Micro: uma receita original que combina Itália com América Latina, com foco na coquetelaria

Sangrita, feita com tequila, cajuína e especiarias: os drinques da casa são gastronômicos – Foto de Bruno Agostini®

São dois italianos. Um é bartender e outro, chef de cozinha. Uma equipe jovem e simpática os acompanha. Trabalham em um ambiente despretensiosamente charmoso, com mesinhas na calçada, um pequeno bar e um salão de poucas mesas, com agradável trilha sonora.

 

O salão do Micro, é pequeno como muitos da cidade – Foto de Bruno Agostini®

O Micro é pequeno mesmo, mas nem tanto, no aspecto físico. Porém, quando o quesito passa a ser coquetelaria e comida, o lugar se torna grande, e até indispensável, porque serve uma receita original, que não encontramos por aí, muito bem executada: um cardápio bem preparado e uma carta de drinques para se combinar com as receitas – prove sempre as guarnições que coroam os drinques, foram bem pensados. Acerta a cozinha, acerta o bar, e também eles, nas indicações.

Pude ver isso outro dia, quando gastei algumas horas ali. A casa diz que faz uma cozinha ítalo-sul-americana, o que faz sentido.

Tendo espinha dorsal (e autores) europeus, busca referências no nosso continente para montar um menu enxuto, com poucos pratos, bem variados drinques e uma boa execução da proposta, onde encontramos boas ideia e referências.

Tem chips de banana que me remetem aos patacones colombianos, pasteis de camarão com vatapá que levam à Bahia, e ceviche de cogumelos que tem algo de Peru e outro tanto de Itália, país onde crescem muitos desses fungos comestíveis que são referência no assunto (o nobilíssimo porcini, por exemplo). Esses na página de entradas do menu.

Já na folha seguinte, o lugar assume seu lado italiano totalmente, com algumas massas, como como ravióli de mozzarela al burro e sálvia e papardelle ao ragu. Mas, percebemos um sotaque brasileiro nas receitas. A primeira tem baroa e castanha-de-caju na sua fórmula enquanto a segunda é feita com cupim.

Salada marinha harmonizada com o coquetel perfumado – Foto de Bruno Agostini®

Só que, até agora eu ainda não falei do que provei. Comecei com a Sangrita, feita com tequila, cajuína e especiarias. Refrescante, ideal para a noite extremamente quente de sexta, quando a sensação térmica no Rio chegou a incríveis 58 °C em alguns lugares.

Depois, pedi uma salada de frutos do muito bem ajustada de sabores, leve e refrescante, com folhas, polvo e camarão, incrementada com rabanete, um creme ácido de amendoim e batata-doce, esse ingrediente tão andino. Recomendo moer pimenta na hora, usando a que fica à mesa, do seu gosto, e mais um pouco de azeite, quem sabe? Delícia, que foi harmonizada com os excelentes drinques criados por Nicola Bara, cujo sobrenome é praticamente seu ambiente de trabalho (tem passagens pelo SubAstor, ganhou concursos, faz consultorias etc). O coquetel tem Aperol, manjericão, cordial de manga com pimenta malagueta (xarope caseiro) com toques de maracujá, limão e pitaya e se chama Hey, Mamma! Innamorato Son!.

Dupla dinâmica: polvo com vatapá, adornados por farofa de coco e couve – Foto de Bruno Agostini®

Já o prato que encantou e que seria capaz de me levar lá, feliz, muitas e muitas vezes. Era o polvo e vatapá, incrementado com couve ligeiramente tostada e farofa de coco. Bati o olho nele e não tive outra possibilidade de escolha. Eu, que sou um dos maiores fãs desse molusco, logo sorri ao ver os tentáculos com suas ventosas, tostados, o que traz sabor e textura. Não é fácil fazer assim. O purê baiano de camarão, dendê, leite de coco, pimenta malagueta, caldo de pescados e pão estava muito bom de sabor e textura. Elogiei.

– A gente usa ele também no pastel de camarão – me diz a gerente, Clara Trindade, que sabe orientar muito bem os pedidos, fazendo boas sugestões de harmonização.

No copo, um drinque de bonita cor rosada: Estate Romana, combinação de grappa infusionada em framboesa, gim, xarope de romã, maçã verde, Peychaud (um bitter), finalizado com aquela espuminha de clara de ovo, típica do Pisco Sour, por exemplo.

Nem falei ainda do responsável pela comida: Tobia Messa. Conheci e logo apreciei muito, a sua cozinha, no Flor do Céu, restaurante no alto da Chácara do Céu, lá no Alto do Vidigal, com linda vista do mar, comida deliciosa e uma programação musical com jazz (tem, às vezes, no Micro também) etc que torna tudo mais agradável e chique. (Para ler o post, clique aqui)

Ah, sim, tem os doces, que são apenas dois, no momento: torta de chocolate com castanha-de-caju (a tradicional, na Itália, se chama caprese, e é feita com avelãs ou amêndoas) e tiramisù, que é a sobremesa mais importante do mundo, secondo me.

Neste microcosmo, a Itália dá um bonito abraço no Brasil.

Prove, no fim, o limoncello da casa, delícia de encerramento, como é popular na Itália.

Por fim, já ia me esquecendo de dizer, até porque o que foi dito até agora é bem mais importante: o Micro está em seu segundo endereço. Era Micro Bar, agora é Micro Gastro, mostrando mais atenção à cozinha. Nasceu no Leblon, e no fim do ano passado migrou para o Condado de Cascais, que tem alguns lugares que muito aprecio, começando pela taquería Dos Perros, e passando pelo já histórico Ettore (ambos já resenhados aqui: clique nos links nos nomes), além da tentadora Nanica, especializada em banoffee, o que fazem muito bem.

SERVIÇO
Micro: Condado de Cascais, Rua Helios Seelinger 100, loja B, Barra. Tel.: 98020-9465. Instagram: @microgastro

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