Matias Riccitelli é um dos enólogos argentinos que deram uma guinada no estilo dos vinhos do país, buscando mais frutas frescas do que que madurez e álcool, menos madeira e mais elegância, menos padronização e mais identidade, local e do autor, no caso, ele mesmo. É irreverente, mas ao mesmo tempo muito sério. Se é que me entende…
Esse é um bom exemplo disso. As uvas são do Vale de Uco, a área mais nobre de Mendoza, onde nascem os vinhos mais atraentes da região, valendo-se do clima frio desta zona, mais alta, subindo pelos Andes, onde há tesouros em forma de vinhedos antigos, além de tudo.
Esse DNA se reflete em seu caráter mais fresco e frutado, bem fácil de beber, com acidez em notável equilíbrio com os taninos, macios e delicados, mas bem presentes, e o álcool, de 13,5%, que eu julgaria um pouco menos. Tem corpo e estrutura, ao mesmo tempo em que é leve, delicado. Como uma modelo alta, imponente, desfilando graciosa numa passarela; ou uma leoa pronta para atacar a presa.
O vinho fermenta em tanques de concreto, espontaneamente, sem adição de leveduras: sim, natural, mas sem fazer alarde disso. E ganha, assim, a complexidade da natureza.
Tem ameixa (mais fresca que seca), e flores como violeta, afinal não poderia ser um Malbec argentino sem isso. E tem outros caracteres da casta, como aromas de mirtilo, amora e cereja preta, indo para frutas negras mais que para vermelhas. Tem ervas, como tomilho, e um toque de especiarias bem sutil. Senti algo mais terroso, meio Cabernet Franc, que eu juraria ter no mínimo 50%, se fosse às cegas, ainda mais sabendo que se trata de vinho argentino.
Acho vinho tinto perfeito pra churrasco. Não é pesadão, de modo a ofender cortes mais delicados, incluindo a carne de porco e a entranha, que anda na moda, mas tem acidez suficiente para os mais untuosos, como um belo ancho e até mesmo o costelão da Palace, que acompanhou com galhardia. Diria mais: queria com paleta de cordeiro.
Mas, fosse eu escolher alguns cortes, seriam costelinha de porco, entranha, maminha e fraldinha. As peças de javali e pato certamente se sentiriam confortáveis nos braços desse vinho, um Malbec do meu número, como se diz.
Riccitelli é grande. Seus rótulos são provocativos e este, de fato, não é mais um Malbec amável. Ainda que seja um vinho aconchegante e cheio de carinho a oferecer a quem bebe. Mas tem mais acidez, menos açúcar e álcool, e nada de madeira. Só concreto. Mas, não é duro, ao contrário, é macio e… amável… ops…
A safra 2021 deste vinho está à venda no site da Winebrands por R$ 109. Neste link.