ATUALIZAÇÃO: Infelizmente, em julho o restaurante fechou as portas. Uma pena.
Antes a gente descobria um novo restaurante através dos jornais. Mas como ninguém mais lê jornal, nem eu, a informação nos chega por diversos canais.
Aquele WhatsApp do amigo: “Bruno, você tem que conhecer o restaurante tal”.
Ou a foto suculenta daquele cantor que você sabe que tem bom gosto e que não se vende.
O comentário de um colega que entende do riscado, numa publicação que te surge no mesmo dia em que vão aparecendo aqui e ali umas fotos, uns comentários positivos (de amigos e conhecidos com paladar confiável, claro), daí você entra no perfil da casa no Instagram, vê as fotos marcadas no lugar. E diz: tenho que ir logo.
Para dar um último confere, uma espiada na página do restaurante. Um post no Facebook, da própria casa, com fotos de divulgação, e texto falando de si mesma. Imagens apetitosas, lindas mesmo. Dessas que dão vontade de comer. Acredite: porque não basta ser belo, a descrição tem que ser estimulante. Saber dos ingredientes, e imaginar outros não citados.
Ali vi uma barriga de porco glaceada. Depois vim a saber que se trata da barriga de porco cozida 12 horas, com purê de cenoura, molho thay e cogumelos. Depois, entre outras imagens, salivei com a minichurrasqueira de aço escovado com uma carne suculenta (costela de porco no babecue coreano, vim a saber depois). Vi lulas e camarões glaceados, a guioza tostadinha, cujo recheio imaginei ser de porco, e de fato era, com nirá. Um peixe com pele tostada, do jeito que eu gosto: sendo fresco, todos me servem, desde que servidos no ponto. Daí, vi um bao de barriga de porco, carne cortada fininha, pele crocante. O tipo de cozinha que eu adoro. Oriental, com uma pegada contemporânea, onde as porções são pequenas, para que se prove muita coisa. Sim, um bar japonês. Ou izakaya.
Daí que na palma da mão, lendo no celular, eu fui colecionando elementos para querer visitar o novo Moshio Izakaya, em Ipanema.
Tenho apreço antigo por aquele imóvel, derivado de duas casas geminadas no estilo inglês, construídas nos primeiros anos de Ipanema. Frequentei o Alberico’s, onde adolescente comi picanhas memoráveis, e também a pizzaria desprezível que ali se instalou depois do fechamento do bar/churrascaria. Aquilo virou uma feiosa parede. Porém restou metade do terreno. Ali funcionou loja de roupas de grife, com direito a bar Fasano se me lembro bem, ao longo dos anos 2000. Fechou, e abriu as portas de novo há uns cinco anos. Era um restaurante. Chamado Casa. Casa Vieira Souto. Não durou muito, pena. Depois, dei pulos de alegria. Morando pertinho dali, funcionaria no espaço o novo Eleven, de Joachim Koerper, na altura (2017) o melhor restaurante do Rio, pra mim. Fechou no fim de 2017. Lamentavelmente.
E a casa simpática e querida ficou fechada por todo o ano. Soube de ofertas variadas. Pra restaurante pop-up, por exemplo.
Eis que desde janeiro ouço um burburinho. Vão abrir um izakaya. Não que haja tantos, mas desconfio que seja o melhor boteco japonês do Rio, depois da minha visita. Foi uma sequência de dez ou doze pratos, como convém a estabelecimentos do tipo.
Sem nenhuma bobagem. Tudo bem preparado. Com ingredientes frescos. Coisa que tenho apreço (porque amo) e medo (porque é perigoso em locais duvidosos), os pescados são o que há de melhor ali. Comi lagostins crus, coisa que só faço em locais ALTAMENTE confiáveis. Fiquei bem impressionado. E perguntei, assim como quem não quer nada (uma vez que não tinha visto em minhas pesquisas ninguém falar de quem era o chef).
– Porque a comida é tão boa? Estou achando tudo muito gostoso. Que bela novidade. Quem cozinha?
– A chef Juliana Palhares Picorelli é muito boa. Veio do Mee, mas antes trabalhou no Oro, no Eleven e no Olympe – me respondeu o barman.
Aí, tudo começou a fazer mais sentido. São simplesmente três dos melhores restaurantes que já pisei no Rio.
O time, liderado pela jovem chef, é em grande parte egressa do Mee, o que explica a qualidade da cozinha – com destaque para os pescados (naquele já mítico balcão do Copa, sob os auspícios de Kazuo Harada, tive as melhores experiências com pescados nas Américas, só rivalizando com a Itália).
Em tempo: há bons vinhos, mas sugiro investir nos drinques – combinam com esse tipo de comida, e vale conversar com o barman, para falar de suas preferências. Caso contrário, brancos e espumantes. Quem sabe um rosé. Outra coisa, pra adiantar: aposte nas carnes cruas (de pescados, mas também tartare de boi), nas robatas. E sanduíches.
Quem quiser pode ficar só na seção chamada “Snacks”, que abre o cardápio. Ali encontramos: wonton e tempurá de camarão, guioza de porco com nirá, beringela com missô, frango crocante com satay , shitake, quiabo com teryaki, lulas com melado e siracha, costela de porco no babecue coreano, tartare de mignon, aiolli e chips de cará, o siu mai, combinando camarão, porco e palha de alho poró e um tartare crocante de lagostins.
Os preços são bem bons, considerando tudo: a comida, o serviço, o ambiente, a localização. Entradas entre R$ 10 e R$ 42. Principais entre R$ 32 e R$ 59. Sobremesas, de R$ 19 a R$ 28. Fui bem feliz ali, e não vejo a hora de voltar. O cardápio não é grande. Saí de lá sonhando em zerar, provando tudo.
SERVIÇO
Moshio Izakaya: Avenida Vieira Souto 234, Ipanema. Tel. 2267-9282. Para ver o cardápio, clique aqui.