Retrato de um Prato: os camarões à Zico, clássico do Antiquarius – porque a simplicidade pode ser a glória

Camarões à Zico: azeite, muito alho, pimentão, louro e pimenta – Foto de Bruno Agostini

Zico era um assíduo frequentador do Antiquarius. Um dos seus pratos mais pedidos era uma tigela de camarões graúdos, afundados no azeite que chega a mesa ainda borbulhando, sob as bênçãos de muito alho, pimentões vermelhos, louro e pimenta dedo-de-moça.  É um desses exemplos de que quando o assunto é cozinha, a simplicidade pode ser a glória.

Há pouco mais de sete anos, em 3/3/2013, quando o Galinho completou 60 anos, eu escrevi um texto sobre o prato, clássico da cozinha do Antiquarius – que, ao que parece, está voltando, em forma de delivery (vou apurar melhor essa história, e dependendo, publico aqui). Que saudades do Antiquarius, eu sinto. Enquanto isso é possível pedir alguns pratos clássicos da casa, no Da Silva, de Antônio Perico, o Tó, filho de Carlos Perico, fundador do Antiquarius, que está entregando via iFood. Tem bolinhos de bacalhau e croquetes de carne assada, clássicos do indispensável couvert do Antiquarius, assim como o famoso arroz de pato, molhadinho, com paio e muito amor; bem como o bacalhau espiritual e o bacalhau com natas. Para encerrar, tem rocambole de laranja e siricaia. Que saudades do Antiquarius… Tanto que outro dia sonhei com este restaurante português, e isso até virou post aqui: “Em tempos de saudades, sonhei com o Antiquarius“).

Reproduzo hoje o texto, nesta coluna de todas as quintas, “Retrato de um Prato”, onde escrevo sobre clássicos da gastronomia.

Camarões à Zico, mas pode me chamar de gambas al ajillo – sendo que esta receita pode ter, ainda, páprica, manteiga, limão siciliano e – sobretudo, vinho branco.

Falando em vinho, para este prato eu escolheria um alentejano parrudo, prestando uma homenagem à cidade de Elvas, no Alentejo, berço do Antiquarius, que seria também uma harmonização perfeita (ok, se não achar pode ir num Chardonnay com toque de madeira, daqueles com tons bem dourados – homenagem à carreira do Zico). Ou, ainda em deferência ao Camisa 10 da Gávea, um belo vinho do Friuli, onde está a cidade de Udine, onde ele jogou. Pode ser um exemplar de Marco Felluga (hoje importado por Lamberto Percussi, da Vinheria Percussi, em São Paulo), por exemplo, que está em Capriva del Friuli, nos arredores de Udine ou de seu irmão, Livio Felluga (da Mistral). Aliás, quando estive em Spilimbergo, numa noite saímos para jantar em Udine, e foi uma experiência maravilhosa, pela comida, pelas companhias e seus vinhos, e também por estarmos em Udine.

CAMARÕES À ZICO

“Pegue alguns camarões de bom tamanho. Descasque-os. Numa travessa de barro, acomode os crustáceos, regando com bastante azeite. Para temperar, um pouquinho de sal, lâminas de alho e tirinhas, muitas delas, de pimentões vermelhos, além de duas folhas de louro e pimenta dedo-de-moça em rodelinhas.

Basta levar a tijelinha ao forno, bem quente, e deixar por alguns minutos, até que o azeite esteja borbulhando, fervente.

Sirva imediatamente, ao lado de pedacinhos de pão, ou torradinhas.

A receita tem a simplicidade de uma jogada de craque, um toque de letra culinário, um golaço.

O nome presta reverência ao seu mentor, frequentador da casa: o camarão à Zico é um dos pratos mais clássicos do receituário carioca. Em primeiro lugar, devido ao homenageado, Rei da Nação Rubro-Negro, Papa do Maracanã, Deus do futebol. Em segundo lugar, pelo endereço, a casinha branca da Aristides Espínola, no Leblon.

Hoje, o Galinho de Quintino completa 60 anos. Além das glórias futebolísticas, Zico ainda nos brindou com esta receita, um daqueles pratos que não podem sair do cardápio do Antiquarius, sempre uma bela pedida.

Basta chegar para o garçom, e dizer.

– Solta um Camisa 10, por favor.

Logo chegará a travessa fumegante, deliciosamente quente, trazendo os camarões à Zico, titular absoluto na minha seleção de quitutes preferidos.

Parabéns, Galo.”

 

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