Bruno Agostini
O Atelier Tormentas é protagonista na enologia brasileira já tem uns 15 anos, quando seus vinhos vinificados com mínima intervenção começaram a chamar a atenção de especialistas e consumidores. Primeiro no Brasil, depois no exterior. Fazia vinhos naturais quando quase ninguém fazia, e muito menos se falava no assunto.
Desde o início sua uva ícone, maior vitrine deste trabalho, é a Pinot Noir. Sobretudo depois de ganhar o reconhecimento da crítica francesa, que muitas vezes classifica os vinhos feitos com essa variedade por Marco Danielle como dos poucos que se equiparam aos exemplares da Borgonha. Muitos perseguem, e quase ninguém consegue, fazer Pinot Noir nesse estilo fora da França.
– Entrei em uma loja de vinhos em Beaune e um vendedor me mostrou um Pinot Noir do Atelier Tormentas, quando eu disse que era brasileiro. Elogiou muito o vinho, e disse que é respeitado por produtores locais – conta o empresário Miguel de Paula Machado, da Puro Vinho, distribuidor de pequenos produtores brasileiros, como o Atelier Tormentas.
Sugiro visitar a página da vinícola para entender melhor o trabalho deles: clique aqui.
Não sei se um dia será possível encontrar uma garrafa do Nebbiolo 2019 do Atelier Tormentas em Alba. Nem se ele vai bater de frente com Barolos e Barbarescos um dia. Mas, uma coisa a gente consegue ver ao provar este vinho: ele consegue expressar o caráter típico desta casta em sua terra de origem. Consegue ser sedoso e macio ao mesmo tempo em que exibe musculatura em forma de taninos firmes, e sérios, que não estão ali para brincadeira, mas que vão se tornar amáveis com o tempo. A elegância da juventude.
Uma acidez tensionada dá vivacidade, e traz um pouco de frescor, que encontra boa fruta, num festival das berries do bosque, com framboesas, cerejas e amoras, mas também com a nossa jabuticaba se mostrando. Gosto de encontrar pitangas, jabuticabas, goiabas e biri-biris nos vinhos. Puro suco de Brasil.
Podemos sentir isso tudo no perfume ainda tímido, fechado, deste distinto Nebbiolo, mas são aromas que promete se tornar exuberantes, pois nele há também traços de rosas vermelhas, bem como notas que me remeteram a alcaçuz, algo balsâmico. Folhas secas, sous-bois… provavelmente teremos nuances dessa natureza florestal e úmida.
Também sutilmente se mostram traços aromáticos calcários, típicos da Serra do Sudeste, no Rio Grande do Sul, onde estão os vinhedos dessas uvas. Um grafite, talvez, ou rastro de pólvora, eu percebi, de lampejo, caracteres que – eu acho – o tempo vai tratar de exibir com mais evidência.
Eu degustei o vinho almoçando ravióli de pato com molho de laranja, no caldo do assado. Um bom encontro. Vinho bom é aquele gastronômico, que sabe acomodar a comida. Que valoriza a refeição. Podemos pedir com esse Nebbiolo uma massa com molho de cogumelos, um ossobuco de vitelo, um cordeiro assado, um frango caipira com quiabo, bem mineiro, ou um churrasco, bem gaúcho. Um prato de queijos e salames. Vai estar muito bem quem estiver nesta hipotética mesa. Marco Danielle sabe fazer esses vinhos propícios aos encontros e banquetes.
O Nebbiolo 2019 do Atelier Tormentas pode ser encomendado na distribuidora Puro Vinho, pelo WhatsApp 21-98842-7065 (Instagram @puro.vinho).
