Em casa, meu café da manhã é quase sempre leve, com maçã, iogurte caseiro com mel ou geleia, granola e suco de laranja. Às vezes tem uma torradinha com manteiga, um misto quente ou umas fatias de queijo. Quando faço pão eu como por dias, geralmente em forma de torrada.
Mas quando acordo precisando de ânimo (ou quando quero me regalar) e também quando estou em hotel eu gosto de começar o dia com ovo. Ovo me faz bem.
Pode ser mexido ou estalado, pode ser omelete com ou sem recheio. Ovo quente, aquele cozido e com gema mole, para comer de colherinha eu também adoro.
Pode ser uma tortilla, só com ovo, batata e cebola (páprica e pimenta) ou ainda enriquecida de chorizo espanhol (a melhor pedida), linguiça, presunto ou bacon (com morcilla nunca fiz, mas deve ficar incrível).
Quem sabe um croque madame? Porque, convenhamos: se o croque monsieur já é delicioso, imagine o croque madame, com ovo coroando a senhora receita francesa de pão, com bechamel, queijo e presunto…
Ovo, ovo, ovo… Sou devoto.
Mas existem três preparações que são para mim o supra-sumo da alegria matinal: beneditos, shakshuka e rancheros. Um tem origem na hotelaria de luxo, outra no Oriente Médio e a última é uma receita mexicana também popular em Cuba e que se espalhou pelos EUA.
Um excelente lugar para provar as duas primeiras é o Empório Jardim, que chama o shakshuka de ovos marroquinos (também se escreve xacxuca). Para quem não sabe, trata-se de um molho de tomates perfumado por especiarias, virando uma base saborosa e picante para se cozinhar uns ovos que chegam ainda com gema mole à mesa, como convém.
Ovos beneditinos são como carbonara, cacio e pepe, batata frita e ovo estalado, entre outras comidas simples, muito simples, mas que são muito difíceis de se fazer. No caso desses ovos colocados sobre uma torrada (originalmente muffin), com lombo canadense, bacon ou salmão defumado, as dificuldades são duas: fazer um ovo pochê perfeito e também o molho hollandaise, cujo ponto ideal de textura, aveludada e cremosa, é complicado de alcançar, e quase sempre ele desanda, sem se manter com a integridade desejada, se desfazendo. Fica bom até, mas está longe, muito longe, de ser a mesma coisa. A textura é elemento muito importante na cozinha.
Não sei de outros lugares que servem shakshuka, prato que é encontrado do Oriente Médio (Israel e Líbano, principalmente) até o Marrocos, passando pelo Egito – acho que esses são os quatro países onde a receita, com suas muitas variantes regionais, são mais populares. É muito comum na comunidade judaica. Muito fácil de fazer, é uma explosão de felicidade em qualquer hora do dia, mas de manhã acho ainda melhor. Às vezes, uso bacon ou linguiça, o que desvirtua a receita original, mas e daí? Bacon, linguiça e ovo são três coisas que melhoram qualquer receita. Um dia eu postei: “Shakshuka com bacon”. Daí, vem um daqueles malas que a internet deu vos: “Que é isso! Tá louco? Shakshuka não tem bacon”. Óbvio, cara pálida: se tivesse bacon eu não escreveria “shakshuka coim bacon”, mas apenas “shakshuka”. Certo?
Como dizia, não sei de outros lugares no Rio que sirvam o shakshuka (uma pena), mas os ovos beneditos, sim: o do Arp, no Hotel Arpoador, com seu delicioso cardápio de café da manhã servido na varanda com vista para o mar é fantástico, uma experiência sensacional. Fora que é dos poucos lugares no Rio que servem os “huevos rancheiros”, um legítimo PF, que tem algumas variações e é primo do shakshuka, com base formada por molho de tomate picante e ovos estalados, enriquecidos com feijão, queijo, carne moída, bacon, tortilla de milho, linguiça e muitas vezes arroz e avocado. Acho uma delícia qualquer das versões. Nos hotéis dos EUA eu peço regularmente, pena que aqui é raro encontrar (tente fazer em casa, inclusive aproveitando sobras: deixo aqui uma receita: https://www.panelinha.com.br/receita/Shakshuka).
Não sei bem como está a operação do lugar em tempos de pandemia, mas certa vez eu comi “huevos rancheros” fabulosos não muito longe do Arp, no miúdo e bem bom mexicano Azteka, melhor lugar que já fui no Brasil para comer a comida típica do país (não se trata de Tex-Mex). Eles estavam abrindo para café da manhã, era algo assim, e fui lá no esquema brunch, mas acho que já não servem mais o prato. Pensando seriamente em fazer minha versão dos “huevos rancheros” em breve aqui no Quintal do Céu, meu refúgio serrano.
Voltando ao bendito ovo. Nos melhores hotéis, que precisam ter coisas como benedict eggs e club sandwich em seus menus (isso é quase uma convenção internacional do luxo), quase sempre são portos seguros para comer os benditos ovos. Tomar café da manhã em hotel é dessas coisas que a gente merece às vezes. Além do Arp, já provei – que me lembre – versões no Fasano, no Hotel Santa Teresa e no Copacabana Palace. Aprovados.
Tem texto que dá fome ao escrever. Com licença, vou ao mercados comprar ovos.
2 commentários
Só um adendo: temos outro “mexicano de verdade” no Brasil, que é o Metzi, com uma cozinha mais próxima de Oaxaca, com moles é chiles secos em sua preparação. É de um casal de chefs que vieram de um restaurante em Nova York, ele mexicano e ela brasileira, para tentar a sorte por aqui.
Legal, onde fica?