Era um encontro secreto. Que começaria pontualmente às 19h30, no número 26 da rua Conde Bernardotte. Nos encontramos no Bar do Claude, que serve de sela de espera. E logo entramos pelo restaurante vizinho, a “casa” do chef. Passamos pela cozinha, que centraliza as atenções, e entramos pelos bastidores. Quando subimos no palco, seis mesas nos esperam, para duas pessoas. Somos 12. Na verdade, uns 20, contando com os demais atores daquela noite: cozinheiros e equipe de serviço. Toca a companhia. O espetáculo vai começar. Mas as cortinas nem abrem. O show está do lado de cá, o cenário é A Mesa do Lado.
De um lado deste cenário culinário e moderno está uma bancada grande, com espaço para quatro cozinheiros trabalharem com folga, e de outro as cortinas felpudas típicas dos teatros. Mas, neste metajantar, nós somos atores e plateia, comensais e espectadores, ouvintes e felizardos. Quem atua de verdade é o maestro Claude Troisgros, seus cozinheiros, garçons e sommeliers.
Havia uma certa emoção no ar, afinal, era o primeiro “ensaio” aberto. O mestre de cerimônias, monsieur Troisgros, se debruça sobre a bancada e observa tudo, com olhos brilhando. Sua história vai ser contada, através de um jantar, cheio de simbolismo, e com repertório de músicas e pratos muito bem selecionada, com impressionante qualidade de som e imagem, seguindo um roteiro muito bem concebido, onde tudo acontece ao vivo. Tudo bem ensaiado e em sintonia: as luzes que iluminam o ambiente devem estar sincronizadas com a música, assim como o preparo dos pratos e o tempo de serviço.
O show começa pontualmente.
– Quem se atrasar perde o primeiro ato, não pode interromper – avisa o chef, visivelmente entusiasmado com o projeto, desde que começou a falar dele, no final do ano passado.
O espetáculo, como uma peça de teatro, divide-se em três atos – e nove pratos. No Primeiro, temos o capuccino de cogumelos, que fez muito sucesso nos anos 2000.
Logo no início, em vídeo muito bem gravado e dirigido, com impressionantes recursos de som e imagem, o chef é projetado, imenso, na parede que serve de tela:
“Essa noite, gente. Vamos viver, ficar feliz, não só com sabor e comida, mas com toda a experiência que vai acontecer agora, nesse momento, que a gente vai viver junto.
É um desejo meu de muitos anos pode passar essa experiência.
Onde a cozinha não é só técnica e sabor, envolve muitos sentidos. Visual, a beleza do prato, do olfato, que tem o cheiro acontecendo numa cozinha: de especiarias, de ervas, de alho.
Tem também o sentido musical, o ouvido. A música faz parte da experiência da gente. gera lembrança, emoção.
E, obviamente, o sentido gustativo, tudo se concentra na boca, o final onde juntamos toda essa energia, essa felicidade.
Vão viver também um pouco de minha vida, minha família, minhas viagens de moto. Quero que vocês se divirtam.
Aproveitem com a gente
Bon apétit”
Um dos pontos altos do menu (ou apresentação) é uma homenagem ao pai, Pierre Troisgros, e uma receita clássica da família, o “saumon à l’oseille”, um escalope de salmão com molho cremoso de azedinha.
O final é feliz, dourado e brasileiro: mil-folhas com chocolate, cupuaçu e uma folha de ouro.
As reservas já estão abertas (a partir do dia 25), e o jantar harmonizado com vinhos brasileiros sai a R$ 1.420 por pessoa. Começa às 20h, pontualmente, e dura 2h20.
– Mas temos um repertório de músicas para o caso de um grupo acabar exigindo tempo maior, porque nunca se sabe, tem o vinho, tem os que interagem mais com os cozinheiros e garçons. Estamos preparados para esses também – conta o chef, ao final de seu ensaio aberto, do qual tive a honra de participar.
A trilha sonora merece destaque no Spotify. Encerramos com Buena Vista Social Club, para todo mundo dançar.
E MAIS
– O Troisgros do Brasil: Claude vai abrir restaurante exclusivo, com apenas 12 lugares, no Leblon
SERVIÇO
Mesa do Lado: Rua Conde Bernardotte 26, Leblon. Reservas neste link. Mais informações no Instagram @mesa.do.lado