Maria tem uma memória gastronômica que me impressiona desde pequena. Sabe do que gosta, e sabe o que é bom, e não se influencia por estrelas Michelin, nem pela minha opinião ou qualquer outra. Tem a dela, e ponto:
– Papai, eu gostei mais do ravióli dal plin do Eataly do que do fusilli com polvo do Marea. Só que o Eataly não tem estrela Michelin, o Marea tem duas. Gostei muito do polvo, mas gostei mais do ravióli – disse ela, algo assim, logo que chegamos ao Brasil, ao começar a fazer seu relato de viagem para a mãe.
Escrevo isso porque hoje, procurando fotos e organizando o acervo que andava muito bagunçado, eu acabei encontrando uma sequência que também rendeu outro momento “pai orgulhoso”. Um dia, do nada, ela se vira para mim e diz.
– Papai, ontem minha mãe fez um risoto de camarão que ficou muito bom. Muito, mas muito bom mesmo. Foi o segundo melhor camarão da minha vida. Advinha qual foi o primeiro?
Eu sabia a resposta, mas não quis estragar a pergunta desafiadora:
– Não, onde foi?
– Não sabe? Foi aquele seu amigo que fez, do Málaga.
O mais engraçado de tudo é que isso aconteceu numa noite de sexta-feira. No começo da tarde de sábado recebo um telefonema.
Quem era? Ele, Seu Augusto, grande maître, grande amigo, grande pessoa.
– Bruno, estou em Teresópolis. Está na cidade? Vem aqui pra Villa Sankt Gallen, é meu aniversário.
Não existe coincidência. E fomos festejar o cara que faz o melhor camarão do mundo para a Maria. O que não é pouca coisa.
O fato se deu em 2013, acho.
Foi uma tarde mágica. Coincidentemente, lá estava o também amigo e igualmente grande pessoa e muito querida Moacyr Luz. Ele cantou para ela aquela delícia de música, o “Samba dos Passarinhos”, aquele que começa assim:
“Um passarinho me disse / Que vamos viver pra sempre um grande amor / Canário livre cantou, cantou, cantou, cantou feliz / Um bem-te-vi que ouviu / Bentevitou com o seu amigo tiziu / Um pintassilgo se alçou e foi piar bem juntinho da perdiz”. Deixo o link para quem quiser ouvir. Delícia de música.
Maria adorou a música e acompanhou atentamente o preparo do que para ela é até hoje “o melhor camarão do mundo”. Escolheu bem. Trata-se de um clássico do Málaga, que Seu Augusto executa como poucos: seus camarões flambados, um show no meio de salão, que fica perfumado.
Provou. Disse que amou. Eu pedi para espetar um.
– Papai, mas só um. Ele fez para mim.
SERVIÇO:
Málaga: Rua Miguel Couto 121, Centro. Tel.: 2233-3515. www.malaga.com.br