Já faz uns bons anos que minha churrascaria rodízio preferida é a Palace, fundada em 1951. De longe. A começar pelo mais importante em qualquer restaurante: a comida. Depois, gosto da história da casa, das referências à Bossa Nova e ao Copacabana Palace, da decoração e da equipe, liderada pelo Danilo Melo – responsável, ainda, pela carta de vinhos, bem montada. Como geralmente acontece nas casas do tipo, a frequência da Palace tem muitos, e muitos estrangeiros. O que querem estrangeiros no Brasil? Beber caipirinha e cachaça (claro, e samba, praia, Copacabana etc). A proporção é de 60% de estrangeiros e 40% de brasileiros (almoço: 90% de brasileiros e 10% de estrangeiros. Jantar: de 60 a 70% de estrangeiros, o resto brasileiros).
Pensando neles – e também em brasileiros como eu, que têm a cachaça como destilado preferido – eles criaram uma carta de cachaças excelente, na forma e no conteúdo. É um folder-pôster, com o mapa do Brasil e as referências de cada rótulo. O cara leva para casa como souvenir (eu vou enquadrar a minha).
A seleção tem 50 pingas diferentes, numa seleção que cobre todo o país. Estou longe de ser especialista em cachaça, mas gosto do assunto e tenho algumas marcas e rótulos preferidos. Estou na fase de gostar mais dos exemplares sem madeira, ainda que ache incrível o trabalho que a gente vem fazendo com as nossas variedades (bálsamo é a preferida). Sobre isso, desvio da Palace para falar de uma parati de Paraty: trata-se da Mulatinha branca (nome curiosamente contraditório), da Paratiana. É uma das mais baratas entre toda a (imensa) linha deles – e foi a que mais gostei quando visitei a fábrica-loja.
Na Palace encontro boa parte das que mais aprecio. Começando pelo Sul encontramos dois alambiques gaúchos que estão no topo de minha lista: Casa Bucco e Weber Haus. Da primeira, a versão maturada em bálsamo, sai da R$ 16. Da segunda, o rótulo que é um corte de cachaças maturadas em inox e em carvalho, custa o mesmo preço.
Do Sudeste destaco (considerando que não conheço todas, mas de minha região quase tudo já provei, eu destaco a Canarinha, prima da Anísio Santiago, mas bem mais barata: também maturada em bálsamo, que empresta uma linda cor esverdeada e um sabor ao mesmo tempo delicado e marcante, custa R$ 22 (Anísio Santigo vai a R$ 58, aí fica difícil). Sou fã da Nega Fulô, inclusive tenho uma garrafa no freezer. Custa R$ 22, e é magnífica. Assim como são ótimas as cachaças da Magnífica (tem uma em sistema de solera, a R$ 48 que fiquei curioso de provar, pois esse sistema que mistura diferentes safras, não é muito comum no Brasil).
Na região Centro-Oeste não posso opinar: não conheço nenhuma (mas devem ter um stilo próximo das mineiras, por questões de geografia e microclima). Do Nordeste destaco a Serra das Almas, orgânica, uma das cachaças mais delicadas que já provei, produzida em Rio das Almas, na Chapada Diamantina, Bahia. Por R$ 16, é uma excelente escolha. Outra pinga porreta e orgânica que gosto muito é a paraibana Serra Limpa, da cidade de Duas Estradas (nunca tinha ouvido falar até provar essa cachaça igualmente pura e delicada, como a anterior).
Do Norte também não conheço nenhuma das duas, e nem sei se provei alguma produzida na região amazônica. Seria a minha escolha, na próxima visita, por curiosidade. Tem a Indiazinha Prata e a Ouro, ambas a R$ 14.
Do outro lado da carta de cachaças estão as caipirinhas e outros drinques feitos com cachaça e com gim nacional (e também Tiquira, o aguardente de mandioca, tradição maranhense de origem indígena; vem do Caium, fermentado desta raiz tão brasileira).
Tem Brazilian Mule (R$ 28) e uma série de releituras de coquetéis clássicos e de criações do barman da casa (esqueci o nome, mas certa vez fiquei no balcão do bar, e achei o cara muito gente boa e competente).
Ali também encontramos cinco “flights” (degustações) com cinco rótulos, explorando temas como “As 5 regiões” ou “Explorando as Madeiras Brasileiras”, com preços entre R$ 30 e R$ 52 (nesta você escolhe cinco de todas as disponíveis).
Não me lembro de uma atenção tão legal à cachaça no Rio.
No mais, para completar, os cardápios ilustrados para turistas estrangeiros também tem uma solução interessante, para ajuda-los a escolher: um folhetinho mostrando de onde vem cada corte.
Poderia gastar mais 727 palavras (ou 4.288 caracteres) para falar da qualidade do rodízio e do que pedir, mas vou deixar isso para o post de outra coluna deste Menu Agostini: Cozinha em Revista, onde faço resenhas sobre restaurantes. Mas deixo uma galeria de fotos apetitosa. Lá, encontro até morcilla e molleja – dois itens “parrilleros” que mais aprecio, e muitas vezes não encontramos, lamentavelmente, em nossas churrascarias. Fora o costelão, sempre impecável, que desfila perfumado e imponente pelo salão (cuja decoração, de Chicô Gouvêa, remete ao art-déco e aos anos dourados do Rio: acho linda). E outras coisinhas mais, seja no espeto, seja na chapa (como gosto mais) – caso da costeleta de cordeiro.
Por essas e outras, eu adoro a Palace.
SERVIÇO
Churrascaria Palace: Rua Rodolfo Dantas 16, Copacabana. Tel.: 2541-5898. Rodízio a R$ 169 + 10% (cadastrados no app Clube Palace sai a R$ 128). https://churrascariapalace.com.br/