Cerveja de Bandeja: Pauwel Kwak e o seu emblemático copo que não fica de pé (conheça sua curiosa e deliciosa história)

A cerveja Pauwel Kwak, uma Belgian Strong Ale sensacional: copo desenhado quando não havia Lei Seca – Foto de Bruno Agostini

 

 

Até 2012, fosse por lazer, fosse a trabalho, eu praticamente só bebia vinho. Comecei a estudar o assunto e virei enófilo, depois vieram as viagens, as reportagens, as degustações quase diárias. Virei colunista, palestrante e o vinho tomou conta de minha vida.

Foi aí que apareceram as cervejas belgas.

Foi através de suas cervejas complexas, densas, perfumadas, saborosas e excelentes parceiras para a comida que o vinho passou a dividir minhas atenções com elas.

Foi numa tarde de outono, numa loja em Ipanema. Era sábado, eu tinha textos a escrever, levei o computador e fui provando. Pauwel Kwak, St. Bernardus  Abt 12 (que conhecera semanas antes, na Itália), Orval e Tripel Karmeliet. Foram essas quatro. Eu não me lembro a ordem.

Comecei a inquirir o vendedor a respeito de cada uma delas. E, assim, descobri uma história que adoro: a origem do formato do copo da Pauwel Kwak (post em homenagem ao amigo de escola Alessandro Thuller, que outro dia postou uma foto dessa cerveja, e eu perguntei: “conhece a história desse copo?” Ele disse que não, e eu disse que no dia seguinte faria um post explicando, mas acabei me esquecendo. Ontem, pensando na pauta dessa coluna cervejeira, me lembrei da promessa, que cumpro hoje).

Como muitos sabem, cada cerveja belga tem um copo para chamar de seu, e esse que é dos que mais gosto entre todos os desenhados para qualquer bebida no mundo, tem uma história tão deliciosa quanto a cerveja: ele foi feito para os condutores de carroças e carruagens, que o prendiam na estrutura de madeira. Se houvesse Lei Seca, naqueles tempos, jamais existiria esse copo de formato original, o único que conheço que não fica em pé sem apoio (ficar, fica, mas não recomendo, a chance de tombo é bem grande).

É uma Belgian Strong Ale, com potentes 8,4% de álcool, complexa, uma cerveja cheia de nuances, com linda formação de espuma, que o copo valoriza. A cor também é linda, uma coisa âmbar, realmente bonita de se ver. No sabor, a gente nota a presença do açúcar mascavo, que é usado na receita, e encontramos notas charmosas como tudo o que envolve essa cerveja: tem equilíbrio perfeito entre amargor e doçura, e assim pulam da taça perfumes cítricos e outros que lembram melado e um toque de fruta.

Quer ser feliz? Asse uma boa costelinha de porco e abra uma Pauwel Kwak.

Não é uma cerveja barata, no varejo uma garrafa de 750 ml (de bom preço) sai na faixa dos R$ 80. Um kit, com o copo e a sua base de apoio, geralmente o dobro: R$ 160. Já a garrafa de 330, por uns R$ 40. Com  tampa de rolha, a garrafa maior me pareceu conter uma cerveja um pouco melhor, ainda que a fórmula seja a mesma.

Vai por mim: 330 ml é pouco para o deleite que a Pauwel Kwak nos proporciona. Vá na de 750 ml e faça como eu fiz há oito anos: leve o kit com o copo para casa, nem que seja só para enfeitar.

ATUALIZANDO

No Instagram @menu_agostini eu fiz um desafio, e perguntei: “Porque ele foi feita para se apoiar assim?”

Meu amigo Sergio Siciliano Simon, sommelier de cervejas do Delirium Café, em Ipanema, engrandeceu a história, com detalhes muito interessantes. Obrigado, meu chapa.

UMA LEI MALUCA QUE CRIOU UM COPO INCRÍVEL – Por Sergio Siciliano Simon

“Cervejaria Bosteels, responsável pela Pauwl Kwak, foi criada no ano de 1791 por Evarist Bosteels e está localizada na vila de Buggenhout, na província do Flandres Oriental, Bélgica. A cervejaria ainda permanece sob propriedade da família mesmo depois de 200 anos e sete gerações. Sua história recaí sobre a era napoleônica, quando Pauwel Kwak era cervejeiro e dono de uma taverna, o The Hoorn em Dendermonde. Muitas carruagens paravam por lá durante todo o dia e os cocheiros não podiam entrar no local para se refrescar com uma bebida.

Pauwel Kwak teria então desenvolvido um copo único, com um formato de corneta, com a extremidade de baixo redonda, que encaixasse nas carruagens, permitindo que os cocheiros pudessem tomar a sua cerveja com tranquilidade. A cervejaria preservou a história e recriou o copo para sua cerveja.

Didaticamente o copo da cerveja é classificado como um Yard (jarda em português), uma unidade de medida de distância que corresponde a praticamente um metro. O copo de vidro ainda tem um suporte de madeira, igual ao suporte das carruagens. Existem ainda versões de suporte que podem receber dois ou quatro copos da Kwak.

Cervejaria Bosteels produz também a Karmeliet e a Deus.

Isso tudo foi em função de uma lei maluca que proibia os condutores de carruagens a parar em frente ao bar. Tinham que beber na carroça e seguir a viagem.”

2 commentários
  1. Uma dúvida, tenho a informação que AMBEV teria comprado está cervejaria, poderiam confirmar???

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