Viva a sardinha

A sardinha em traje de gala, no Oteque – Foto de Bruno Agostini

Para início de conversa, um dos melhores pratos do Rio – e do Brasil, por consequência – é o trio brioche-foie gras-sardinha curada, estrela da degustação do Oteque, um restaurante que tenho até dificuldade de descrever, tamanha admiração.

Vestido de quimono, ou melhor, nua e crua, temperado à moda japonesa, no Azumi: das melhores pedidas da casa – Foto de Bruno Agostini

Mesma admiração que tenho pelo Azumi, onde na temporada encontramos a sardinha deliciosamente cortada e temperada em forma de tartare. Sabor marcante, mas cheio de delicadezas, aquela untuosidade. Uma loucura.

Marinada e enroladinha, na Adega Pérola – Foto de Bruno Agostini

Na vitrine da Adega Pérola, ela surge em diferentes versões. Clássicos são os rollmops de sardinha, espécie de picles enrolado do peixe, preso no palito de dente. Aposte também na escabeche, mas não uma escabeche qualquer. Ali, depois de ser empanada, à milanesa, ela ganha o tempero, com pimenta-dedo-de-moça coroando a parada.

À beira-mar, em grande estilo, no Bar Urca – Reprodução do Facebook

Falando em milanesa, foi justamente a foto de três sardinhas à milanesa, com uma cerveja, na mureta do bar Urca, que veio a inspirar este post em louvor da sardinha. Tem lugar melhor no Rio para comer uma sardinha à milanesa?

Com todo o respeito que tenho ao quadrilátero no Centro, conhecido não sei bem por quais razões como “Beco das Sardinhas” (onde há um beco ali?), que tem quatro bares dedicados ao tema, ali conhecido como frango marítimo, pois de fato parece um peito de frango empanado, só que muito melhor, com sabor.

Cantinho das Concertinas, no Cadeg: perfume de Lisboa – Foto de Bruno Agostini

Não podemos esquecer, jamais, do Cadeg, e o seu Cantinho das Concertinas, que esparrama pelo ar o perfume untuoso, aquela coisa cheia de Ômega-3, das sardinhas assando na brasa, como se faz em Portugal, terra das melhores sardinhas do mundo. Aos sábados, o Cadeg tem aroma de Alfama e Mouraria.

Como sempre faz, Cristiana Beltrão contribui para essa lustração na vaidade da sardinha, tão desprezada por nós. Escrevi assim, na tal foto do Bar Urca, que ilustra este post.

“No fundo no fundo, até é bom a sardinha ser incompreendida. Assim, nós que adoramos esse peixinho pagamos mais barato por ele.

Imagine que merda se custasse o preço do salmão.

Na brasa, à milanesa, à escabeche, em forma de tartare, ou sobre brioche e foie gras, ou uma simples pastinha. Eu digo: viva a sardinha!”

“Amo sardinha! E desprezamos mesmo por aqui, já além-mar… Conhece o ditado português: “No dia de São João, a sardinha pinga no pão”? É pista do momento ideal para devorá-las. Ao fim de junho, a sardinha já cresceu e engordou o suficiente para que sua pele se solte com facilidade e sua gordura se espalhe a ponto de molhar o pão. Nos meses subsequentes, vai ficando gorda e enjoativa demais. Justamente por isso, e acredite se quiser, come-se 13 sardinhas por segundo em Portugal, no mês de junho. O dado assustador é do é do Instituto Português de Mar e Terra.”

Pois é. Quando estou por lá contribui com essa estatística muito bem, sem contar as latinhas em conserva que pesam na bagagem.

 

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