Semana Santa chegando, aí todo mundo fala de bacalhau e de pescados.
No primeiro caso, sempre estivemos bem servidos, com nossos abundantes restaurantes e botecos de raízes portuguesas.
São tantos os lugares que recomendo sem medo de errar, como o Adegão Português, histórico restaurante de São Cristóvão, e o Rancho Português, novato da Lagoa de DNA paulista, outra casa infalível.
Além de outros endereços excelentes mas com menor fama, como a Tasca do Marquês, no Aerotown,…
… e o Canto Alegre, duas grandes descobertas que fiz em 2021, sendo que o segundo, na Barrinha, é um clássico carioca, fundado em 1968, ali no mesmo local. É dos poucos lugares a manter a tão lusitana tradição de preparar o bacalhau em altas postas na brasa. Fica espetacular. #vaipormim
Também curto as tascas do Leblon: a Sardinha, com notável bacalhau à Brás, a Miúda, com seus “bacas”, e o Boteco Rainha, e sua Princesa, a mais fina nobreza da cultura alimentar luso-carioca, onde há punhetas, bolinhos, lagareiros e arrozes.
E a ipanemense Mercearia da Praça, especialista no quesito, como o citado trio do Leblon, destaque em reportagem aqui.
E também lembro do Farrapos, em Copacabana, bar de vinhos cuja cozinha é muito bem comandada pelo português Pedro Freitas, craque do bacalhau.
Não posso esquecer, jamais, da dupla nascida do fim do Antiquarius, comandada por ex-funcionários:
O Entreamigos, na Barra e em Botafogo, e o Gajos d’Ouro, de Ipanema, da mesma turma do Ora, Pois, na Sernambetiba.
São tantos e tantos outros endereços queridos que têm no bacalhau celebrada especialidade: o Bar Urca, para começar a lista, um dos mais velhos dessa venerável lista, fundado em 1939, isso mesmo, há 83 anos.
E o que dizer do imortal Adonis, a Fênix de Benfica? A birosca de esquina, endereço lendário da gastronomia carioca, reabriu ainda melhor e mais glorioso, pelas mãos do João Paulo Campos, ex-Antiquarius, agitador figuraça da botecagem carioca.
Essa seleção carioca não poderia, jamais, em qualquer hipótese, deixar de lembrar do Cadeg, vizinho ao Adonis, templo do bacalhau, o melhor lugar do Rio para comprar o peixe salgado, aliando alta qualidade ao melhor preço, o que todo mundo sabe.
E dos mais indicados para comer também: tem o Barsa, do craque Marcelo Barcellos, o Cantinho das Concertinas; onde rolam as festas minhotas que começam nas manhãs de sábado;…
…e a Gruta do Bacalhau, para mim o melhor bolinho do Rio, recheado com queijo de ovelha cremoso, tipo Serra da Estrela. É servido assim, partido, com o queijo a escorrer, finalizado com azeite, azeitonas e salsinhas: chega a ser sublime.
Ainda na área de influência da comunidade portuguesa de São Cristóvão, Benfica e arredores, debaixo das tribunas de São Januário está o restaurante Almirante, cuja especialidade é o bacalhau, naturalmente, também o apelido da torcida cruz-maltina. Uma ótima pedida, mesmo para rubro-negros, como eu.
Faz tempo que não vou nem n’ A Marisqueira nem no Alfaia, redutos lusitanos de Copacabana, mas sempre vou na Adega Pérola, onde traço bolinhos e saladas de bacalhau.
Tenho sangue português. Sou capaz de ir longe por bons bacalhaus, obviamente. Na Ilha, tem a incrível Petisqueira Martinho. E seguindo para além da Tijuca, a Adega Duas Nações, o Rei do Bacalhau do Encantado, No Centro, fico lembrando dos bons momentos vividos no Rio Minho.
Bom programa é cruzar a ponte de barca, para comer bacalhau na Gruta de Santo Antônio, e também no Seu Antônio.
