Devagar, devagarinho, o Venga cresceu. Em tamanho, mas sobretudo em qualidade. Sucesso desde a inauguração, em 2009, o bar de tapas conseguiu se espalhar pela Zona Sul, mas o mais importante: a comida que sempre foi muito boa hoje está ainda melhor. Passaram a fazer pães (o melhor pão que provei no Rio foi o chamado Cristal: experimentem). E, hoje com quatro casas, o Venga tem um cardápio em cada local (claro que muita coisa se repete, mas cada qual com sua própria identidade). Seja festejando a cozinha praiana espanhola, no Venga Chiringuito, ou explorando uma cozinha mais ampla, de mar e montanha, no Venga Taberna, o grupo realiza um festival mensal de paellas que é um sucesso merecido, na filial de Ipanema, convidando chefs para apresentar as suas versões do arroz que é o prato nacional da Espanha.
(Um parágrafo. Essa crescente evolução é fruto do trabalho incansável do sócio da casa, Fernando Kaplan, que vai anualmente à Espanha visitar bares e restaurantes, ver as novidades e os clássicos, e assim renovar seus restaurantes cariocas. Está de parabéns.)
Estive nas quatro casas no ano passado, e saí muito muito, mas muito feliz. Mas a novidade da temporada está onde tudo começou: naquele pequeno e simpático espaço no Leblon – projeto de Chicô Gouvêia muito feliz esteticamente, por sinal.
Agora se chama Venga La Barra, e é um convite aos amigos se sentarem no balcão ou nas mesinhas altas, para compartilhar tapas e pratos pensados para serem devorados assim: em grupo (ou, no mínimo, em dupla).
Passei um final de tarde delicioso sentado no bar, papeando com os cozinheiros, que finalizam alguns dos pratos ali. Posso dizer que foi sofrido escolher, porque se tem uma coisa que admiro nos menus do Venga é que eles me deixam com vontade de comer de tudo.
Gosto de pedir indicações a garçons, sommeliers e – se possível – aos cozinheiros. O bom de sentar em “la barra” é que fiz isso diretamente com os dois cozinheiros que ocupavam o espaço (simpáticos, mas não anotei os nomes).
– O que vocês me indicam? O que não posso deixar de provar? Uma coisa é certa: quero muito, eu preciso até, do canelone de frango com foie gras, que comi num clássico bar de Barcelona, o Cañete (fiz este post aqui).
– Mas que pergunta difícil. Acho que a mojama é fundamental. O tartare de carne também está muito bom. Tem o mollete de pringá, e a costilla de cerdo – foi a resposta.
Então, segui as recomendações (exceto as costelinhas de porco). Sem deixar de dizer: provem o queijo do tipo etxekoa, produzido na Campanha Gaúcha, um espetáculo (deixe para antes da sobremesa, vai por mim).
Ficou curioso para saber o que é mojama e mollete de pringá? Acompanhe o post.
Ainda mais no verão, sugiro pedir Jerez e brancos para beber, quem sabe uma cava. Eu diria que 80%, 90% do menu é mais adequado a esses vinhos (aliás, ele está nesse link: https://venga.com.br/menu/cardapio_VengaLaBarra.pdf).
Começamos com um Jerez, que escoltou brilhantemente o olhete curado na casa com gaspacho transparente e um toque de pimenta.
O vinho – delicioso Manzanilla, talvez o melhor do mercado brasileiro – acompanhou, ainda, o pincho de tartare de carne, excelente. Preparo de modo simples, com sour cream defumado e picles de cebola, tem sabor complexo, equilibrado, e texturas contrastantes – coisas que um prato deve ter. Imperdível.
Tem sempre umas coisas foras do menu, com essas ostras ao ajo blanco. Delícia. Ainda com o Jerez.
Passamos para um branco fresco e que recomendo – e que não conhecia: o Cora Loxarel, produzido na região de Penedés com as uvas Muscat d’Alexandria e Xarel·lo. Vele dizer que ambos os vinhos são da Belle Cave, importadora que não tem nenhuma bobagem em seu portfolio.
Gosto de uma outras coisa no Venga. Eles são quase sempre 100% fieis à tradição da cozinha espanhola, mas muitas vezes abrem exceções para produtos brasileiros, como é o caso deste prato acima (a costelinha de porco, pra constar, é servida com purê de baroa). O atum – assim como o olhete curado na casa, mas em outro processo, mais delicado – é servido com um romesco preparado com castanha-de-caju. O romesco original, molho típico da Catalunha, e que se come com calçots (um tipo de cebolinha, mas bem maior e mais saborosa) na brasa é feito com amêndoas. Não deixe de pedir. Quase esqueci de dizer: essa é a mojama.
Daí vieram meus dois preferidos. Que coisa mais sensacional é o mollete de pringá. Trata-se de um sanduíche prensado, feito com carne de porco, típico da Andaluzia (neste caso aqui, com queijo). Dos melhores sanduíches do Rio, pode botar fé. Estou escrevendo salivando, e lembrando dos seus sabores: o porco desfiado muito, mas muito saboroso, o pão com a casca tostadinha. Coisa de maluco.
Daí, um prato que quando vi a foto no Instagram me fez ter vontade de correr para lá, e fiquei alguns dias pensando nele até, duas semanas depois, conseguir ir até lá. O canelone de frango com foie gras – que entra no molho. Não consigo descrever, só posso dizer: provem, meus amigos, provem.
Dispensei as sobremesas, porque já não podia comer mais nada. Mas tem torta de queijo, típica do País Basco, que posso recomendar de olhos fechados, pois já provei no Venga de Ipanema. E também tem curros de banana com doce de leite.
Só posso dizer: Vá ao Venga.
SERVIÇO
Venga La Barra: Rua Dias Ferreira 113, Leblon. Tel. (21) 2512-9826. venga.com.br ⠀