Foi no Lasai, em minha primeira visita. Era começo de 2014, e entre vinhos excelentes que foram harmonizados com o menu arrebatador do chef Rafa Costa e Silva estava uma cerveja, sem rótulo.
“Me diz se você gosta. Essa cerveja é feita aqui do lado, no Humaitá, por uns amigos, que produzem em casa. É uma Belgian Blond Ale”, comentou o chef.
Era a cerveja que seria batizada de Magic Trap, uma Belgian Strong Golden Ale, com potentes 8,5%. E a cervejaria era a Hocus Pocus, que logo se consagrou com uma das melhores, mais inovadoras e respeitadas do Brasil. Infelizmente não me lembro com qual prato ela foi servida, mas curioso que sou, vou procurar as fotos para saber. Este, porém, não é o assunto de hoje.
Quer dizer, em parte é. Quero falar da Alma, uma Out Lager, último lançamento da Hocus Pocus, que conheci hoje, no excelente restaurante Zinho Bier, em Benfica.
Desde que conheci as trapistas e as sensacionais cervejas belgas, toda a família das IPAs, as lambics e as sours – para citar minhas três linhagens preferidas – eu acabei deixando de lado as Lagers (gosto, mas raramente peço). Mas estou repensando a conduta depois de conhecer a Alma. Mas que cerveja!!!
– Ela lembra a Stella, né? – pergunta-me o garçom, enquanto ouvia de mim copiosos elogios à cerveja.
– Em parte, sim. Mas eu achei a Alma mais leve, delicada e elegante, mais saborosa e perfumada. Que me lembre nunca provei uma Lager de que tenha gostado tanto, nem no Brasil, nem na Alemanha ou na República Tcheca, muito menos nos EUA ou Inglaterra. Eles usam aveia na receita, algo muito pouco comum entre as Lagers – respondi, a respeito desta belíssima cerveja, com 44% ABV.
No site da Hocus Pocus ela custa R$ 15, e no Zinho Bier, R$ 26.
– Posso te falar uma coisa? – perguntei ao sócio da casa, Fernando Thomaz, um cara extremamente cuidadoso com o que serve em seu restaurante, dos pratos às bebidas. – Em primeiro lugar, parabéns por ter no cardápio as cervejas da Hocus Pocus, seguramente uma das melhores do Brasil, para mim. E, parabéns também pela precificação. Nunca vi bar ou restaurante vendendo com esses preços, até em loja é raro ver essas cervejas nesse valor (Orange Sunshine a R$ 19 e a Alma, a Magic Trap e a APA Cadabra a R$ 26).
Aliás… já que falamos da Hocus Pocus devo dizer que fiquei FASCINADO pela Orange Sunshine, que ainda não conhecia. Como dizia, fã de IPA que sou, tenho especial apreço pelas New England, mas elas apresentam um pequeno problema, geralmente. Carregadas de lúpulo, o ingrediente mais caro na produção da bebida, geralmente são vendidas a preços muito altos (a lata de 473 ml da Hoppu Sentai, uma NE IPA com 8%, refrescante, perfumada e incrivelmente cítrica e deliciosa, custa R$ 35 no site da Hocus Pocus: não é para qualquer bico, nem para qualquer bolso).
A Orange Sunshine, uma American Blonde Ale com 5%, que tem adição de laranja (R$ 17 no site, a garrafa de 600 ml), cumpre da maneira mais nobre o papel de substituir uma NE IPA, com seu perfume e seus sabores cítricos, e a delicadeza que também vem da utilização de malte de aveia. Ficou uma delícia com a linguiça de costela do Zinho Bier, casa incrível dedicada a este corte bovino.
Bravo, maestros!