
Quem me conhece sabe, e não me canso de dizer: o Herr Pfeffer é meu bar preferido no mundo.
E cada vez mais se destaca nesta posição, se consolidando no primeiro posto, sem concorrência.
Quando comecei a frequentá-lo, a partir de 2005, ele era, literalmente, o bar da esquina: morava na primeira quadra da José Linhares. O bar da esquina é a nossa casa.
O Herr Pfeffer é pequeno, no sentido do tamanho, do jeito acolhedor que eu gosto, com suas paredes de madeira e memorabilia que remete à Alemanha, país que trouxe para o Rio a bebida preferida dos cariocas, a cerveja.
Este é um baita bar de cervejas, e ali tive grandes provas, vivi dias memoráveis entre amigos, aprendi muito sobre este assunto. Sobretudo com o Fabinho, sócio da casa, que se tornou grande amigo.
Inevitavelmente, a gente fica amigo do dono do nosso bar preferido, e este é o meu caso.
Mas não só de localização, birita, pessoas e ambiente vive um boteco que mereça ser o nosso favorito: é preciso um pouco mais de substância.
Sim, a comida. Tem que ter comida boa. Não precisa ter muita coisa, mas é preciso tira-gosto, coisinhas para forrar o estômago.

Pois eu amo a comida alemã desde muito. Isso vem de longe, praticamente de berço, quando comecei a apreciar os croquetes de carne e os sanduíches de linguiças e salsichas da Casa do Alemão, quando viajava a caminho da serra.
Fico sempre na dúvida do que pedir, porque gosto de muita coisa.
O mesmo carinho e reverência que cultivo pelo Herr Pfeffer se estende naturalmente até o alto de Santa Teresa, onde tudo começou. A origem do Herr PFeffer é a Adega do Pimenta, monumento da cultura boemio-boteco-cervejeira do Rio. (Neste link é possível conhecer um pouco da história da casa).
Fundado pelo alemão Holf Pfeffer, que era mestre cervejeiro da Brahma, o lugar foi batizado assim em alusão ao seu sobrenome: Pfeffer significa Pimenta em alemão.
Em 1995, William Guedes comprou o restaurante. Ele vem a ser o pai do Fabinho Santos já citado. São casas irmãs a Adega do Pimenta e o Herr Pfeffer, e o cardápio é quase o mesmo, com poucas alterações.
Tudo o que importa encontramos nas duas casas.
O chope bem tirado, os pratos alemães que são muito bem executados e um clima caloroso de taberna, mesmo em pleno Rio de Janeiro. Por extensão, a Adega do Pimenta é um dos meus recantos preferidos.

Ali encontro o provocativo e instigante sabor dos rollmops, de arenque, como são os originais (adoro de sardinha também).
E todo um especial repertório de salsichas, produzidas por um gênio da charcutaria, que vive entocado no interior do Rio: é conhecido como o Alemão de Mendes. A linguiça chamada “Da Diretoria” leva pimenta verde e ganha pequenas incisões antes de ser salteada na manteiga, para chegar à mesa brilhante e com jogo de texturas entre a pele tostada e o interior macio, e bem picante. Repare na excelente mostarda, mix da casa.
Tem as brancas, as defumadas, o currywurst e o monumental Krakauer, salsichão bovino de 500g.

além de três fígados: de porco, boi e galinha – Foto de Bruno Agostini®
O mesmo produtor é autor de um quinteto de patês fora de série, e de uma dupla dos chamados “patês quentes”, que são embutidos como salsichas, sendo uma delas uma notável morcela.
Recentemente caí de amores pela língua, especialmente quando servida em cremoso molho de curry, acompanhada de chucrute roxo.
O mix de linguiças, com diversas variedades em versão coquetel, é uma boa pedida para diversificar.

Claro que eisbein e kassler com salada de batatas não poderia faltar em boteco desta natureza. Pode pedir com salada de batatas, mas eu quase sempre recorro à batata röesti da casa, que muitas vezes escolta, também, o vistoso mignon à milanesa – schnitzel, melhor dizendo.
Pode ir no tartare de carne sem medo de errar, servido como sugere a tradição alemã, com pães escuros, de centeio (se quiser, peça ainda fritas, que complementam bem o prato de carne crua temperada).
Quem vai em grupo pode encomendar, com 24 horas de antecedência, ao menos, o joelho do Pimenta (também servido no HP, como me refiro ao Herr Pfeffer, a Adega do Pimenta é AP… intimidade é fogo…). Imenso, com cerca de cinco quilos, é marinada com vários temperos, assa por longas horas, e é finalizada com espuma de chope, ou qualquer cerveja que queira o cliente. Vale, e muito, a experiência coletiva.

No final do ano passado, após uma reforma, a casa abriu, tinindo de nova, e cheia de estilo, mas sem perder a identidade da decoração temática, que explora as cervejas e a cultura alemã como um todo. Mas agora com tomadas e saídas USB para carregar celulares, e confortáveis sofás de couro.

Na porta, o bonde continua passando, para lá e para cá, acentuando o charme que é estar ali.
Há pouco tempo eu fui apresentado ao Prato Matador (com salsichas branca e bock, kassIer, bacon, chouriço, morcela, chucrute e batatas cozidas). O nome homenageia os que faziam o trabalho de matar o porco, e separar suas partes para os mais diversos preparos. Até isso é bom. Outro que merece pelo menos três pessoas para compartilhar.
Afinal, você certamente já vai ter comido umas coisinhas antes do principal. E, se não o fez, deu muito mole.

Em tempo: para encerrar, minha pedida é o apfelstrudel com creme chantilly batido na hora. Schnapps congelante acompanha, é claro.
SERVIÇO
Adega do Pimenta: Rua Almirante Alexandrino 296, Santa Teresa. Tel.: 2224-7554. adegadopimenta.com.br
Adega do Pimenta: Rua Almirante Alexandrino 296, Santa Teresa. Tel.: 2224-7554. adegadopimenta.com.br