Bastardo: adjetivo. Segundo o dicionário, significa “gerado fora do matrimônio; adulterino. 2. que se degenerou; que não é puro (em relação à espécie a que pertence).”
Tem sinônimos como adulterino, espúrio e ilegítimo.
É uma palavra, no mínimo, com conotação pouco positiva. Isso, em se tratando de lexicografia.
Quando falamos de enologia podemos usar outras referências para tratar desta palavra, que batiza uma uva que pode ser classificada como difícil e temperamental, que pode ser ácida e ríspida, rascante e pontiaguda, imatura e amarga.
Porém, quando bem cuidada, nos sítios em que se sente bem, ela se transforma, e ganha a pureza de um balaio de frutas frescas, de amoras e mirtilos a morangos e framboesas, como um passeio em um bosque úmido.
É o que acontece com o Séries Bastardo 2017, da Real Companhia Velha, que produziu só 3.200 garrafas desta joia do Douro, diferente de quase tudo o que se faz na região. As uvas são da Quinta das Carvalhas
Pura delicadeza, frescor, profundidade, maciez e elegância. Um vinho intenso e instigante. Delicado, repito. Mesmo com seus 14,5% de álcool – muito bem integrados, sem nada sobrar em termos de estrutura e textura, sem encobrir as frutas e flores que compõem o buquê aromático. (O vinho é importado pela Barrinhas).
(Aliás, a linha Séries merece um post à parte, com vinhos muitos especiais, de tiragem limitada, feitos com uvas mais raras, em processos experimentais – incríveis, por sinal: veja aqui o site do projeto).
Sua cor é clara, tons de cereja, e exprimem a sua real delicadeza, o que é característico da Bastardo – que na França é chamada de Trousseau, tradicional variedade tinta do Jura, que faz vinhos esplendorosos (como este Bastardo do Douro). Inclusive, para deixar muito claro a quem não sabe, a própria vinícola informa que
Real Companhia Velha faz real enologia moderna, essa que busca a fruta, o frescor, a delicadeza, a expressão do local – para que, sendo verdadeiramente real, vai também ser ideal: para a mesa, para o brinde e para, descontraído, beber no quintal. Exalto seus taninos, que têm a firmeza capaz de estruturar o líquido ao mesmo tempo em que deixa uma camada aveludada, confortável e elegante na boca.
Os goles descem gulosos, sedentos por algo untuoso para se comer, mas não muito. Fui de ancho, porque estava no Esplanada Grill, e a escolha foi certeira.
Era só uma tarde de quinta-feira. Mas, não vou me esquecer dela.
(No site da importadora, hoje, dia 16/10/2023, o vinhos – safra 2018 – custa R$ 419,99: neste link).
Quem ficou com vontade e não quer esperar o vinho chegar tem que ir até o Esplanada Grill, um dos poucos, senão o único, restaurante onde podemos encontrar essa preciosidade.
Outra possibilidade é ligar para o amigo Pedro Bleuler (21-99547-2342), da excelente WoodsWine, loja com excelente seleção de vinhos, com variedade, qualidade e preço: #naoepubli
#vaipormim