O chef Fred Trindade, que faz arroz como poucos, é o convidado da Paella Fest, no Venga de Ipanema, no próximo domingo

O chef Fred Trindade, do restaurante batizado com o seu sobrenome, em Belo Horizonte, é um dos mais talentosos dessa nova geração que trabalha de olho na tradição gastronômica de sua região, dando contornos contemporâneos e autorais a receitas ancestrais.

Sua cozinha é dessas poucas que podemos dizer: vale a viagem. E a capital mineira podemos dizer sem medo de errar, é o terceiro polo gastronômico do país, só mesmo atrás de Rio e São Paulo, o que faz de BH um destino incrível para amantes da boa mesa, pelo conjunto da obra, a começar pela comida típica do estado, aquele reconfortante cardápio caipira, com seus leitões e frangos assados, suas linguiças, torresmo, feijões tropeiros, farinhas de milho, pimenta, e a vastidão dos seus queijos, compotas. Sem falar de Tiradentes, complemento de roteiro perfeito, a cidade do interior mais saborosa do Brasil, com a maior concentração de grandes restaurantes, bares, produtores de pinga e outros artesãos da gastronomia. Se tem uma coisa deliciosa nesse mundo é a cozinha mineira. Amém.

E se você tiver uma só refeição em Belo Horizonte, que ela seja feita no restaurante Trindade. O seu cardápio é apetitoso, desses que dão vontade de pedir tudo. Logo, ir um grupo permite provar mais coisas.

Couvert: pão, azeite e manteiga: e basta – Foto de Bruno Agostini

Na minha visita o chef montou uma degustação, com entradas em versões reduzidas, culminando na única “exigência” que fiz: queria comer o famoso e fotogênico arroz de leitão. Inclusive, ao escutar a dúvida do casal vizinho sobre o que pedir, eu me meti na conversa, sugeri o prato, e no final eles me agradeceram.

Eita comida boa.

Já ia me esquecendo de outro pedido: queria provar o guioza de pé de porco, outra estrela do cardápio enxuto na medida exata para ser variado.

Para começar, um couvert tão simples quanto delicioso, com um brioche nota 10, uma manteiga artesanal digna de nota, além de azeite mineiro, da Serra da Mantiqueira.  

As entradas, com direito a guioza de pé de porco (!!!) – Foto de Bruno Agostini

Depois, uma seleção de petiscos: com coxinha de festa de rabada, versão mignon do salgado, com Catupiry; e tulipinha de frango com mel e mostarda, duas delícias. Chegaram na tábua de ardósia, com dadinho de tapioca com feito com queijo Canastra e mel orgânico; e um palitinho caprese mineiro, com queijo local, tomatinhos maduros, flor de sal e manjericão.

Junto veio o guioza de pé de porco, que divide o recheio com frango caipira, sendo servido com molho de tucupi realmente fantástico. Da lista de entradas, ficou para a próxima visita o torresminho de orelha de porco, com maionese de pimenta malagueta; e os ovos caipiras fritos com ovas e farofa de panko. Entre outros.

Na hora do principal , já decidido pelo arroz de leitão, confesso o sofrimento que foi deixar de pedir coisas como as versões do chef para o picadinho e o baião-de-dois; o pato assado ao roti de café (e também o arroz meloso de pato); e o burger, de fraldinha de bacon, com queijo artesanal, pão de mandioca e ketchup de goiabada de Ponte Nova.

Arroz de leitão do chef Fred Trindade – Foto de Bruno Agostini

Deu vontade foi de voltar, porque o arroz de leitão, e também o guioza de pé de porco, entraram para a lista de melhores pratos do ano, o que também fez desse jantar um dos melhores deste 2018 que se despede. A coxinha de rabada, tema de reportagem esta semana, entrou para a lista das melhores da vida; e a tulipinha de frango, de tão deliciosa, também pode ser classificada com uma maneira exemplar de servir esta ave, que não frequenta minha lista de comidas preferidas, que raramente me comove. No Trindade, comoveu.

Mas e o arroz de leitão? Servido na frigideira de ferro, tem um admirável equilíbrio, uma textura tão sedosa e aveludada, um sabor tão profundo e rico, com todos os elementos fazendo sentido. A farofinha de panko para dar crocância ao conjunto, o molho do cozimento, de uma felicidade brutal, a carne, no ponto exato, o ovo frito realçando tudo isso, porque qualquer prato fica melhor com um ovo caipira frito, de gema mole, por cima.

Com certo dó no coração, pulei a sobremesa.  Não foi fácil. Havia pudim da casa, creme brulée de doce de leite… E – o que seria a minha escolha – torta de chocolate com sorvete de leite queimado salgado… Jesus.

Um ótimo café encerrou a jornada, que foi abrilhantada por um vinho que adoro: o Falernia Riesling, fresco, floral, com bom corpo e acidez, um vinho versátil, amigo da boa mesa, e que foi um ótimo companheiro para este menu, tanto para as entradas quanto para o guioza e o arroz de pato. Escolha certeira. Saí flutuando. Dica (como sempre) mais do que certeira do amigo Gabriel (Da Muda) Cavalcanti. Valeu, camarada!

Tudo isso para dizer que no próximo domingo esse cara é o convidado para mais uma edição da Paella Fest, no Venga! Faz todo o sentido: Fred é especialista em preparar arroz. Dos melhores que comi na vida esse citado neste reportagem. A receita escolhida é uma versão “surf & turf”, com polvo, camarão, peixe, lula, mexilhão, vôngole e barriga de porco. Imagine será vai estar bom. Acontece das 13h às 18, na unidade de Ipanema (Rua Garcia d’Ávila 147; tel. 2247-0234). Não perderia por nada, estando no Rio.

P.S. – O chef está de mudança de endereço em Belo Horizonte. Estamos apurando data e local de retorno, e assim que tivermos atualizamos.

 

 

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