Hoje o Adonis está completando 70 anos.
Depois de renascer das cinzas mais forte e brilhante do que nunca, o que já foi tema de post aqui, a birosca, como gosta de chamar o João Paulo, passou a se chamar Velho Adonis – e eu sempre acrescento, antes: (Bom e).
Fato é que o (Bom e) Velho Adonis completa sete décadas de vida.
Uma casa com DNA português, mas carioca da gema. Um lugar que nasceu com os imigrantes que vieram para o Rio em meados ao longo do século passado. Um bar e restaurante, como tantos da cidade, que é assim: ajudou a moldar o cardápio carioca, e o jeito de ser das biroscas locais.
De perfil completamente diverso, porém também septuagenária, com raízes lusitanas e espírito genuinamente carioca, ou melhor, copacabanense, a Churrascaria Palace veio imediatamente à minha lembrança.
Parece que não, mas há muito em comum entre esses dois endereços.
Todo mundo sabe que o Adonis serve um dos melhores bolinhos de bacalhau do Rio, mas nem toda gente sabe que a Palace também serve estes petiscos, com receita familiar trazida de Portugal. O bamba Moacyr Luz é cliente assíduo dos dois lugares, assim como eu mesmo. Há sardinhas portuguesas no bufê da churrascaria assim como no forno do bar. Posso sugerir, em ambos, que se coma cordeiro. Pode ser a paleta assada longamente na churrasqueira da Palace, ou servida no Adonis em forma de meloso arroz, quase um malandrinho, como diriam os portugueses.
ATUALIZANDO Então, o João me manda, no fim de tarde, a seguinte mensagem, via WhatsApp: “Em comemoração aos 70 anos do bar Velho Adonis, estamos lançando um prato muito comum em Portugal: ARROZ MALANDRINHO, cozido no molho de tomate fresco com polvo, camarão, bacalhau fresco e couve. E foi batizado carinhosamente como MALANDRINHO DE 70, e se não gostar, setenta de novo.”
CONTINUANDO São dois emblemas da cultura gastronômica do Rio, fazem parte da memória afetiva da cidade, lugares repletos de histórias e personagens, endereços queridos pelos cariocas. Famílias frequentam suas mesas há três ou quatro gerações. A Palace tem um quê de boteco (fiz um post aqui), do mesmo modo que a cozinha do Adonis não perde em nada para lugares chique: é um baita restaurante, do mais alto nível. Continuam sendo casas fiéis às suas tradições, mas sabem se renovar (no caso do Adonis, depois que foi comprado pelo João). Fundadas por portugueses, hoje tocadas sobretudo por cearenses, no salão e na cozinha.
Dois lugares tão distintos, mas com várias coisas em comum. Distintos, ainda, no sentido de grandeza, de serem notáveis, eminentes, admiráveis e dignos de atenção.
Porque 70 anos não é pra qualquer um.
Pesquiso e vejo que ainda em 2022 A Marisqueira, em Copacabana, também completa sete décadas em funcionamento: assim como o Adonis, foi fundada em 1952, e que está a umas três quadras da Palace. Tem DNA português, serve bacalhau, sardinha (e até alheiras, como o Adonis). Faz um bom tempo que não vou À Marisqueira. Para ser preciso, desde janeiro de 2012, quando escrevi um post, sobre minha última visita (para ler, clique aqui). Passo sempre na porta, e sei que tem língua a R$ 35 e lulas com arroz de brócolis a R$ 50. Não é no executivo, é de domingo a domingo. O bacalhau é bem cotado, desde sempre, e lembro de ter comido lindo polvo, quando ainda ficavam expostos na vitrine refrigerada à porta os pecados, com vistosos lombos de bacalhau já dessalgados, prontos para serem grelhados, além de tentáculos, lagostas, camarões e peixes diversos. Deu saudades mesmo.
Preciso voltar. Urgente.