Meu sobrenome evidencia minhas raízes italianas. Talvez por isso eu ache a Itália o país mais incrível e delicioso do mundo.
De longe, minhas viagens mais incríveis foram para lá. Incríveis, deliciosas e memoráveis. Das muitas que fiz, duas estão acima da média, e foram as melhores experiências que tive nesse contexto turístico; o Piemonte, na temporada das trufas (se puder, vá ao menos uma vez na vida viver esse espetáculo da gastronomia) e a Sardenha, há pouco mais de um ano.
Se o Piemonte tem trufas brancas, a Sardenha tem a bottarga; se o primeiro tem Barolo e Barbaresco, o segundo tem Cannonau e Vernaccia (para ler um post sobre um cardápio regado a este branco delicioso, clique aqui). Em comum, uma gastronomia que une mar e montanha como talvez não exista igual em outros lugares do mundo. Pra mim, não tem.
Se quando estive em Alba viajava sozinho, na Sardenha tive um raro privilégio: um dos meus companheiros de viagem foi o Silvio Podda, da Casa do Sardo, em São Cristóvão. Sem formação formal, é dos melhores cozinheiros que já conheci na vida, e olha que o número é consideravelmente grande, podem imaginar.
Nos nossos 10 dias por lá, conheci quase que toda a sua imensa família, e muitos de seus amigos. Daí, eu entendi porque ele cozinha tão bem. Parece que todo o sardo cozinha muito bem. Impressionante como comi maravilhosamente bem, todos os dias, de manhã até a noite. Nas casas dessas pessoas, ou nos restaurantes. Em lugares caros, ou baratos. Pescados os mais variados, mas também cordeiros, leitões, queijos, embutidos.
Eu não teria palavras para agradecer a oportunidade de ter vivido isso. Há coisas que não têm preço, e eu deixo a vocês a preciosa dica: se puder, visite a Sardenha. Nem vou tratar do assunto praia, que é um capítulo á parte: a ilha tem algumas das mais belas do mundo, e sua costa leste é destino de turistas que viajam em barcos, desfrutam de resorts lindos e movimentam a região nos meses de verão. Minha praia é outra, e meu negócio não é ficar no mar nem exposto ao sol, mas comer. E a Sardenha é um lugar que mexeu comigo profundamente, para onde gostaria de voltar sempre que possível – o Piemonte também. Não existem outros lugares que me apeteçam tanto, e que tanto me fazer querer voltar. Nem Paris ou Nova York, nem Tóquio, nem Roma, Lisboa, Lima, Londres, Barcelona ou Buenos Aires – para citar alguns dos destinos preferidos.
Tudo isso, fui breve, tinha muito mais a dizer, para deixar uma sugestão: a Casa do Sardo está entregando comida no conforto de sua casa, e poucos restaurantes eu indico com mais ênfase e entusiasmo do que este.
Num momento de crise tão estranha quando essa, como já andei escrevendo, é hora de ajudarmos a manter nossos lugares favoritos funcionando. Mantendo minha quarentena na serra, morro de saudades do cardápio do Sardo. Foi um dos lugares que mais visitei nos últimos tempos, e onde sempre comi e bebi magnificamente.
Sejam coisas aparentemente simples, como o trio composto por bottarga em fatias, aipo e azeite; seja a lagosta grelhada; seja o leitão assado (foto da capa), seja o ravióli de paleta de cordeiro.
Carpaccio de polvo, peixes assados no vinho branco Vernaccia (ou cordeiro marinado nesta belezura de bebida), o pecorino, os pratos com fregola e massas as mais variadas, com peixes e frutos do mar, ou com carnes e queijos. Escrever me faz salivar, e me bate uma saudade sem tamanho.
Silvio está com várias sugestões harmonizadas com vinhos da Sardenha, e seus cardápios extrapolam a ilha, passeando por outras regiões da Itália. Da Padaria do Sardo ele te manda pizzas diversas, com preços bem atraentes (outra vantagem de seus restaurantes, bem como de uma visita à Sardenha, onde come-se muito bem, como já disse, e barato. As individuais, com 25 cm, sabem por entre R$ 26 e R$ 39).
Entre os combos propostos, tem lasanha à bolonhesa com vinho Monica (uva local) da Argiolas, dos grande produtores da ilha, cujos vinhos acompanham essa coisa de custo-benefício típico das iguarias da Sardenha. Sai por 85 – numa boa, uma pechincha sem tamanho.
Para a Semana Santa o restaurante está servindo dois menus especiais (de verdade). Um chamado “Terra”, com cogumelos e queijo de cabra, de entrada; leitão assado com batatas (esse leitão é a glória), ravióli de cordeiro e semifreddo de chocolate com pimenta (R$ 98) – vinhos sugeridos: Cannonau di Sardenha Locoe (R$ 98) ou Mammuthone (R$ 150), dois vinhaços cujos produtores tive a oportunidade de visitar.
O outro cardápio, “Mare”, tem carpaccio de polvo com pães da casa; cherne ao Vernaccia e talharim nero ao molho também de cherne, com tomate cereja. Para encerrar, semifreddo al limone. Mesmo valor: R$ 98. Para beber, as sugestões são Vermentino ou Nuragus (R$ 150, a magnun) ou os espumantr Bacio della Luna (R$ 70). A sugestão da garrafa magnum me fez lembrar de um ditado inglês: uma garrafa magnun (1,5 l) é perfeita para um casal, desde que um não beba.
Por isso, amigos, eu vos digo. Nesses tempos tristes de quarentena, ontem e sempre, a Casa do Sardo é uma das melhores pedidas no Rio. Vai por mim.
O Silvio é Podda.
SERVIÇO
Casa do Sardo: R. São Cristóvão 405, São Cristóvão. Tel.: (21) 2501-9848. http://restaurantecasadosardo.com.br/