A Tijuca é um microcosmo fabuloso, e eu lamento que o carioca da Zona Sul, besta que só, pouco frequente seus bares e restaurantes.
Não sabem o que estão perdendo.
Pra começar, o Mitsuba. O que é aquele lugar? Um restaurante japonês, numa esquina qualquer, que serve entre 20 e 30 tipos de peixe a cada dia. Depende do mercado.
Nas minhas últimas visitas, no almoço, vi como acontece esse processo. Chega a camionete com uns três pescadores vindos de Maricá e outros pontos daquele litoral de águas frias, onde estão os melhores pescados dessas bandas, até a Região dos Lagos. Homero Cassiano, o dono, vai até a calçada, confere o material ofertado, e arremata o filé mignon: lagostas ainda vivas, o pargo que dá seus últimos suspiros e uma seleção de pescados recém-capturados.
Numa dessas, comi um sashimi de cavaquinha, que vi chegar viva à cozinha, e voltar de maneira suntuosa à mesa: na casca, quase que sem tempero algum, prato solene, desses que marcam a vida da gente. Para ler o post sobre esse almoço, clique aqui.
Mas de que adianta matéria-prima de primeira sem cozinheiros à altura?
No caso do Mitsuba, posso chamar de gênio o cara que dá forma aos sushis e sashimis que eu alucino ao comer. Eduardo Nakahara, que não por acaso já ganhou o título de melhor sushiman do Brasil, disputando a final mundial no Japão. Empolgado com a conquista, ele vem se aprimorando tecnicamente a olhos vistos, fazendo composições fantásticas, em termos de forma, conteúdo e sabor, com detalhes no acabamento, cortes de peixe maturados de distintas formas e tempero preciso. São lindos pratos, de formas diversas, de acordo com o peixe: com ou sem pele, nacos gordos, outros finos, uns curados, outros frescos. Uma loucura.
Mas sabe o que é legal? A cozinha do Mitsuba não depende dele. Na minha última visita ele estava de férias, e eu tive mais uma refeição irretocável.
Para começar, a melhor berinjela da cidade (R$ 16), feita com cebolinha e shoyu com um toque de saquê e vinagre de arroz. Sei teor agridoce provoca as papilas gustativas, e esse aperitivo, com um copo de saquê é sempre uma excelente pedida. Peça em dupla com o usuzukuri, com fatias de peixe fresco, e aquela pimentinha que vai ajudar a instigar a boca.
Poderia ficar por ali, no menu de entradas, pedindo gyutan (língua bovina, R$ 29), gyozas de lombo suíno (R$ 26, cinco unidades), shimeji na manteiga e outros petiscos japoneses, porque uma boa casa do ramo também não deixa de ser um bom izakaya, boteco nipônico que anda na moda. Quem sabe uma porção de uni (ouriço, R$ 69).
Vamos em frente, explorando o que acaba sendo o principal objeto de desejo para quase todos que vão a um restaurante japonês: os sushis e sashimis.
Para beber, o saquê Hakushika, em embalagem longa vida, vendido em taça (R$ 37 e R$ 140 a garrafa de 720 ml), é pura felicidade.
No prato de sashimis variados (foto de abertura do post), havia xaréu, serra, pargo, atum e salmão.
Na rodada seguinte, hirame-ponzu, um delicado sushi de linguado com shoyu cítrico e shisô.
Em seguida, mais uma rodada de duplinhas, dessa vez com barriga de atum e pampo-amarelo.
Poderia pedir para encerrar o delicioso katsu-udon (R$ 48), o lombo suíno à milanesa, com ovos mexidos acebolados e molho adocicado, servido sobre arroz. Quem sabe, o tempurà misto, de camarões e vegetais (R$ 76). Mas prosseguimos nos crus, em menu montado pelo sócio da casa, Homero Cassiano, que está sempre por lá. Sabe tudo o assunto, e vale a pena conversar com eles, pegar as dicas dos especiais do dia (há muitos), do que está mais fresco, o que beber e até boas dicas de lugares para se comer, seja no Rio seja em São Paulo (dicas quentíssimas de endereços orientais). Procure por ele.
Mais um serviço caprichado: dessa vez com sardinha, vôngole e vieira, desses pratos arrebatadores.
Agora vem um trio, com fatias de peixe envolvendo deliciosos recheios: salmão com ovas, xerelete com pesto de shiso e linguado com conserva de cogumelos.
Por outro ângulo.
Ao mesmo tempo foi servida a enguia, um dos meus preferidos em casas japonesas, e na vida, que dispensa comentários, acredito.
Notável é a variedade de pescados. Outro dia, o sushiman Eduardo Nakahara listou nada menos que 24 tipos diferentes: tinha sororoca, cavalinha, xixarro, pargo, vermelho, xerelete, faqueco, olhetecarapeba, marimbá, olho-de-cão, trombeta, remeiro, pampo, baiacu, linguado, robalo, guarajuba, badejo, cavala, bicuda, lírio, miracéu, sardinha, atum e salmão… Fique de olho no menu escrito à mão, atualizado diariamente. Entre os clássicos, temos o unagui acima citado, enguia de água doce; mas há também o anago, enguia do mar. Tem minipolvo, e hookigai, um marisco do Alasca, entre os especiais que estão em destaque no menu de sushi, onde não faltam polvo, manjubinha, sardinha, perninhas de lula, ouriço e pelo menos cinco variedades de ovas, como a marcante porção de tarako, que são as ovas de bacalhau. Raiz de lótus, mexilhão? Tem também… vôngoles, como já mostrado acima, camarão, e uma imensa variedade de peixes, alguns curados e/ou marinados, com temperos precisos.
Sempre saio impressionado, satisfeito e feliz do Mitsuba, das poucas casas que me atrevo a definir como infalível, onde eu não encontro apenas a maior variedade de peixes no Rio, mas também das melhores – em termos de sushis e sashimis, é imbatível. Ali a coisa é séria, muito séria. Tenho amigos da Zona Sul que mostram preguiça de cruzar o túnel para comer. Azar o deles.
SERVIÇO
Mitsuba: Rua São Francisco Xavier 170, Tijuca. Tel. (21) 2264-1232. www.restaurantemitsuba.com.br