Ontem era domingo de Páscoa, e o menu era bacalhau, como é comum no Brasil. Em 17 de abril os argentinos celebram sua principal variedade de uva: é o Dia da Malbec. Os dois coincidiram. E se completaram.
Para marcar a data, abri um belo exemplar da categoria, o Altos las Hormigas Malbec Vale de Uco, que combina três elementos primordiais: fruta e frescor, com boa acidez que redunda em agradável textura, e consequente elegância. Tem taninos finos e fáceis de agradar, macios. Ao contrário da maioria de seus pares, é mais leve, menos intenso na cor e na estrutura, com passagem em madeira de apenas 25% do vinho, por 12 meses, em grandes fuldres não tostados, enquanto os outros 75% fermentaram e amadureceram em concreto. Tem 13,7% de álcool, e um final de boca longo e agradável.
Em termos de aroma, expressa a sua casta muito bem, com notas de frutas negras, como cerejas e mirtilos, incluindo ameixa, e florais, de violetas e rosas secas, além de algo bem característico de seu privilegiado terroir andino, uma mineralidade rochosa, de perfume pedregoso.
Tivesse mais taninos e aromas de amadurecimento em barrica, como muitos de seus pares argentinos e chilenos, o vinho não se daria bem com o bacalhau, uma variação de lagareiro, com muito alho, cebola, tomatinhos e batatas, com abundante azeite e uma folha de louro. Mas ficou bom, com agradável entrosamento. Me fez lembrar um Touriga Nacional do Dão, o que faz muito sentido, porque esta é uma variedade portuguesa que se assemelha à Malbec em vários aspectos. E que vai muito bem, obrigado, com bacalhau, ora, pois. Hermanos e patrícios deram as mãos em harmonia nesta sagrada celebração da vida que é a Páscoa.
Custa R$ 156 no site da importadora World Wine.