Sempre que vou à Churrascaria Palace, em Copacabana, eu cumpro um lento e prazeroso ritual.
Como se estivesse num boteco como a Adega Pérola, começo a refeição com um prato de ostras do Leo, da Fazenda Marinha Rota do Sol, em Florianópolis. Emendo com uma visita ao bufê, onde fisgo o arenque defumado da Damm com maionese de urucum, as sardinhas portuguesas da Ramirez e o salame apimentado da Cancian. Sigo com bolinhos de bacalhau 100% Gadus Mohua e casquinhas de siri de verdade (também catarinenses, trazidas pelo Leo), com azeite extra-virgem Esporão e pimenta da boa (Carolina Reaper, do Fogo Mineiro). Geralmente, antes de atacar o espeto de pirarucu sustentável do Instituto Mamirauá, dentro do projeto Gosto da Amazônia, eu monto meu prato de salada, com caesar, tomate assado do Vale do Formoso (Ronaldo Canha) e burrata Vitalatte.
Então, vou na morcilla da Pirineus. Já com farofa (muitas vezes a versão apimentada com Tabasco) e prussianas no prato, eu vou ao delírio mastigando a barriga defumada com redução de melaço e tomilho e o porco preto, ambos também da Cancian. Gosto de cumprir esta etapa bebendo um bom vinho branca, de preferência português.
Desde a semana passada eu faço isso com uma garrafa do Morgado da Vila Alvarinho 2020, da Quinta da Lixa – que, aliás, acaba de chegar ao Brasil.
Um Alvarinho de excelência e ótima relação qualidade preço (está R$ 220 na ótima carta de vinhos da Palace, cuidada pelo maestro Danilo).
Só depois disso tudo eu chamo o Silva, craque da churrasqueira, e peço para ele escolher as carnes – ela já sabe que entranha, chuleta e ancho estão entre minhas preferidas. Picanha, costelão, prime rib, french rack e paleta de cordeiro, além do sempre saboroso cupim fazem parte de minha lista permanente e histórica de preferências. E, só então eu peço uma sugestão de vinho tinto.
Mas, sempre, sempre, abro os trabalhos com um branco. E, agora, tenho este querido Alvarinho para isso.
(Em tempo: como se pode reparar, este vinho é classificado como Regional do Minho, e não da região do Vinho Verde. Isso porque até muito recentemente, Alvarinho, ali, só poderia ter este nome no rótulo, com a denominação, se fosse de Melgaço e Monções, mas a regra acaba de mudar).
Amanhã eu já volto lá. Você também deveria, ainda maus nesse calor: um salão refrigerado, um Alvarinho refrescante e acepipes marinhos… Porque, como sempre digo, a Palace é muito mais que uma churrascaria. Vai por mim… Só sei que hoje, novamente, este vinho brilhou. Desta vez, na mesa lusitana do infalível Rancho Português, na Lagoa. Escoltou com elegância, profundidade e mineralidade o arroz de bacalhau, dando ainda perfumes cítricos e sua exuberante acidez bem marcada, dando tensão e intensidade ao prato. Harmonia pura. Encantamento. Alvarinho.