A empada é um dos salgados mais amados do Brasil, rivalizando com a coxinha (e, no meu caso, também com a esfirra). Para alguns, o croquete pode entrar nessa disputa. Dos quatro, o único acepipe legitimamente brasileiro é o galináceo. A empada tem raízes lusitana, a outra todos sabem que é de origem árabe e o último citado é germânico-holandês, mas difundido por toda a Europa (em especial, Espanha – as cremosas croquetas – e Portugal, mas também Itália e Bélgica – neste último caso, geralmente é de queijo.
Daí, lamentando o fechamento definitivo do Mosteiro, que integrou nossa “Seleção Carioca” com “O Melhor do Rio”, publicada em janeiro (para ler, clique aqui), em me lembro de duas das empadas mais fabulosas que comi na vida, em Portugal.
Uma em Évora, no Alentejo, num restaurante clássico local, O Fialho: era outono, temporada de caças, e o recheio que chegou à mesa no glorioso serviço de entradas era com suculenta e desfiada carne de lebre. Inesquecível, inebriante e é a recordação mais forte e saudosa que cultivo ainda de um jantar memorável já há mais de dez anos. E ainda havia um Pêra-Manca branco na taça…
A outra? Podemos falar no feminino, e acho isso curioso. Temos a empada e a empadinha, mas no aumentativo é empadão. Foi numa casa lisboeta e muito portuguesa, com certeza: Solar dos Nunes. Foi o garçom quem ofertou: empadão de perdiz. Como resistir… Também era época de caça, e além da saborosa ave ilustravam o menu um monte delas: lebre, coelho selvagem, javali, veado… Mas o empadão nunca nem o tempo que for vai apagar da memória.
Aí, pensando na gênese portuguesa da empada, eu notei uma coisa. Dos 11 lugares da lista, vários fazem referência a Portugal, nos nomes, nas comidas… Temos o Talho Capixaba (talho é açougue em Portugal), Bracarense (natural de Braga, terra dos fundadores), Pousada da Alcobaça (cidade da Estremadura famosa pelo seu histórico Mosteiro), Leiteria Santo Antônio (posso apostar que os donos têm raízes fincadas lá), Caneco Gelado do Mário (idem), Jobi (tenho certeza disso), além do finado Mosteiro (um restaurante legitimamente português, e que preparava irretocáveis pratos de bacalhau). Já são 7 de 11.
Também desconfio seriamente de que são descendentes de portugueses que tocam O Caranguejo, o Café Gaúcho e o bar Salete.
Isso me fez lembrar de um lugar que faltou na lista das 11 melhores empadas do Rio, e ele entra em substituição ao Mosteiro: a Pão e Pão, em Nogueira, Petrópolis. É um lugar que quase sempre vou quando visito a cidade. Reproduzo o trecho de um texto que escrevi sobre o local, sobre cervejas na serra.
“Além dos croquetes da Casa do Alemão e da Pavelka, e dos bolinhos de bacalhau do Parrô do Valentim e do Recreio, outro bom lugar para fazer uma boquinha antes do almoço, saboreando uma cerveja gelada, é a Pão & Pão, escondidinha em Nogueira, endereço famoso pelas empadinhas de massa delicada com recheios os mais variados, sempre forrados com catupiry. O de berinjela é um espetáculo, assim como o de shiitake e também as fórmulas mais convencionais. Em tempos de enofilia exacerbada e “enochatos” em profusão, empada com cerveja é uma harmonização perfeita.”