Vinho da Semana: Mamuthone 2016, um Cannonau di Sardegna de respeito e boas histórias

O Mamuthone, feito com uvas provenientes de vinhas com até 60 anos: elegância – Foto de Bruno Agostini

Mamuthone é um personagem folclórico do carnaval da Sardenha, que desfila pelas ruas da vila de Mamoiada durante os dias da festa. O monstrengo representado por máscaras de madeira e trajes que são feitos de pelo natural, com sinos pendurados nas costas, chega a assustar pelos traços amedrontadores e o som emitido na coreografia com pulos e fortes batidas de pé no chão.

 

Emblema da cultura da ilha o Mamuthone batiza um dos vinhos da cantina Giuseppe Sedilesu, que me proporcionou uma visita com degustação das mais interessantes, quando pude provar seis exemplares de Cannonau di Sardegna D.O.C., com vinificação muito similar, variando a idade das vinhas, e mostrando o quanto isso influencia no resultado final.

Uma joia engarrafada, uma aula de enologia – Foto de Bruno Agostini

O Erèssia e o Sartiu são produzidos com uvas de plantas com idade entre 3 e 15 anos enquanto o Mamuthone usa uvas de vinhas com entre 15 e 60 anos (o primeiro é um exemplar rosado). Já o Carnevale é feito com parreiras com entre 40 e 80 anos. Verdadeiras joias são o Giuseppe Sedilesu, que usa fruta de vinhas com entre  50 e 100 anos e o Ballu Tundo, com entre 60 e 100 anos. Provar esses vinhos juntos é uma aula de enologia, e foi das degustações mais interessantes e educativas que já fiz na vida. Os vinhedos de cultivo biológico estão a uma altitude de aproximadamente 650 metros, o que se reflete na elegância de cada um, mesmo com teor alcoólico que pode chegar a 15,5% no caso do Ballu Tundo e do Giuseppe Sedilesu.

O Mamuthone talvez seja o vinho mais representativa da casa, com preço atraente pelo que entrega: custa R$ 139 no site da importadora Enoeventos, que traz esses vinhos para o Brasil (quem é sócio do Enoclube paga R$ 118,15). Ao contrário do personagem carrancudo o vinho é sedoso, macio e elegante, perfumado e delicado, complexo e suculento. Um achado. Tem excelente equilíbrio entre acidez, álcool e taninos, mostrando-se um vinho extremamente gastronômico, que enobrece qualquer churrasco, e pratos de carnes vermelhas de modo geral, incluindo massas ao ragu, cordeiro assado e pato confit.

Mamuthone com pecorino: nascidos um para o outro (vai bem com brancos também) – Foto de Bruno Agostini

Na nossa degustação, da qual participou um (excelente) produtor de pecorino, o queijo de ovelha que acompanha toda e qualquer refeição na ilha, ficou ótimo com ele.

Com 14,5% é um vinho maduro, que expressa muita fruta, ervas secas, e também frescas, como alecrim, além de outras notas vegetais, como aromas florais e muita especiaria, com final longo e saboroso. Na vinificação o vinho passa um ano em botte, grande barricas de carvalho, e o mesmo tempo em lagares de cimento.

O site recomenda que o vinho deve ser decantado por pelo menos 30 minutos, e eu concordo com eles. Um vinhaço, raro mesmo de se ver a esse preço.

Se nunca ouviu falar de Mamuthone ou de Mamoiada, procure saber.

 

 

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