O Troisgros do Brasil: Claude vai abrir restaurante exclusivo, com apenas 12 lugares, no Leblon

A mesa de ontem na Churrascaria Palace: o chefão, e o mestre das carnes, Silva, eu, Antônio Saraiva e Danilo Machado, a dupla dinâmica que comanda a casa – Foto de Marcelão Boa-Praça

É muito difícil, fora das ciências exatas, haver algo que seja absolutamente inquestionável.

Não tenho a certeza absoluta, por exemplo, de que Fernanda Montenegro seja a maior atriz brasileira de todos os tempos, embora essa seja a minha opinião.
Mas de uma coisa eu não tenho a menor dúvida: o chef Claude Troisgros é o nome mais importante da história da gastronomia brasileira.
Certo?
Ou alguém pode questionar isso?
Herdeiro de uma das mais finas linhagens de cozinheiros do mundo, deixou o conforto familiar do estrelado restaurante para se aventurar pelo Brasil do final dos anos 1970.
Cumpriu seu contrato com o Rio Palace Hotel, e não voltou para casa, como o combinado com monsieur Pierre Troisgros.
Então se vira, contrapôs o pai.
Assim, na marra, na cara e na coragem, Claude foi pioneiro na exploração de ingredientes locais, tratados com técnicas francesas.
Valorizou nossos saberes alimentares ancestrais.
Trouxe nossas frutas para seu menu confiance.
Botou baroa no aligot.
Fez bourguignon de cupim.
E picles de quiabo.
Babaganuj de jiló.
Chutney tropical.
Lascou dedo-de-moça.
Tropeçou no pé-de-moleque.
Puxou cebola no dendê.
Celebrou a mandioca.
Voilá: caviar de tapioca.
Colocou curry no praiano Biscoito Globo.
E banana caramelada no cherne.
Pupunha no camarão chinês.
Farofeiro define.
Aderiu ao picadinho e à feijoada.
À caipirinha, ao limão e à pinga.
Lançou crêpe-suflé de maracujá, cheesecake de goiaba…
Viajou no cacau da Bahia. E chamou de Tia Bia. Simplesmente uma torta de chocolate.  Com chantilly de requeijão.
Beirando os 50 anos de carreira, passou os últimos 20 deles diante das telas de TV do país, popularizando a cozinha, através de programas descontraídos e bem humorados, e virou fenômeno de público.
E ele não para de aprontar.
Agora, o seu Chez Claude, proposta mais informal, que virou seu xodó nos últimos anos, vai virar um três-em-um. Tem o salão envidraçado, com a cozinha bem no meio, como se fosse teatro. O Bar do Claude, vizinho, com clima de birosca franco-carioca, com petiscos e coquetéis. E agora em breve ele vai criar um espaço lúdico de degustação, com projeções, música e muita arte, para lustrar seus menus autorais que vai desenvolver ali, cheios de conceito, de bossa e de filosofia.
Serão apenas 12 lugares. É “A Mesa do Lado”. Do lado de casa. Chez Claude.
Na mesma Conde Bernardotte, onde abriu o Roanne, em 1982, onde hoje é a Academia da Cachaça, a sua metade esquerda.
Nesta mesma galeria do Leblon, historicamente povoada por importantes teatros, onde sempre há grandes peças em cartazes, com  alguns dos maiores atores do Brasil, o chef vai subir em novo palco: a sua cozinha cheia de brasilidade e amor, com o inconfundível sotaque francês.
É mais que maravilha.
Aguardem as cenas dos próximos capítulos.
Logo teremos o primeiro ato deste enredo culinário que só atesta o que escrevi lá em cima.
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