Já faz um tempo, mas não me esqueço do dia em que a filha, ao ver aquela linguiça negra, inédita para ela, perguntou: “Papai, o que que é isso?”. “Chouriço”, respondi, com uma gargalhada natural.
E era mesmo. Estávamos no Bar do Mineiro, em Teresópolis, um boteco-boteco, desses que adoro frequentar, que “importa” o embutido de Além Paraíba, cidade mineira na divisa com o Rio. Poucas coisas combinam tão bem com cerveja e pimenta quanto um bom chouriço, que também encontro no Recanto do Mineiro, dissidência do Bar do Mineiro, com cardápio praticamente igual (belos torresmos encontramos em ambos).
A rima lembra a expressão antiga, quando alguém queria desviar algum assunto, me remeteu à infância, e traz além dessa memória o prazer de apreciar uma das coisas que mais gosto de comer: chouriço ou morcela, como prefira chamar, o embutido de porco que leva sangue na receita. Lamento que a gente não tenha tanto apreço por essa deliciosa iguaria, tão comum nos vizinhos Uruguai e Argentina, e também em Portugal, na Espanha e na França (Alsácia, em especial).
No Rio, onde é raro acepipe, só é comum encontrarmos em churrascarias de acento platense, como El Chaco Parrilla e Pobre Juan, mas também em algumas nobres casas de carne, como a churrascaria Palace e o Esplanada Grill, que tem muitos itens especiais que tanto aprecio, como este, e também alheiras, por exemplo – em ambos os casos, vale pedir ainda uma dupla de ovos estalados (como combinam).
O meu bar preferido no mundo, já escrevi aqui, é o Herr Pfeffer, e lá podemos também pedir uma boa morcela, com ovos fritos. Só isso já faz essa casa alemã ganhar muitos pontos em minha estima.
Sinto falta, imensa, do cozido do Antiquarius, cuja miríade de elementos tinha uma respeitável morcela. Ai, que saudade…
Outro lugar amado, a Adega Pérola, tem em sua vitrine refrigerada uma sempre apetitosa porção de morcela, coberta por cebolas, pimentas e salsinha, levemente regada com azeite. Sempre que vou eu peço, assim como o polvo à vinagrete. São meus dois itens preferidos do imenso menu de petiscos – o melhor do Rio no quesito.
Porque eu me lembrei disso? Porque a morcela do Recanto do Baixinho, em Teresópolis, que recentemente apreciei, é maravilhosa, e me recordou do quanto eu gosto disso. Queria uma morcela agora. Acho que amanhã vou voltar lá.
1 comentário
Sou Carioca mas cresci em Belém do Pará, usamos muito na culinária paraense o chouriço na feijoada, maniçoba e outros pratos da região norte. Uma delícia. Forte abraço.
Marco Marinho.