Fora os ibéricos do Leblon, como o Alvaro’s e o Degrau, e os do Centro, o Fim de Tarde e o Málaga, os dois irmãos espanhóis da Rua Miguel Couto, todos experts em bacalhau (e pescados, de modo geral). No Fim de Tarde eu destacaria a fritada de bacalhau, e a Cangalho, com lombo crocante, sem esquecer da parrilada a Rías Baixas, onde divide o protagonismo da chapa com camarões, tentáculos de polvo, lulinhas, e cavaquinhas aos pedaços. Não posso esquecer também da Adega do Cesare, em Copacabana, no Posto 6, da mesma linhagem.
Falando nisso, o Venga faz excelente Pil-Pil, e tem até paella de bacalhau com chorizo espanhol da Pirineus, de exemplares embutidos ibéricos avermelhados de páprica picante. Arriba!!!
Não posso me esquecer da Palace, churrascaria não de raízes gaúchas, como todas, e sim portuguesas, de Arouca, onde sempre me entrego aos bolinhos de receita familiar. E à salada com grão-de-bico com bacalhau, com pimenta forte e azeite alentejano extra-virgem, da Esporão. Na Páscoa teremos menu especial com muito bacalhau, com certeza.
Até o Sardo entrou na roda. Vai servir menu pascualino em quatro etapas bacalhoeiras, como diriam em Lisboa.
Escrevi assim, para o Instagram da casa italiana de São Cristóvão:
“Nem todo mundo sabe, mas há vários pratos de bacalhau na Itália, em diferentes regiões. Temos o baccalà alla romana, com batata e tomate, e o alla livornese, de Livorno, no litoral da Toscana, por exemplo, também parecido com o primeiro.
O baccalà, como se escreve por lá (ou stoccafisso), é receita popular na região do Vêneto, onde são preparados dois clássicos da cucina italiana. Um famoso antepasto local é o baccalà mantecato, que é um preparo com a carne desfiada e cremosa, geralmente servido sobre polenta crocante.
Outro é o baccalà alla vicentina, cuja guarnição geralmente também é a polenta.
Na Páscoa, de sexta a domingo, teremos um menu especial de bacalhau. Com vicentina como principal.
Antes, vamos servir salada de bacalhau e nhoque.
Com direito a sobremesa, custará R$ 150 por pessoa.
Reservas e mais informações no 21-98299-0988, com o chef Silvio Podda.”
Há outros italianos que exploraram essas receitas. O grande Renato Ialenti, da Mamma Jamma, faz impecável mantecato, que provei no Alloro, agora sob os cuidados do seu compatriota e craque da cozinha italiana, Michele Petenzi, que cozinha muito, igualmente.
Fora o Bota, mediterrâneo carioca, se é que me entende, onde estive na semana passada, e comi lindo bacalhau. À moda portuguesa (para ler, clique aqui).
Já estava eu, injustamente, me esquecendo de dois fantásticos preparos: a punheta de bacalhau do Dom Luiz, na Cobal do Humaitá, loja de vinhos e deli, casa familiar, que faz a receita carinhosamente, e o Pavão Azul, que tem insuperáveis pataniscas de bacalhau, gordas lascas empanadas em ovo e farinha, fritas perfeitamente. E o Troisgros, que faz irreverente bolinho de bacalhau, empanado em Sucrilhos?
Pensando aqui: só me faz falta mesmo uma boa e caseira empanada de bacalhau, quase que um empadão, prato típico da Galícia, preparado em celebrações como a Páscoa e o Natal. Uma dessas delícias esquecidas. Se pedirmos, acho que o povo do Fim de Tarde, galegos legítimos, faz…
E não posso deixar de dizer: estou há alguns meses trabalhando como embaixador da Quinta da Lixa, vinícola portuguesa da região dos Vinhos Verdes, no Minho, com rótulos muito bons para serem apreciados com bacalhau, como esses que aparecem em tantas fotos, o Guigas, o Compromisso e também o Morgado da Vila. Porque tenho, por conta disso, passeado por muitos e muitos endereços lusitanos, como tantos desses citados nas reportagem. Em quase todo, você vai encontrar esses vinhos. Recomendo a harmonização.
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