em plena forma
Já o Málaga estava há tempos sem ir, porque faltava coragem, amigo que sou do lendário maître, Seu Augusto, que com idade já avançada se aposentou durante a pandemia.
Outro dia eu o convidei para almoçar, mas ele aceitou o convite, fazendo um outro, irresistível:
– Vamos sexta no Málaga.
Não tive como negar, e deixamos o almoço do Esplanada Grill, onde eu pretendia levá-lo, para 2025.
Foi muito bom pra mim ver o salão inferior do Málaga cheio, com seu engravatado público tradicional. Os mesmo garçons de paletó branco e gravata borboleta também continuam os mesmos. Alguns me reconheceram – pudera, estava com Seu Augusto à mesa.
– Vou pedir uma empada pra você – sugeriu o amigo.
Logo lembrei que essa é a melhor versão do salgado que encontro no Rio. A massa, quebradiça, tem muito sabor, é untuosa e mantém a sua estrutura, servida fora da forma, e de cabeça para baixo.
Mas, o recheio… é ele que me faz considerar essa a melhor empada da Cidade Deliciosa: havia quatro camarões médios. E um creme feito com as cascas e cabeças pra lá de bom.
Já o leitão, esse eu lembrava bem, é o que considero o melhor do Rio, sem dúvidas.
Vale dizer que no Fim de Tarde também é servido o mesmo leitão.
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ENDEREÇOS INFALÍVEIS NO CENTRO
Comemos ainda um arroz de polvo que honra a tradição galega dos sócios: hoje quem toca as duas operações é outro amigo querido de muitos anos, Marcos Alonso, que herdou do pai (que fundou o Fim de Tarde em 1973 – o talento da hospitalidade.
Hoje, Alonso toca as duas casas, pois recentemente assumiu o posto da irmã, que ficou à frente do Málaga com a saída de Seu Augusto.
Ainda teve feijoada porque era sexta, muito boa, por sinal.
Prestes a completar 30 anos, em 2025, o Málaga é um desses lugares que eu recomendo com segurança, e de olhos fechados, aos amigos que perguntam sobre restaurantes do Centro, assim como o Fim de Tarde. Endereços que o tempo me mostrou serem infalíveis! Afinal, são poucos as casas que frequento há 20 anos, e que conseguem sempre manter o padrão e a regularidade.
Já estou programando a próxima visita.
Se tudo der certo, ainda esse ano: a provinha do arroz de polvo deu gosto de quero mais!
SERVIÇO
Málaga: Rua Miguel Couto 121, Centro. Tel.: 21-2233-3515. Instagram: @restaurantemalagaoficial