A foto não condiz com os fatos.
Pela imagem a gente vê que se trata de uma linda pizza. Massa aerada e bem assada, com boa fermentação. A cor do molho diz muito.
Mas o que vemos não consegue traduzir nem de longe o quão espetacular é isso.
Alicetta, uma seja, uma corruptela italiana de alici, aquele peixinho curado que é das coisas mais deliciosas do mundo, com pizzetta, que é o diminutivo de pizza.
Lamento que o alici seja um ingrediente com tantos detratores. Desculpe, mas eu não respeito o paladar de quem não gosta de alici.
– Justamente por esse preconceito, em vez de colocar o alici nas nossas pizzas convencionais, maiores, fizemos uma versão aperitivo – disse-me o Edu Araújo, maestro da cozinha dali, do Café 18 do Forte, do Quartinho e do novo Chanchada Bar – quatro dos melhores lugares do Rio, secondo me.
De todo o modo, só queria dizer que esta foi uma das melhores coisas que comi recentemente. Não consigo sequer lembrar de ter comido pizza melhor (nunca fui a Napoli). Em toda a vida.
Teve uma hora que meu olho marejou de emoção.
Havia um jazz no lounge ao lado.
Um drinque refrescante para bebericar.
Comi com as mãos, como manda a regra da etiqueta do consumo de pizza.
Era uma massa ovalada, com bordas altas e bem assadas, com bonitos alvéolos, quando cortadas – é servida em oito pedaços, na medida para comermos em duas bocadas.
O molho de tomate tem sabor profundo, ligeiramente doce e ácido, com pegada de quem cozinhou até apurar. O alici, em vez de ser acomodado em forma de filés, vem espalhado em pequenos pedaços, dando unidade ao sabor, ao conjunto, de modo que se faz presente a cada mordida. Uma boa mozzarella de búfala dava aquela untuosidade cremosa.
Para finalizar, uma chuva de pimenta-do-reino e de grana padano, pouco usado nesta pizza (na Itália há muita pizza de alici sem queijo, só massa, molho e os filezinhos gloriosos, que também chamo de acciughe, mas nunca de aliche, versão aportuguesada da palavra, que acho feia).
Poderia falar ainda do menu, que me deu vontade de provar por inteiro. Comi um atum de entrada, seguida da pizza e de uma massa com camarões e nduja, aquela apimentado e disforme embutido calabrês, muito bons.
E também dos drinques. Do jazz elegante que rola as quartas. Do serviço, simpático, jovial e eficiente. Do público eclético que ajuda a dar brilho ao salão e à varanda agradável.
Mas, hoje, não: eu quero destacar o trabalho da Alê Sampaio, a pizzaiola que dá show na beira do forno, com movimentos firmes e elegantes, montando, assando e distribuindo as pizzas entre os garçons. Olhando, parece fácil, mas sabemos que não é.
Fora isso, é mais do que raro (eu nunca vi, que me lembre) ver mulheres pizzaiolas.
Tão boa é a pizza que ainda tem esse tempero extra: o empoderamento feminino.
O Pope é pop, a Alê é top.
E, assim, comendo com as mãos e sem grandes pretensões, eu descobri um novo lugar entre os preferidos para estar.
Pope, em Ipanema.
Se ainda não foi, está perdendo seu tempo e dinheiro.
Vai por mim.