Bar Urca: aos 83 anos, uma casa carioca, com certeza, emblema do bairro onde o Rio nasceu

A famosa mureta que se transforma em mesa e imenso banco – Foto de Bruno Agostini®
A Urca é um bairro de muitos ícones.
Cenário da fundação do Rio, em 1565, por Estácio de Sá, tem muitos dos emblemas da História da cidade, além deste marco.
Começando pelo Pão de Açúcar e o bondinho e passando pelo Cassino, é um dos cenários mais pitorescos do Rio, com o quadrado e sua frota de coloridos barquinhos de pescadores.
As canoas: de bobó e de arroz de camarão – Foto de Bruno Agostini®
A vizinhança tem um bar para chamar de seu, um ponto de visita obrigatório tanto para cariocas quanto para os visitantes.
Ali, até chope Brahma no copo de plástico vai bem: porque, com essa vista e essa luz outonal… – Foto de Bruno Agostini®
Claro que eu falo do Bar Urca, e sua mureta privilegiada. Inaugurado em 1939, é um monumento carioca, um endereço emblemático, e que traduz e resume perfeitamente a cultura gastronômica carioca, com suas raízes portuguesas, pratos fartos tamanho família, o acolhimento natural dessas casas de repasto.
O lugar se divide em dois.
Dupla de pastéis, de camarão e de siri, no salão do restaurante, com Compromisso: harmonização perfeita – Foto de Bruno Agostini®
Embaixo, escancarado para uma das melhores vistas do Rio, está a versão bar. Um balcão com vitrine recheada de salgados, um menu de petiscos, cervejas e chopes. Famosas são suas “canoas”, como a de bobó de camarão.

No ano passado, fui apresentado à jovem Camila Ferracioli, de 28 anos, de São José dos Campos (SP). Bacharel em Gastronomia pela UFRJ, fez parte da segunda turma do curso, criado no segundo semestre de 2011 na universidade. Ela mostra maturidade. Cuida da cozinha, das compras e comanda a casa, com graça e simpatia, mostrando talento para, com doçura, comandar uma cozinha com tantos anos de tradição, com menu tradicional. Raro ver mulheres nessas funções em casas com esse perfil, assim como é difícil haver cozinheiros com formação acadêmica.

– Fui a primeira funcionária do Sei Shiroma no Ferro e Farinha, ainda na época das pizzas na praça. Depois, fiquei cinco meses no Lasai, um mês no Ró, da
mãe da Silvinha, a fofa da Inês – conta a chef, se referindo ao vanguardista restaurante vegano de comida crua, de vida muito breve (onde hoje é a pizzaria Ella, do Jardim Botânico, proposta avançada demais ainda para o Brasil, cuja chef é mãe de nossa querida amiga em comum, a Sylvia Braconnot, fundadora da agência Documennta. – Depois, eu já vim pra cá, em 2017. O cardápio já é da casa, tradicional, faço esses controles  operacionais e de qualidade, como as compras, e o gerenciamento da equipe da cozinha. No menu, colocamos o bobó vegano, e o bolinho de bacalhau recheado de queijo tipo Serra da Estrela e linguiça portuguesa – completa ela.
O cardápio de canoas: petiscos nascidos para a mureta – Foto de Bruno Agostini®
A turma compra o pedido, e vai para a mureta, que se transforma em um grande mesão coletivo, ou um banco contínuo, onde todos se debruçam para apreciar o visual. No outono-inverno de luz privilegiada e temperaturas amenas, o show é ainda mais garantido pela natureza, que faz deste um dos fins de tarde mais lindos do Rio. Um pastel de camarão numa mão, um chope na outra, uma roda de amigos, e aquele pôr-do-sol desconcertante, dramaticamente alaranjado.
Bem nutrido é o caldinho de frutos do mar, com abundantes pedacinhos – Foto de Bruno Agostini®
No segundo andar, um pequeno restaurante se converte num dos portos seguros para apreciar a cozinha portuguesa mais característica do Rio, ao  sabor de empadas, sardinhas, bolinhos de bacalhau, caldinhos de frutos do mar e outros acepipes tradicionais. Os pratos fartos de polvo, bacalhau e camarão, sem deixar de flertar com a cozinha brasileira, afinal, este é, sobretudo, um restaurante muito carioca. Temos casquinhas de siri, moquecas e camarões na moranga.
Novidade no executivo: polvo, arroz com brócolis e batatas douradas, com muito alho (peço extra), azeite e a ótima pimenta da casa – Foto de Bruno Agostini®
Meus preferidos são o polvo com arroz de brócolis, que agora faz parte do menu executivo (ou seja, para uma pessoa) e todos os de bacalhau que já posso ter provado ali.
A gente come essas coisas, muito bem feitas, e com fartura, em mesas de onde espiamos a vista, que é mesmo fantástica ainda mais numa tarde ensolarada como a de ontem, típica do fim de maio.
Na mureta do Bar Urca a gente tem certeza de que ainda existe amor no Rio – Foto de Bruno Agostini®
Existe amor no Bar Urca.
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SERVIÇO
Bar Urca: Rua Cândido Gaffrée 205, Urca. Tel.: 2295-8744. Site. Instagram: @barurca 
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