Entre as Rías Baixas e o balneário do Rei. A viagem se aproximava do fim, e estávamos no coração das Rías Baixas, a principal referência nos vinhos da Galícia, onde a Albariño reina. Cercados por vinhedos, pegamos a estrada passando pelas bordas das rías, esses famosos braços de mar, responsáveis pela linda paisagem, e que também fazem da região uma referência mundial em peixes e frutos do mar. Saímos do hotel Quinta de San Amaro para um dia entre as Rías Baixas e o balneário do Rei. Como foi um dia entre as Rías Baixas e o balneário do Rei?
Foi assim.
Nossa primeira parada foi no porto de Cabodeiro, que fica na Illa de Arousa, que fica no meio da ría de mesmo nome, que abriga a maior parte das criações de mariscos da Galícia, onde um “terreno” aquático, chamado bateas, pode custar até um milhão de euros. São mais de duas mil delas, e nós estamos na parte mais próxima ao mar, que tem mais valor, pela qualidade dos nutrientes que alimentam as ostras, mexilhões, vieiras e outras conchas cultivadas ali.
Entre as Rías Baixas e o balneário do Rei
Numa manhã que começou meio feia e nublada, e que ganhou sol, luz e alegria, pegamos um barco ali para ver as bateas, essas granjas flutuantes que criam mariscos. Aprendemos que muitas vezes a água esquenta demais, e os produtores perdem tudo. E que são usadas técnicas e equipamentos do mundo do vinho para içar e separar as pesadas cordas onde estão as ostras e outras conchas. Entre outras curiosidades a respeito desse universo gastronômico, como o funcionamento das fábricas que preparam as iguarias em conservas, muito cobiçadas, por sinal.
Chegamos em Cambados, uma vila marinheira e vinícola, considerada a capital do vinho Albariño, onde encontramos várias adegas, e onde caminhamos contemplando seus palácios e mansões, em construções de pedra que tornam o cenário lindo e agradável, ótimo para fotos.
Depois de uma taça de Albariño em um bodega tradicional, saímos em direção a Pontevedra, chamada de “Boa Vila” devido à sua arquitetura histórica bem preservada.
Cozinha moderna em prédio histórico
No almoço, porém, fomos a um lugar moderno, com proposta gastronômica ousada, mas que funciona em uma bela construção histórica. Era La Ultramar (https://laultramar.es), que tem a proposta de servir uma cozinha asiática, mais chinesa, com ingredientes locais. Dá bom resultado, e foi bom para variar, ainda que durante todo o trajeto andamos comendo muito bem, obrigado. Além das já festejadas refeições ao sabor de peixes e frutos do mar, vale dizer que a carne da Galícia também é famosa, de alta qualidade, para quem prefere.
Caminhamos um pouco pela cidade, e saíamos em direção às bodegas Martin Codax, uma casa famosa da D.O Rías Baixas. Nossa prova de vinhos em bonita e moderna sala de vidro, com vista para os vinhedos, aconteceu com cada rótulo harmonizado com conservas galegas. Foi uma ótima experiência, num fim de tarde solar.
Partimos em direção a Sanxenxo, o principal destino turístico de praia nas Rías Baixas – onde o rei emético, Juan Carlos de Espanha, está aproveitando a sua aposentadoria forçada das funções monárquicas (renunciou em favor do filho, depois de escândalos políticos e conjugais). Nos alojamos no Hotel Silgar 92 (https://hotelsilgar92.com) e saímos em seguida, para a noite de despedida.
“Salimos de tapas”, como se diz. Mas, nem ficamos indo de bar em bar. Nos sentamos em uma birosca na zona mais badalada do pedaço, cheio de bares e restaurantes, que foi escolhido porque tinha mesas, e algumas iguarias no menu que estávamos buscando, como as anchoas del cantábrico e os boquerones em vinagre. Confesso que não anotei o nome, mas isso nem importa.
A saideira foi um tinto de Ribera del Duero, num outro bar qualquer. Foi aprazível a volta para o hotel caminhando pela orla, assim como havia sido a ida, no final de tarde, com aquelas luzes lindas que o horário pode proporcionar em certos dias e épocas do ano. Na Galícia, a primavera é bela. E saborosa, sempre.
Dia seguinte é a despedida, com almoço de gala em Santiago de Compostela.